O Asaas, empresa de tecnologia de Joinville especializada em desenvolver soluções de automação financeira para Pequenas e Médias Empresas (PMEs), anuncia nesta terça-feira (08) o fechamento de rodada de investimentos Série C, no valor de R$ 820 milhões para acelerar sua plataforma que é líder na América Latina. De acordo com o cofundador e presidente da empresa, Piero Contezini, esses recursos serão para acelerar atividades, fazer aquisições e ampliar depósito do banco Asaas junto ao Banco Central do Brasil.
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A rodada de recursos foi liderada pela BOND Capital, da Califórnia, Estados Unidos, com a participação da Softbank, 23S Capital (uma parceria entre Temasek e Votorantim) e Endeavor Catalyst. Segundo ele, a participação da BOND indica que ela vê que o Asaas tem solução diferenciada, com grande potencial de mercado. As principais soluções que oferece para empresas são o gerenciamento de cobranças, antecipação de recebíveis e automaçao de processos de contas a pagar.
– Para 2024, estamos mirando um valor próximo de R$ 400 milhões de faturamento. Com o dinheiro que entrará agora, a nossa intenção é, em dois anos, dois anos e meio talvez, ultrapassar R$ 1 bilhão de receita bruta anual – destaca Piero Contezini, que trabalha para viabilizar IPO (abertura de capital) para os próximos anos.
Ao comentar esse aporte, o general partner da BOND, Daegwon Chae, afirmou que o Asaas está na vanguarda de uma onda de digitalização financeira para PMEs na América Latina. Segundo ele, a tecnologia da empresa introduz simplicidade, consistência e personalização dos componentes fundamentais das operações de qualquer negócio.
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Fundado em Joinville, Santa Catarina, há 14 anos pelos irmãos Piero Contezini e Diego Contezini (CEO), o Asaas oferece digitalização de negócio com serviço de banco. Conta com cerca de 170 mil clientes no Brasil e quase 700 colaboradores. Na trajetória, já recebeu aportes do fundo CVC do Bradesco, do Inovabra Ventures e Parallax. Saiba mais sobre esse aporte quase bilionário e sobre a trajetória do Asaas na entrevista exclusiva de Piero Contezini, a seguir:
Veja imagens dos fundadores do Asaas e de equipe:
Vocês estão anunciando um aporte quase bilionário para investimentos. Como conseguiram alcançar esse elevado valor de recursos?
– É resultado de muito trabalho, que veio a partir de um plano. O que nós conseguimos foi a possibilidade de executar um plano. Então, neste sentido, estamos muito felizes, porque as pessoas acreditaram neste plano e colocaram capital para ele ser realizado. Imagine que é o maior investimento de uma empresa de Santa Catarina em 2024.
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Gostaria que o senhor informasse sobre o objetivo desta rodada, onde os recursos serão investidos?
– O Asaas já é uma fintech que tem um bom tamanho, gera caixa e lucro. Nós estamos pegando o dinheiro deste aporte para fazer três coisas. Primeiro, nós funcionamos como um banco, em função disto, quando você cresce, você tem que ter mais capital guardado. Vamos usar um terço desses recursos para elevar o nosso capital regulatório junto ao Banco Central do Brasil para suportar nosso crescimento nos próximos anos.
Com outra parte, nós pretendemos fazer algumas aquisições. Então, um terço do valor irá para fazer M&A (fusões e aquisições). Vamos comprar algumas empresas e completar o nosso portfólio de produtos. E com o um terço restante vamos investir em produto, engenharia. Vamos reforçar nossos times de engenharia para poder entregar cada vez mais valor para os nossos clientes.
Como atua o banco Asaas?
– Somos um banco digital. Seguimos as mesmas regras de um banco digital. Temos duas licenças, uma de instituição de pagamentos e outra de sociedade de crédito direto. As duas licenças que o Nubank tinha quando fez o IPO. Hoje, ele atualizou a sociedade de crédito direto para a SCFI, algo que faremos também.
Então, quando um banco cresce muito, é preciso ter dinheiro para deixar uma espécie de garantia para o Banco Central, isso se chama capital regulatório e o termo técnico é Índice de Basiléia.
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Nós precisávamos aumentar o nosso capital regulatório para suportar o crescimento nos próximos anos. Estávamos bem acima do necessário para agora, mas daqui a um ano ou dois começaria a ficar apertado e entendemos que era o momento de aumentar esse capital.
O que vai representar para a empresa esse grande aporte de recursos?
– Até agora, nós captamos perto de R$ 200 milhões na nossa história. Foram feitas cinco, seis captações, entre capital anjo, sementes, série A, série B, V2, que fizeram com que chegássemos a cerca de 700 funcionários, com o faturamento do último ano de R$ 217 milhões.
Para 2024, estamos mirando um valor próximo de R$ 400 milhões. Com o dinheiro que entrará agora, a nossa intenção é, em dois anos ou dois anos e meio talvez, ultrapassar R$ 1 bilhão de receita bruta anual. Essa é a grande diferença. Nós levaríamos mais uns quatro anos para chegar em R$ 1 bilhão de reais em receita. Agora, esperamos demorar dois anos, mas dependerá muito de condições macroeconômicas também.
O senhor pode falar um pouco sobre esse fundo que liderou o investimento e porque a decisão pelo Asaas?
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O BOND Capital é um fundo dos EUA. Foi o banker que captou todas as rodadas de investimentos para Jeff Bezos da Amazon lá nos anos 2000. Ele montou um fundo há uns 20 anos de Private Equity, um pouco mais tradicional, e de 2014 para cá, está rodando esse fundo. Ele tem a seguinte visão: escolhe no mundo todo empresas que vão redefinir a sua categoria de negócios.
O foco deles é encontrar, o que eles chamam de category-defining business, que são negócios que realmente vão criar coisas que darão um nome para aquilo. Por exemplo, o Uber deu o nome para ride-sharing, não existia ride-sharing antes do Uber. O Airbnb deu o nome de Bed and Breakfast, que é esse conceito de alugar casas. Eles investiram nestas duas.
O Stripe, dos Estados Unidos, redefiniu como os pagamentos são feitos nos Estados Unidos. Você precisava contratar Visa, Mastercard, hoje não precisa mais. Eles se envolveram em todos os grandes negócios e redefinem categorias.
Em março deste ano eles nos encontraram. Começamos a conversar e eles identificaram que nós iremos redefinir uma categoria de negócios, que ainda estamos testando o ERP (sistema de gestão empresarial) que a gente chama de Sistema Operacional para Negócios. É a ideia do que estamos construindo, que é a convergência entre um software de gestão, automação de processos e serviços financeiros intimamente integrados.
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É importante citar que também entrou junto com o BOND Capital o SoftBank, que é o maior fundo de investimento do mundo, e a 23S, que é uma parceria entre um fundo soberano de Singapura, que se chama Temasek, e o Banco Votorantim. Basicamente, pegamos os melhores fundos nessa rodada.
O que vocês oferecem ao mercado e qual é o tamanho médio de empresas que vocês atendem?
– Oferecemos para o nosso cliente uma conta digital conectada a um ERP gratuito. A pessoa, quando usa a nossa conta digital, tem acesso a um ERP que consegue fazer toda a administração do negócio dela. E junto disso, uma camada de CRM, que ajuda o nosso cliente a reduzir o esforço que ele tem em tudo que tem a ver com falar com o cliente dele com relação a transferências monetárias, a movimentação de dinheiro e tudo mais.
Somos a junção desses três tipos de soluções em um único local e estamos vindo de uma ferramenta de automação financeira, caminhando em direção a poder automatizar mais e mais processos e ajudar o cliente, entrando dentro do negócio dele e resolvendo problemas que eram trabalho manual.
Queremos automatizar muitos processos do dia a dia da maior quantidade possível de empresas, para ajudá-las a ter mais produtividade, que é um dos maiores problemas que temos hoje na nossa sociedade.
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Nosso foco são empresas limitadas, com receita de R$ 5 milhões por ano. Esta é a nossa média. Eu tenho cliente que está na bolsa, eu tenho vendedor de mangueira de porta em porta. O que eu estou afirmando é o que nós chamamos de ICP, que é o Ideal Customer Profile.
Quando o nosso marketing acorda todo dia e pensa com quem deve falar, vem a seguinte resposta: é uma empresa limitada, que fatura R$ 5 milhões por ano, que está recém saindo do simples e que precisa começar a se organizar. Já tem transações suficientes para não querer fazer isso num banco tradicional.
Nós oferecemos um serviço muito mais simples para fazer as funções básicas, mas que tem muito mais funcionalidade quando a pessoa quer. Enquanto no banco você vai lá, você emite um boleto ou pede um Pix, na minha aplicação a pessoa fala assim, ‘olha, não, você quer receber dinheiro de alguém, ok.
Você tem os contatos da pessoa, como é que você quer cobrar essa pessoa? Você quer que eu só cobre dela e ela pague do jeito que puder? Como é que você quer conversar com essa pessoa? Você quer que eu ligue para ela? Você quer que eu mande uma mensagem no WhatsApp, um e-mail?’
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O usuário marca tudo isso e eu vou executar todo o trabalho e vou trazer para ele falando ‘olha, recebi o dinheiro aqui, tem isso daqui a receber’. Resumindo em alguns segundos, isto é o que fazemos. Óbvio, nesta possibilidade do nosso cliente pode configurar o que nós disponibilizamos, ele pode contratar uns 25 produtos nossos, desde mandar consultar no Serasa para dar crédito, negativar se o cara não pagou, até emitir nota fiscal.
Como vocês usam inteligência artificial?
– Usamos para algumas coisas. Atualmente, em dois ou três produtos, mas ainda é muito incipiente. Temos muito para atendimento ao cliente, para previsibilidade de mensageria, esse tipo de coisa, para entender o padrão de comportamento, você tem uma morning person, você tem uma late person, o horário que você lê as mensagens para ajustar, para mandar mensagens no horário que você está predisposta a pagar, coisas assim, mas nos próximos anos vamos evoluir muito.
Esses serviços todos ajudam a economizar na contratação de pessoas?
Exatamente, nós economizamos, por exemplo, em uma empresa que tenha 20 clientes, cerca de 18 horas por mês de um administrativo financeiro, ou seja, uns 3 ou 4 dias.
Quais são os grandes planos de vocês com esse aporte de capital?
– Hoje, nós conseguiríamos crescer sem investidores. A ideia é que esse seja o nosso último round de investimentos antes do IPO (abertura de capital), que deve acontecer no final de 2027, 2028. É claro que não descartamos a possibilidade de fazer o que é chamado de pré-IPO round, quando você vai lá, tem alguma tese de adquirir uma empresa grande, você quer fazer algum movimento muito grande antes de virar uma empresa pública, e aí você capta para isso. Isso não está descartado, mas não faz parte dos nossos planos.
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Os IPOs têm janelas cíclicas. Neste momento, nós estamos numa janela fechada, não estamos fazendo IPOs. Calcula-se que a próxima janela boa de IPOs deve começar em 2027 e acabar no final de 2028. E assim, estamos falando de janelas lá fora, porque a nossa intenção é fazer um IPO ou na Nasdaq, ou na NYSE (New York Stock Exchange). Podemos vir para B3 eventualmente, mas a tendência maior é Nasdaq.
Por que vocês querem fazer lá fora?
Porque lá você tem acesso a capital de longo prazo, que pensa no futuro e não pensa só em ganhar a distribuição de lucros do quarter, que é o problema aqui da B3.
Vocês têm um plano de expansão internacional da empresa? Esse investimento a coloca em uma posição para oferecer os atuais serviços no exterior?
Ainda não. Nesse momento, esse capital é para o mercado local, provavelmente nós pensaremos nisso no pós-IPO.
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Quantos colaboradores vocês têm e quantos devem contratar com esse novo capital?
Nos próximos anos, em cerca de quatro anos, devemos chegar muito facilmente a duas mil pessoas. Atualmente, são quase 700. Em torno de 50% ou 60% dos colaboradores atuam em Joinville.
No entanto, somos “remote first” (empresa que dá preferência a contratação a distância). Temos funcionários em quase todos os estados, senão em todos os estados, em mais de 50 cidades. Temos escritório em Florianópolis na Acate (Associação Catarinense de Tecnologia), em São Paulo e no Porto Digital, no Nordeste. Tínhamos no Instituto Caldeira no RS, mas ele suspendeu atividade em função da enchente.
São pequenos locais para nos ajudar quando os nossos colaboradores querem se reunir para fazer planejamento e coisas assim, mas a nossa sede é em Joinville.
Sobre as nossas novas contratações, majoritariamente buscaremos pessoas da área de tecnologia, mas também, para todas as outras habilidades. Mas, assim, mais de 50% dos recursos da companhia em despesa de folha vão para tecnologia. Desenvolvedor, designer, Product Owner, PO, que é dono de produto, galera de cloud, que faz a gestão das nossas nuvens, e por aí.
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E sobre aquisições de empresas, o que o senhor pode antecipar?
– Não posso antecipar muitas coisas. O que posso dizer é que fizemos três aquisições nos últimos anos. A última foi agora em maio (de 2024). Compramos uma empresa chamada Nexo Invoice, que faz o oposto do que nós fazemos. Nós estamos no contas a receber, ela faz automação no contas a pagar.
Nossa tese é, nos próximos anos, fazer aquisições de produtos que completem o nosso portfólio de forma horizontal, ou seja, que sirvam para a maior quantidade possível de clientes. Então, a tese toda está em encontrarmos produtos que façam com que a nossa receita média por cliente seja incrementada, essa é a primeira tese, ou ele fique mais tempo conosco, ou seja, o negócio vai crescendo e ele não gradua da nossa solução, ele continua utilizando com o uso de outras ferramentas que iremos vender para ele.
Como foi a fundação do Asaas, como tudo começou?
– A empresa foi fundada por mim e pelo meu irmão Diego Contezini. A ideia da empresa nasceu em 2010 quando tínhamos uma fábrica de software e alguns produtos de software que deviam utilizar uma ferramenta de receber dinheiro pela internet. Na época, não tinha ninguém no Brasil que conseguia nos atender.
Então, nós construímos a nossa própria aplicação, por isso que tem um nome esquisito que significa Automated Software as a Service (Asaas). É um acrônimo de nerd, esta é a verdade, que se encaixou muito bem com o que nós acabamos fazendo.
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Em 2014, nós vendemos a fábrica de software e pudemos focar neste produto. Começamos a testar a venda para empresas de software, deu tudo errado. As empresas de software não queriam contratar um software, precisavam de um psicólogo, não de software. Então era outra parada que eles queriam, tipo uma consultoria.
Daí, encontramos o mercado de empresas do mundo real, que queriam simplesmente facilidade para receber dinheiro pela internet. Trocamos o que o produto fazia, e lançamos o que poderia ser resumido como o McDonald’s da cobrança. Algo que qualquer criança pudesse, no ambiente público, criar uma conta no Asaas e sair cobrando em segundos e recebendo dinheiro.
De 2014 para cá, basicamente, temos evoluído esse produto principal e aí começamos a resolver outras dores, até que em 2018 entendemos que viraríamos uma ferramenta financeira, uma espécie de um banco. Em 2021, conseguimos a primeira licença e assim foi, e hoje, o que nós somos e o que seremos são coisas completamente diferentes. Somos muito parecidos com um banco, o que nós seremos vamos deixar para os historiadores nomearem.
O que levou vocês a empreender no setor de tecnologia?
– Eu abri minha primeira empresa com 16 anos. Fui emancipado para poder abrir esse negócio. Era uma empresa na área de segurança da informação. Comecei a programar quando tinha seis anos. O meu pai tinha uma empresa de tecnologia que fazia manutenção de mainframes (grandes computadores) das grandes empresas de Joinville, a Tupy, Tigre e Whirlpool. Ele era a única pessoa que conseguia consertar esses grandes computadores.
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As pessoas simples conseguem usar os serviços do Asaas?
– Sim, a pessoa que mudou a minha vida foi um encanador de Curitiba, que eu nunca vi. Mas ele veio no meu webchat. Na época vendíamos só para programador, então a pessoa tinha que saber programar por API, fazer um monte de coisas. O encanador veio ao nosso formulário de suporte, no assunto ele colocou tudo em letra maiúscula, falando assim: “onde está o ponto S, preciso mandar 200 boletas”. E deixou o telefone dele.
Aí falamos com ele. O cara tinha que fazer 200 cobranças por mês, todos os nossos clientes nos últimos seis meses não cobravam 100 transações. E tínhamos uma pessoa, que não sabia ler e escrever direito, escrevia em caixa alta, sem ponto, sem vírgula, e tinha 200 transações. Ele nunca conseguiria usar o que estávamos vendendo para ele.
Ligamos para a pessoa, entendemos o problema dela, e o que fizemos? Na época, a primeira versão do Asaas, não movíamos o dinheiro para as pessoas, nós integrávamos no banco e orquestrávamos o banco para fazer a operação. Só que o encanador era tão simples que o gerente de conta dele não permitia que ele emitisse um boleto na conta dele.
Diante disto, falamos ‘vamos emitir um boleto na nossa conta, vamos cobrar para esse cara, e no dia seguinte nós depositamos para ele’. E assim foi. Combinamos com ele, importamos as cobranças dele nós mesmos, porque ele não tinha condição de fazer isso. Pois no primeiro mês ele recebeu as 200 cobranças e nós conseguimos mais receita com ele do que todos os nossos clientes na história.
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