Depois de uma imersão na Universidade de Harvard, quando já acumulava capital em torno de R$ 1 bilhão, o empresário catarinense Ricardo Faria, fundador e presidente do conselho da Granja Faria, sediada no município de Lauro Müller, SC, acelerou investimentos no setor de ovos. Entre aquisições e investimentos próprios, acaba de somar produção de 16 milhões de ovos por dia no Brasil, o que reforçou o título informal de “Rei do ovo”.
Continua depois da publicidade
Siga as notícias do NSC Total pelo Google Notícias
Apesar de ter negócios em todo o país, incluindo outras empresas, ele se dedica ao associativismo, como presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav). No dia 30 de agosto, participou em Florianópolis da abertura do 14° simpósio técnico do setor, que discutiu prevenção à influenza aviária e, depois, deu entrevista à coluna sobre a atuação da Granja Faria no Brasil e no mundo.
Nascido no Rio de Janeiro, Ricardo Faria veio para Santa Catarina quando criança porque o pai médico e a mãe engenheira vieram trabalhar em Criciúma. Fez intercâmbio nos Estados Unidos e cursou agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Daí partiu para o mundo dos negócios. Em 2017, era acionista majoritário da Lavebras, lavanderia industrial com mais de 70 unidades no Brasil. Vendeu essa empresa em 2017 por R$ 1,3 bilhão e partiu para um novo negócio promissor.
Continua depois da publicidade
Atualmente, reside em São Paulo para facilitar a liderança de uma empresa com atuação nacional. Os pais, já aposentados, seguem em Criciúma e as duas irmãs, uma médica e outra dona de cartório de imóveis, também moram em SC.
Nesta entrevista, além de falar sobre os negócios em si, Ricardo Faria também comenta sobre a importância do ovo como alimento e cita tese do Bill Gates de que cada pessoa deveria ter uma galinha para as crianças serem mais saudáveis.
Questionado pela coluna sobre como consome ovos, ele disse que segue conselho de nutricionista e consome uma média de 60 unidades por mês. Saiba mais na entrevista a seguir:
Como a Granja Faria chegou na liderança da produção de ovos no Brasil?
– Primeiro, a gente teve a visão do segmento, que era super pulverizado. Em 2017, eu vendi uma rede de lavanderias, a Lavebras, uma empresa relevante cuja sede era aqui em Santa Catarina, em Videira, para o grupo francês Elis, e fui para Harvard para dar uma espairecida.
Continua depois da publicidade
Quis voltar para academia e entender um pouco o que estava acontecendo, afinal de contas, eu tinha saído da escola há pelo menos 20 anos. Sou engenheiro agrônomo, me formei em 1997 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Então, exatos 20 anos depois, eu tinha acabado de vender a minha empresa, uma lavanderia Industrial.
Nós lavávamos, por exemplo, uniformes, lençóis, roupas de hospitais, roupas de hotéis, roupas de frigoríficos. Nós tínhamos 70 lavanderias e consolidado o segmento no Brasil. A ideia era justamente buscar um tipo de ócio produtivo, e eu fui para Harvard.
Mas eu tinha vendido um negócio grande aqui e um monte de gente aqui ficou me oferecendo um monte de coisa. Eu vi no segmento de ovos uma oportunidade, porque o meu negócio sempre foi consolidação, pegar algo muito pulverizado e aí comprar várias empresas, juntar sob uma mesma cultura e fazer daquilo um negócio grande.
E eu vi essa oportunidade no segmento de ovos, um segmento com vento de cauda, ou seja, o consumo de ovos vinha crescendo bastante no Brasil, na faixa de 5% ao ano e várias pequenas empresas. Num primeiro momento, em seis meses, eu comprei cinco granjas, em lugares diversos, marcas regionais.
Continua depois da publicidade
E aí, depois, a gente foi consolidando até que, no início deste ano, compramos uma granja grande no Espírito Santo (a BL Ovos, que era a quinta maior empresa do país) e viramos líder nacional. E agora, mais recentemente (em 28 de junho), compramos uma empresa maior, a Granja Katayama, marca líder no estado de São Paulo e, aí, sim, atingimos a marca de produção de 16 milhões de ovos por dia. Para essa produção, temos um plantel com cerca de 20 milhões de galinhas.
O senhor começou a empresa depois de retornar da Universidade de Harvard?
– Não! Em 2007, quando eu ainda era proprietário da Lavebras, eu montei uma granja de produção de ovo fértil, essa que produz o pinto de um dia. Eu tinha esse negócio de ovo fértil, era pequeno, bem de nicho. Mas a gente conhecia bastante da produção de aves. Tínhamos uma equipe de veterinários, uma equipe de originação de grãos, importante, mas um negócio pequeno.
O que a gente fez, a partir de 2017, quando eu me desliguei da Lavebras, foi fazer desse negócio pequeno, um negócio com uma escala maior, um negócio grande, com expressão nacional. Hoje, a gente é líder em pelo menos 10 estados do Brasil, dentre eles São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Qual é o faturamento estimado da Granja Faria para este ano?
– Nosso faturamento será R$ 3 bilhões este ano, e ela vai crescer 60% em relação ao ano passado.
Continua depois da publicidade
Nesse desafio do risco da gripe aviária, qual é a maior preocupação de vocês?
– Não digo preocupação, o termo é mais grave, acho que é paranoia. É não deixar ela entrar. Eu tive a oportunidade, no meio da crise da gripe aviária nos Estados Unidos, de pegar um voo e ir para uma pequena cidade no Colorado para ver como é que era isso aí, porque tem coisas que não adianta falar. Tem coisas que a gente tem que ver, cheirar, sentir, é um negócio maluco. O plantel é dizimado em semanas.
Então é aquela máxima de não sujar o metrô, não deixar a primeira pessoa jogar o lixo no chão. É a mesma coisa com a gente, dentro das nossas granjas. Não pode nem deixar pensar desse negócio entrar lá em uma das nossas propriedades e nem nos nossos vizinhos então. Além da gente se cuidar, temos que ajudar o vizinho, fazer com que ele esteja bem e tenha cuidado também.
As empresas que o senhor lidera estão investindo quanto este ano?
– A gente tem um outro negócio, que é a Insolo. Somos um importante produtor de grãos, plantamos 205 mil hectares no Mato Grosso, Tocantins e Piauí. Mas, nas duas empresas (Granja Faria e Insolo) a gente investiu perto de R$ 1,5 bilhão, mais ou menos R$ 500 milhões na Insolo e R$ 1 bilhão na Granja Faria.
Parte da produção da Granja Faria também é exportada?
– A Granja Faria é a maior exportadora de ovos do Brasil. A gente tem em torno de 15% da nossa receita advinda da exportação. Os ovos férteis, a gente manda de avião para o Oriente Médio, em vários países, como como a Arábia Saudita, Emirados Árabes e Omã. Também mandamos de avião para a África, para o Senegal e Costa do Marfim e, na América Latina, para o México.
Continua depois da publicidade
Os ovos de mesa, os ovos comerciais, a gente manda de navio, já que o valor agregado é menor. Por exemplo, para Taiwan e para o Japão, a viagem leva 45 dias. A gente resfria esse ovo rapidamente, numa temperatura -20º C, ele fica 24 horas nessa temperatura resfriando todo o ovo.
Depois a gente embarca em contêineres refrigerados a 2º C de temperatura. Isso faz com que a vida útil dele possa atingir até 90 dias. Então a gente manda para Taiwan, para o Japão, para Dubai, ou seja, para diversos mercados, o ovo fresco.
Também existe um mercado importante no Brasil de exportação que é o ovo industrializado. Nós estamos desenvolvendo, por exemplo, agora, por uma empresa muito conhecida de ketchup e, principalmente, maionese, no Japão, uma gema salgada. A gente produz a gema, faz a salga aqui no Brasil, congela e exporta.
Quer dizer que agro congelado para exportação não está restrito a carnes?
– Vai o ovo também. Mas carne congelada vai a menos 20º C. O ovo, por ser um produto líquido, para não perder as suas características, eu preciso chegar perto de 0º, mas não atingir o 0º, e isso exige uma tecnicidade superdesenvolvida.
Continua depois da publicidade
Esses embarques para o exterior saem por portos catarinenses?
– Também. Boa parte do nosso ovo fértil é exportado através das granjas de Santa Catarina. Eu tenho um exemplo muito bacana aqui do Estado. Quando começou a gripe aviária, um dos primeiros países a serem afetados foi a Alemanha. E aí os alemães só aceitavam ovos férteis de um estado do Brasil, por conta da característica sanitária, justamente Santa Catarina. Nós exportamos pelo aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), mas as granjas que produziam esses ovos eram aqui de Santa Catarina, das cidades de Orleans e Erval Velho.
Então, com essa produção gigantesca vocês garantem a proteína diária de milhões de brasileiros?
– O Bill Gates (fundador da Microsoft) tem aquela tese de que se cada habitante do mundo tivesse uma galinha, a capacidade e o potencial cognitivo das crianças seria muito maior porque o ovo é a segunda melhor fonte de proteína, perdendo apenas para o leite materno.
E como a criança não tem como ficar consumindo leite materno depois de um certo tempo, seis meses em média, porque a mãe moderna precisa trabalhar, fazer outras atividades, se cada habitante tivesse uma galinha, na tese do Bill Gates, a capacidade cognitiva das crianças seria maior e o mundo seria mais produtivo.
Em países como o Japão, por exemplo, a campanha é comer dois ovos por dia. O Brasil ainda está caminhando para ter um consumo de um ovo por dia. Nós saímos, há 20 anos, de um consumo médio de 90 ovos por ano para, no ano que vem, um consumo de 265 ovos por ano.
Continua depois da publicidade
O Brasil vem numa grande evolução em relação ao consumo dessa proteína, mas o ideal é que esse consumo aumente para, pelo menos, um ovo por dia. E agora que a gente chegar em um ovo por dia, a gente vai caminhar para dois ovos por dia, como no Japão.
Quais são as propriedades saudáveis do ovo que o senhor destacaria?
– Além de ser um alimento extremamente rico em proteína – para você ter uma ideia, a clara de ovo, sob forma de pó, tem 83% de proteína -ele tem muitas propriedades que melhoram o sistema imunológico também.
Seria o ovo uma proteína mais democrática em função do preço ou outros fatores influem também?
– Uma pergunta importante. Ovo foi, no passado, a proteína das classes menos favorecidas. Hoje não é mais, as pessoas querem se manter saudáveis, querem viver mais, querem ficar mais bonitas, para isso vão para academias. Então, o ovo vem entrando na dieta dessas pessoas que vêm buscando uma vida mais saudável.
E um grande fato que vem acontecendo no mundo hoje é que as pessoas têm substituído o leite pelo ovo. Eu sou uma pessoa que gosta de praticar muito esporte. Mas a gente vai ficando velho, começa a ficar cansado aqui, cansado ali.
Continua depois da publicidade
Então, faz uns seis, sete anos, eu fui procurar uma nutricionista e ela perguntou: “Ricardo, como é a tua dieta?”. Respondi que, ao acordar, eu tomava um litro de leite. Ela disse: “Ricardo, animal com dente não pode beber leite, tem que comer ovo!”
Essas coisas começaram a me chamar a atenção. Por exemplo, eu substituí pão por ovo de manhã, substituí o leite por ovo como fonte de proteína. Então, o que aconteceu e o que vem acontecendo é que, sim, lá atrás, o ovo era uma proteína das classes menos favorecidas, mas hoje não é mais.
O ovo, hoje, é um produto mainstream (de tendência dominante). É uma categoria que movimenta mais de R$ 30 bilhões por ano nas gôndolas do supermercado. E hoje nós não temos só os ovos naquela caixa nos supermercados.
Tem o ovo selênio, o ovo ômega 3, o ovo orgânico, o ovo caipira, o ovo vermelho, o ovo branco, ou seja, existem vários preços e vários tamanhos. Tem embalagem de 30 ovos, embalagem de 20 ovos, de 12 ovos, de 10 e até embalagem de seis ovos.
Continua depois da publicidade
Então, o ovo abriu o seu espectro e está muito alinhado aos novos hábitos e à vontade do consumidor. Apesar disso, continua sendo uma opção de proteína de preço mais acessível que outras.
Publicidade
Além de muita informação relevante, o NSC Total e os outros veículos líderes de audiência da NSC são uma excelente ferramenta de comunicação para as marcas que querem crescer e conquistar mais clientes. Acompanhe as novidades e saiba como alavancar as suas vendas em Negócios SC
Leia também:
Domenico De Masi falou em vídeo ao Brasil quinta, no evento do Lide, e citou Lula
Lummertz e Ivete falam da convivência com De Masi, que gostava de contar a vida em horas
Limite ao Bolsa Família unipessoal pode afetar 119 municípios de SC
PIB de SC cresce 4,2% em 12 meses e fica acima da média nacional
Aporte da Melver na JB3, em Florianópolis, inaugura nova norma da CVM