O governo e o setor privado chineses tentam administrar a crise da segunda maior incorporadora imobiliária do país, a Evergrande, de Hong Kong, que não está conseguindo pagar dívida de US$ 305 bilhões. A expectativa é que ela não vá provocar uma crise financeira mundial, mas deve reduzir o ritmo de crescimento da construção e do Produto Interno Bruto (PIB) do gigante asiático. Para o Brasil, isso significa impacto negativo na economia devido à queda de preço do minério de ferro e redução de exportações do produto. Mas para SC, a princípio, o problema não causa perdas diretas porque o Estado exporta mais carnes aos chineses, que estão comprando menos, mas por outro motivo.
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O endividamento da Evergrande afeta bancos, detentores de títulos da empresa, clientes, fornecedores e até um clube de futebol, o GuangZhou Evergrande. Embora o país seja uma economia centralizada, o governo chinês sinalizou que os bancos terão que arcar com os prejuízos. Há o temor de que essa crise afete todo o setor imobiliário chinês. Os analistas internacionais avaliam que o problema mostra o fim do longo fôlego de décadas da economia da China de crescer acima da média mundial impulsionada pela construção, setor que responde por quase 30% do PIB do país.
Após dois anos de elevadas compras de carne suína brasileira e catarinense devido à crise sanitária interna causada pela peste suína africana, a China começou a pressionar pela redução de preços há dois meses e a reduzir as aquisições do produto. Segundo o presidente da Aurora Alimentos, Neivor Canton, isso não está ligado à crise imobiliária, mas com o fato de que a suinocultura local está retomando atividade. Ele diz que os preços ao produto brasileiro já caíram cerca de 50% em dólar e que as agroindústrias de SC estão buscando outros mercados para colocar a produção.
Consultor sobre a economia chinesa, o empresário catarinense Henry Quaresma, explica que a Evergrande não gera crise global porque a dívida é toda em moeda local. O problema é que eles têm financiamentos com bancos das províncias do país. Mas ele avalia que a construção civil já rendeu o que tinha que render para a economia da China e que o governo do país está fazendo um esforço para reduzir grandes oligopólios. Então, ele acredita que a Evergrande vai ajustar suas dívidas, mas ficará num tamanho menor.
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Com economia diversificada e alta participação do setor de tecnologia, o cenário para a economia chinesa era de crescimento elevado nos próximos anos antes da crise imobiliária. No primeiro trimestre deste ano, o PIB do país cresceu 18,3% e no segundo, 7,9% ambos frente ao mesmo período de 2020. O problema na construção pode inibir parcialmente essa aceleração.
Caso a expansão econômica chinesa entre em menor ritmo, o impacto no Brasil será maior nas exportações de minérios, com redução de exportações e menor superávit comercial. Em contrapartida, haverá menor pressão nos preços do aço, cobre e alumínio, o que ajuda a reduzir a inflação brasileira. A indústria de SC, que vende mais para os EUA, deve ter um alívio nos preços de matérias-primas, o que se reflete de forma positiva embora possa ter maior concorrência internacional.