Um dos renomados professores de empreendedorismo da Universidade de Stanford, na Califórnia, EUA, Bret Waters, está em Florianópolis desde quinta-feira. Veio pela primeira vez ao Estado e vai ministrar neste sábado, na Acate, um workshop sobre metodologia do Vale do Silício para ter sucesso com startups e outras empresas inovadoras. A iniciativa é da 49 Educação, de SC. Segundo Waters, o primeiro passo para ter êxito com uma nova empresa é entender profundamente o cliente. Ele falou com exclusividade para a coluna. Confira.
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Muitos dizem que Florianópolis é o Vale do Silício do Brasil. O que o senhor encontrou de semelhança aqui com o Vale do Silício?
Eu fiz um projeto em Stanford sobre tendências em inovação no qual entrevistei 100 empreendedores. Foi nesse trabalho que ouvi falar do ecossistema de inovação do Brasil e ouvi falar que Florianópolis era conhecida como o Silicon Valley daqui.
O que a cidade precisa para se projetar mais como polo de tecnologia?
Vou falar o que, na minha visão, faz o Vale do Silício ser o que é. Primeiro: tem um clima bom. Isso atrai as pessoas e Floripa tem bom clima. É similar. Outra coisa que atrai as pessoas são boas universidades e sei que a cidade tem boas universidades que atraem estudantes com ideias novas. E um negócio que é da cultura do Vale do Silício, é que as pessoas quanto atingem o sucesso gostam de reinvestir, elas têm o desejo de devolver para a sociedade o que elas tiveram, não só financeiramente, mas intelectualmente, suportando a garotada que vem com essa pegada de inovação. Se Floripa seguir esse caminho, vai chamar atenção e fortalecer seu ecossistema.
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Neste sábado o senhor vai ministrar um workshop sobre empreendedorismo em tecnologia. Quais são os passos necessários para abrir uma empresa de TI e ser bem-sucedido?
O segredo do sucesso de um negócio é oferecer algo de acordo com a demanda do mercado. Por isso há o Product Market Fit. Algumas poucas pessoas conseguiram trazer o mercado para o seu novo produto. Um foi Steve Jobs. Mas isso é uma exceção. Como fazer isso é um dos pontos principais desse workshop de sábado. Nessa linha de como empreender bem, gosto de citar o meu exemplo. Por volta de 2000 eu consegui US$ 5 milhões para uma ideia de produto. Aí contratei 50 engenheiros de software para fazer o produto que eles imaginavam que seria o ideal para o mercado. Quando lançaram o produto, viram que não tinha oi Product Market Fit, ou seja, não era o que o mercado necessitava. Em resumo, gastei o dinheiro dos investidores quando, na verdade, deveria ter investido em mais pesquisa de mercado para entender mais o meu consumidor, só depois iniciar a produção. Como eu cometi esse erro, tenho paixão por ensinar para que outros empreendedores não cometam o mesmo erro.
Antes de abrir uma empresa é preciso testar no mercado?
O empreendedor, quando tem uma ideia, se apaixona por ela. Mas o primeiro passo necessário é entender profundamente o cliente.
Como escolher bem os sócios?
Encontrar o cofundador, o sócio, é uma tarefa muito difícil. É como encontrar uma esposa ou um marido. Mas é importante começar um “namoro” para ver como evolui. É comum também quando os sócios se juntam para fazer um negócio estarem em momento diferente de vida. Eu já tive uma experiência importante. No começo da minha carreira eu estava correndo atrás de dinheiro, encontrei um cofundador que parecia perfeito porque tinha uma boa situação financeira e parecia uma coisa boa. Mas não deu certo porque eu estava trabalhando milhares de horas e ele estava quase parado. Por isso só a experiência é que vai dizer.
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O senhor fundou três empresas de tecnologia. O que destaca dessas experiências?
O mais importante do empreendedorismo é o time que você forma. Um time ruim para uma solução perfeita para o mercado, vai fracassar essa solução. Um time perfeito, com uma solução não tão perfeita, terá êxito porque vai trabalhar para a empresa dar certo. Numa empresa que vendi ano passado, a Tivix, eu tive um time perfeito. Quando olho para traz hoje, me dedicando somente à vida de professor, o que sinto falta é daquele time da Tivix. Contratar as pessoas certas é muito difícil.
Saber o momento de mudar rapidamente o negócio ou seja, pivotar, é fundamental?
Sim. Todas as grandes empresas que a gente vê hoje pivotaram. A ideia inicial do Youtube era ser um site de namoro, do Uber era ser um táxi com a frota própria de carros, a primeira ideia do Instagram era ser um site de localização, do Twitter era um podcast chamado Odeo e o Slack, que é uma ferramenta de gestão interna, era uma empresa de videogame. Todas falharam na ideia inicial, mas foram em frente e alcançaram o sucesso.
Entre os seus alunos que se tornaram empreendedores está uma empresária que fundou o e-commerce Farmgirl Flowers. Pode falar sobre esse negócio?
Eu quero falar para a Christina Stembel, fundadora da Farmgirl, que eu estava no Brasil e uma jornalista me perguntou sobre o que a empresa dela faz (risos). A Christina participou de programa accelerate da Startup da Universidade de Stanford e não conseguiu investidores. Então ela desenvolveu sozinha a empresa que hoje fatura mais de US$ 30 milhões por ano. O que é curioso é que ela tentou mais de 100 vezes fazer reuniões para achar um investidor no Vale do Silício. Ouviu muitos “Nãos”. Num momento ela se perguntou: será que eu estou recebendo muitos “nãos” porque são investidores homens e, na visão deles, eu não estou apta para tocar o negócio? Eles eram homens de negócios e ela era apenas uma garota vendendo flores. Agora eles ligam para ela dizendo que está há hora de eles investirem e ouvem: não, obrigada! Quando ela começou, focou num tipo de flor com o menor preço. Pensou que o mercado seriam homens comprando para as namoradas. Depois, viu que eram mulheres para presentear amigas e outras pessoas e que não eram sensíveis a preços. Elas queriam variedade para presentear. Ela foi uma empreendedora hábil porque mudou rápido, de acordo com a demanda do mercado. A grande lição da história de Christina é que a primeira ideia quase sempre está errada e o que precisa é adaptar o negócio rapidamente para ter sucesso.
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Um dos desafios do Brasil é melhorar a educação. Como usar mais a tecnologia para isso?
Hoje, tudo o que você precisa saber está nas suas mãos, ou no telefone ou no computador. Num tempo passado você precisava ir para a aula para aprender as coisas, por exemplo, como fazer um fluxo de caixa. O que as escolas ainda não ensinam ou deveriam ensinar daqui para frente são as chamadas soft skills, que são habilidades ligadas a comportamento, ao profissional ser um resolvedor de problemas, um tomador de decisões. A educação tem que ir nesse sentido, aí está a maior demanda.
Sobre o workshop:
O professor Bret Waters veio a convite da 49 Educação para ministrar o workshop “Launch your startup”. Para interessados em participar, ainda há vagas. O evento será na sede da Acate, no Passeio Primavera, neste sábado, dia 14 de setembro, das 9h às 19h. Inscrições no site www.49educacao.com.br