Enquanto algumas redes varejistas tradicionais do Brasil quebraram nos últimos anos, o iFood registrou alta procura e o perfil dos investidores da bolsa brasileira B3 mudou. Esses são impactos do empoderamento feminino, que avança rápido no Brasil com destaque para o empreendedorismo. O alerta é do consultor das áreas de varejo e digitalização empresarial Romeo Busarello e foi feito em palestra para empresários promovida pela Associação Catarinense de Supermercados (Acats), na última quarta-feira (24).
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– Muitas empresas do varejo quebraram porque não estão lendo esses sinais de mudanças. Elas não estão captando novas tendências, mudanças de hábitos dos consumidores. Por exemplo, nós temos 10,3 milhões de mulheres empreendendo no Brasil (dado do IBGE de 2022). Isso muda completamente o comportamento de consumo – afirmou Busarello.
Segundo ele, as pessoas estão trabalhando muito e nesse grupo dos cada vez mais ocupados estão homens e mulheres. Aí chegam em casa e preferem não cozinhar, optam por comprar alimentação pronta.
Essa vida moderna e estressada afetou também a saúde das mulheres, observou o consultor. Em 2006, de cada 10 infartos registrados no Brasil, nove eram masculinos. Hoje, 4 são femininos e 6 masculinos. Novos estilos de vida.
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Na avaliação dele, esse empoderamento feminino mudou também as famílias. Do total de pessoas que se casaram entre 2000 e 2014, hoje 32% estão separadas, segundo o IBGE. Antigamente era diferente.
– A gente vai ter monogamia seriada. Eu tenho dois filhos: um de 18 anos e um de 20 anos. Eles não vão casar e ficar 70 anos com a mesma esposa. Vão casar-se por 15 anos, o casamento será um sucesso, vai para o Guiness e eles partem para outra relação estável. As nossas nonas (avós) não tiveram essas mesmas oportunidades porque não estavam expostas. Estavam em casa. Hoje, num evento como este (palestra na Acats) tem 50% de mulheres. Quando elas estão mais expostas, as tentações são muito grandes para ambas as partes. Isso encurta relacionamentos. Não é que eu que estou achando. Falo com base na estatística do IBGE – detalhou Busarello.
Entre os exemplos de mudança de comportamento feminino no Brasil, o consultor cita a rede Magazine Luiza. Segundo ele, hoje os dois produtos mais vendidos lá são leite condensado e papel higiênico (numa loja de eletrodomésticos e móveis). Isso significa que a mulher não tem mais tempo para ir ao supermercado e compra onde o preço é mais acessível.
– A mulher está mudando completamente os padrões de consumo, não só no Brasil, mas também no mundo. O iFood é reflexo disso, porque elas não têm mais tempo para cozinhar. Além disso, as mulheres estão ocupando cargos mais estratégicos, ganhando mais. Ainda falta muito, mas está na agenda a equidade salarial de gênero e 50% de cargos de liderança para elas, embora isso ainda não esteja avançando muito – observou ele.
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Para Busarello, a mulher com dinheiro, distribui de forma diferente o consumo se compararmos com o homem. Ela destina mais recursos para autocuidado, educação dos filhos, viagens, alimentos mais saudáveis. Quanto a fazer poupança, elas também começam a imitar os homens.
– Mulheres com renda alta tem um letramento bom de finanças pessoais. Consomem mais sapatos, é claro, mas têm um cuidado com o dinheiro (poupança). Tanto é que hoje, 48% dos investidores da bolsa são mulheres. A B3 tem, atualmente, 5 milhões de investidores. Isso muda o mercado – destacou Busarello.
Diante de tantas mudanças e tendencias novas, não dá para as empresas usarem mapas do passado para os negócios, observou o consultor. Questionado sobre quais mapas devem ser usados, disse que são vários.
– Primeiro, tem que ter coração de estagiário. Se você não tiver essa inquietude intelectual, você não consegue entender esses novos tempos, ler sinais. Em segundo lugar, é preciso ‘levar os olhos para passear’. Você não vai ter ideias extraordinárias em torno de 1 bilhão de ideias ordinárias. É preciso viver em ambientes extraordinários. O supermercadista não tem que olhar o que o Angeloni e o Koch estão fazendo. Deve olhar o que o Boticário e a Droga Raia estão fazendo. É preciso olhar para setores correlatos – recomendou.
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Catarinense de Rio dos Cedros, Romeo Busarello tem mais de 42 anos de atuação como executivo nas áreas de marketing, ambientes digitais e inovação em empresas do Brasil e multinacionais. Também trabalhou na China.
Há poucos dias, ele abriu portas de empresas de São Paulo para missão de SC liderada pelo presidente da Acats, Alexandre Simioni. O grupo de supermercadistas catarinenses foi ‘levar os olhos para passear’ numa imersão para conhecer negócios disruptivos de empresas que atuam no varelo, incluindo negóciosde e-commerce e chocolates.
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