O Instituto Butantan comunicou nesta sexta-feira que está desenvolvendo, em fase avançada, a primeira vacina 100% brasileira contra o novo coronavírus, a Butanvac. Secretário de Turismo de São Paulo e ex-ministro do Turismo, o catarinense Vinicius Lummertz avalia que essa nova vacina aumenta a segurança para o Brasil enfrentar a pandemia e ter uma maior retomada econômica. Ele estima que, com o avanço das vacinas, a próxima temporada de verão será excelente. Na entrevista a seguir, Lummertz também critica erros do governo federal nas negociações de vacinas.
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O que representa essa nova vacina Butanvac?
Desde que a Covid-19 surgiu no Brasil, paralelamente à parceria com o laboratório chinês Sinovac para fazer a Coronavac, o Butantan desenvolveu outra vacina, usando tecnologia própria, semelhante à utilizada na H1N1. É feita da mesma forma que a vacina da gripe, usando ovos como um dos insumos. O Butantan é uma instituição grande, que produz 10% das vacinas do mundo, conta com cerca de 2.500 colaboradores, muitos cientistas que desenvolvem alta tecnologia. Foi importante manter o projeto em sigilo para não causar expectativas que poderiam não se tornar realidade. Como, agora, os testes têm que ser feitos com pessoas, foi possível vir a público para falar sobre o projeto.
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Quando serão feitos os testes qual é a estimativa para a chegada da vacina ao mercado?
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A vacina será testada em humanos no Brasil a partir de abril (testes também estão sendo feitos no exterior) e serão produzidas 40 milhões de doses ainda este ano. Quando será essa produção? Quando terminar a produção da H1N1, em agosto, o Butantan iniciará a fabricação da Butanvac. Será no mesmo parque fabril da H1N1, que é enorme. A expectativa é de que teremos as 40 milhões de doses para o país no segundo semestre.
O que representa essa nova opção de vacina para país?
Estamos dando um sinal de autonomia, sinal de controle da pandemia no Brasil que, hoje, é a mais incontrolada do Planeta. Precisamos estar preparados também para mutações. Então, tendo uma fábrica da Coronavac e outra para a Butanvac, teremos um seguro, um hedge para a nossa economia. Podemos proteger também a América Latina toda. O Brasil tem um papel importante para a América Latina.
Qual é a possibilidade de o Brasil avançar bem mais na vacinação este ano?
Pelo cenário atual, o país não estará todo vacinado até o fim do ano. Pode melhorar se o país, após a vacinação dos EUA, comprar mais doses. Mas precisa ficar atento porque muitos países estão interessados.
Qual será a oferta da Coronavac para este ano?
O Butantan vai repassar para o governo federal 100 milhões de doses da Coronavac até o final do ano, para o Programa Nacional de Imunização (PIN). Já foram entregues mais de 25 milhões de doses e até o fim de abril será concluída a primeira fase, com 46 milhões de doses. Além da entrega anual ao governo federal, o governo de São Paulo comprou 30 milhões de doses para imunizar os paulistas este ano. Isso porque a lei permite fazer isso após a imunização dos grupos prioritários. Outros governos estaduais poderão fazer o mesmo.
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Como está o projeto da nova fábrica da Coronavac?
Em setembro, a nova fábrica da Coronavac estará pronta fisicamente e em dezembro ela estará com os equipamentos instalados. Então, entraremos em 2022 produzindo no Brasil o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) da vacina chinesa que é parceira nossa. Isso é importante porque em 2022, quaisquer que sejam os cenários de vacinação, teremos produção do IFA no Brasil, o que nos dá autonomia, numa fábrica feita exclusivamente para isso, com doações empresariais de R$ 189 milhões. Isso é muito importante.
Qual é a expectativa de retomada da economia com o avanço das vacinas?
O turismo vai retomar um melhor ritmo no quarto trimestre do ano. A economia como um todo, vai voltar gradualmente no final do ano. O problema da doença é sistêmico em todo o país. Precisamos de uma vacinação equilibrada no Brasil todo e um comportamento das pessoas, com prevenção, equilibrado também no país todo. A minha expectativa é de que na segunda parte do segundo semestre tenhamos uma aceleração grande do turismo no Brasil e tenhamos uma excelente temporada. Essa é a minha percepção com o aumento das vacinas. No caso da economia geral, a expectativa de crescimento do país é 3,5% e em São Paulo, 5%. Essas projeções não foram alteradas, mas poderão mudar. No começo deste ano, tivemos um crescimento de arrecadação em São Paulo em função do crescimento da inflação, não no crescimento de produção de bens e serviços. A fase mais difícil será o primeiro semestre.
Como será a próxima temporada turística de verão, na sua opinião?
Será fantástica! Na prática, à medida que os níveis de vacinação forem subindo e os cuidados com a doença melhorarem, as pessoas vão se sentir mais seguras. Em São Paulo, teremos todas as pessoas vacinadas ainda este ano. Eu acredito que o governo federal vai comprar mais vacinas, portanto, mais brasileiros estarão vacinados. Poucas pessoas vão viajar ao exterior no próximo verão. Além das restrições contra brasileiros, o câmbio continua desfavorável. Santa Catarina, por exemplo, vai atrair visitantes do próprio Estado, os gaúchos, paranaenses e paulistas. Será uma excelente temporada.
Como o senhor vê o Brasil no cenário mundial hoje?
A imagem do Brasil no mundo, hoje, é uma das piores. Nós somos o segundo país do mundo mais impedido de viajar, só atrás da África do Sul. Somos candidatos a pária mundial, numa situação péssima, tanto internamente quanto externamente. A gestão do Itamaraty foi inimaginável, com muitos erros, o Brasil ficou isolado. Com relação às aquisições de vacinas foi um fracasso. Em agosto do ano passado, quando São Paulo ofereceu a Coronavac para o governo federal, a resposta foi negativa. “Isso é VaChina”, disseram. Mesmo assim, o governador João Doria decidiu manter a linha, e, felizmente, a China fez um negócio monumental. Fez um gesto em relação a Turquia, Brasil e Indonésia, três grandes países que teriam dificuldades com vacinas. Graças a isso, o Butantan está fornecendo 90% das vacinas contra Covid-19 no Brasil. O país teve oferta de 70 milhões de doses da Pfizer para comprar, inclusive no final do ano passado, e não aproveitou.
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