Uma das duas companhias do mercado mundial que oferecem automação total para indústrias de confecções – a outra é francesa -, a Audaces, de Florianópolis, Santa Catarina, deu um novo passo ao lançar um sistema 4D inédito. Com tecnologia tipo metaverso, a nova solução permite criar num avatar peças-piloto, expor na pré-venda de uma loja virtual e só executar a produção caso o novo produto desperte alto interesse aos consumidores.

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Cofundador da Audaces, o empresário Claudio Grando revela que as tecnologias da empresa, presentes em mais de 70 países, ganharam força com a pandemia. Segundo ele, pela primeira vez na história da indústria têxtil e de confecção, graças a sistema digitais, foi possível aos profissionais do setor trabalhar de casa como se estivessem na empresa porque estavam conectados.

– Com essa plataforma colaborativa 5.0, a gente possibilitou que todos os nossos clientes conseguissem trabalhar da maneira como trabalhavam antes, só que com as pessoas em endereços diferentes – explicou o empresário.

Foi justamente durante as restrições da Covid-19 que a multinacional  mostrou que é possível ganhar velocidade com tecnologia de indústria 5.0, que combina sistema digitais com o trabalho criativo das pessoas. Fundada em 1992 por Claudio Grando e Ricardo Luiz Delfino Cunha, cientistas da computação graduados na mesma turma da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Audaces é uma multinacional com matriz em Florianópolis e filiais em Palhoça e em Rovereto, Trento, na Itália. Oferece ao mercado sistemas para a parte criativa e equipamento para corte de tecidos com precisão. Quase 50% dos clientes da empresa são do exterior e 30% do faturamento vem de fora do Brasil.

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– Nossa equipe é composta por 220 colaboradores e, desses, 80 atuam com desenvolvimento para tecnologia de hardware e software. Temos doutores e mestres em matemática e física. Desenvolvemos tecnologia básica. Temos também pessoas para a área de inteligência artificial e, é claro, muitos estilistas e modelistas, pessoas formadas em moda que trabalham com o pessoal de P&D para desenvolver nossos produtos – explica Grando.

Esses diferenciais têm permitido à empresa crescer acima da média, acompanhando clientes do setor que, no Brasil, além de favorecidos pela pandemia, também contam com câmbio favorável à produção local. Após registrar resultado estável em 2020, em 2021 a receita da empresa cresceu 30% e este ano deve repetir esta média de expansão.

Audaces, Divulgação
Audaces participou na feira Texprocess, em Frankfurt, Alemanha, no fim de junho (Foto: Audaces, Divulgação )

Uma das estratégias da Audaces para expandir atividades agora foi a retomada da participação em grandes feiras internacionais ao setor têxtil e de moda, que voltaram a ser presenciais em 2022. Acaba de apresentar em junho na Texprocess, em Frankfurt, Alemanha, a solução exclusiva de integração de software e hardware, o Audaces360; no fim de maio esteve na Simatex, de Buenos Aires, Argentina; e, em agosto vai export na Febratex, em Blumenau, SC.

Tendências dos mercados

A presença da Audaces nos diversos mercados globais dá a seus executivos uma ideia do momento atual e tendências do setor de moda. Claudio Grando afirma que a pandemia mudou o movimento das cadeias globais do setor. Em 2020, quem produzia localmente cresceu e as grandes magazines que fabricavam na Ásia perderam mercado. Por isso a busca de fornecedores mudou e, agora, o mercado dos EUA oferece grande potencial para as empresas brasileiras.

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– O Brasil poderia ser um grande fornecedor de moda para os Estados Unidos nesse momento. Eles estão procurando uma alternativa a Ásia. Nós deveríamos nos candidatar. Eles destruíram o setor de moda próprio e estão tentando trazer de volta, mas é difícil porque precisam formar toda a cadeia têxtil de novo. Então, nesse momento, são um mercado com oportunidade gigantesca. A nova geração quer novidade, por isso é preciso produzi com mais velocidade, estar perto do mercado para criar – explica o empresário.

A propósito, o prazo de entrega é um dos fatores mais cruciais para o setor de moda e é o que a tecnologia ajuda a acelerar. Conforme Grando, quanto mais perto da venda a empresa consegue produzir suas coleções, mais assertividade vai ter nas criações e mais retorno em receita conseguirá. Na avaliação dele, a digitalização atual permite criar e entregar uma coleção em até 60 dias inclusive no exterior, como nos EUA e Europa, o que coloca a indústria de SC e do país nessa condição.

Para o cofundador da Audaces, a indústria de moda de Santa Catarina é uma das mais modernas, competitivas e sustentáveis do Brasil. Está preparada para atender melhor os mercados da Europa e EUA, tanto com marcas próprias, quanto por private label, isto é, produção e criação para marcas de outras empresas.

– As indústrias têxteis e de moda de Santa Catarina já praticam ESG (preservação ambiental, responsabilidade social e governança) há muito tempo. A grande maioria é extremamente responsável do ponto de visa ambiental. Reduz o consumo de água, seja na produção de tecido ou na peça pronta. E quem trabalha aqui tem condições dignas de trabalho. Nossa indústria e a mais responsável do Brasil e uma das mais responsáveis do mundo – assegura o empresário, ao enfatizar que também é a mais empregadora do Estado.

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Ecossistema forte na moda

De fato, o Atlas da Competitividade da Indústria Catarinense, lançado em maio deste ano pela Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), reforça que o setor têxtil, de confecção, couro e calçado é o maior empregador do setor industrial catarinense. Fechou 2020 com 161.281 postos formais em 2020, segundo dados da Rais.

Também é o maior exportador de confecção do Brasil, com 37% do total. No mercado interno, é o segundo maior fornecedor de moda, atrás apenas de São Paulo, confirmam dados de 2019 divulgados no Atlas.

Entre as indústrias que conseguem aproveitar todo o potencial tecnológico da Audaces está a R.C. Conti, de Brusque, dona da marca de lingerie noite Mensageiro dos Sonhos, que fabrica cerca de 500 mil peças/mês. De acordo com a fundadora e CEO da empresa, Rita de Cássia Conti, a automação trouxe muitas vantagens.

– Nossa empresa tinha algumas demandas em relação a agilidade e qualidade. Com o sistema da Audaces, nosso setor de corte foi totalmente automatizado. Chegamos a ter perto de 30 pessoas, hoje são cinco ou seis, com o dobro de capacidade e margem de erro de 0,02%. Foi uma grata satisfação ter aberto nossa empresa para ser piloto da Audaces nesse projeto de automação – disse Rita Conti.

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A JC Martins, empresa de confecções da cidade de São Paulo é outra usuária da tecnologia Audaces, satisfeita com os resultados. O empresário Charles Martins explica que com a tecnologia é possível ter aproveitamento melhor dos tecidos.

– Conseguimos saber quanto de tecido vamos usar para a produção antes de comprá-lo. Não tem risco de o corte das roupas ficar fora do fio. Sai tudo mais rápido, com mais qualidade – destaca Charles Martins.

A exemplo de outras empresas de tecnologia, a Audaces oferece contratos sob demanda, com pagamento mensal para o uso de softwares, o que contempla inclusive marcas que produzem pequenos volumes.

Além disso, o mercado oferece opções para prestação de serviços de corte automatizado. Um exemplo é a FIP, feira permanente de moda, de Brusque, que conta com 200 lojas. Ela adquiriu um Audaces360 para atender as empresas que atuam no centro comercial.

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Considerando as tendências pós-pandemia e o câmbio, que tem se mantido alto no Brasil, a expectativa é de que o setor de moda seguirá com alto nível de atividade, tanto em SC quanto no país. Pelos desafios impostos ao setor para produzir com criatividade, baixo custo e velocidade, a digitalização será cada vez mais presente nas empresas do setor.