Apesar de as mulheres serem maioria nos cursos superiores no Brasil e de estarem participando em maior número nas carreiras de ciências exatas, que abrem mais portas para cargos de liderança em empresas e outras oportunidades, os números ainda são insuficientes para a equidade de gênero. São muitos esforços, mas as mudanças são lentas.
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Santa Catarina conta com diversas mulheres que podem ser referência para quem gostaria de ingressar nessas carreiras. Entre elas estão a empresária Betina Zanetti Ramos, fundadora e presidente da Nanovetores e diretora do GT Mulheres da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate); a especialista em dados Marina Scotelaro Pantoja, gerente de Marketing do Zoho Projects no Brasil; e a jovem engenheira eletricista Andressa Borré, arquiteta de sistemas do grupo de moda Malwee.
O setor de tecnologia em SC é um dos que oferecem carreiras com melhor remuneração desde o início, oportunidades para chegar a cargos executivos, empreender e trabalhar em home office. Mas a participação feminina segue baixa enquanto o setor reconhece que as mulheres têm um olhar diferente sobre necessidades e consumo, o que geraria mais negócios.
A pesquisa Tech Report da Acate de 2021, com dados de 2020, apurou que do total de trabalhadores no setor de tecnologia da informação em SC, 22,8% eram mulheres. Uma participação abaixo da média nacional que no mesmo ano estava em 25%.
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Uma das razões, é o baixo número de mulheres que decidem abraçar carreiras da área de ciências exatas, que exigem mais matemática e física. Uma forma de avançar é oferecer mais ensino com foco no STEAM, acrônimo inglês para as disciplinas de ciências, tecnologia, engenharia, artes e matemática.
Quando a gente vê os dados sobre engenharia tem uma ideia mais clara do tamanho do desafio para alcançar a equidade num país onde 51,5% dos habitantes são mulheres.
Pesquisa do conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) com dados de 2022, apurou que do total de profissionais na engenharia, 1,03 milhões, somente 19,3% eram mulheres, que somavam 199.786.
Também com o olhar de que o mundo precisa de mais mulheres na ciência, a Assembleia das Nações Unidas (ONU) definiu o 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência. A Unesco apurou que as mulheres são 33,3% do total de pesquisadores no mundo e apenas 12% integram academias científicas nos seus países.
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O ponto número um para avançar nessas carreiras é estudar e aprender. Notas altas ajudam a chegar lá. Também é preciso curiosidade e convicção de é possível aprender muito de disciplinas técnicas prestando atenção.
Doutora cria empresa inovadora em nanotecnologia
Betina Zanetti Ramos é referência como profissional que saiu da academia e abriu uma empresa de impacto internacional, a Nanovetores, que hoje exporta para cerca de 150 países.
Uma das últimas inovações da Nanovetores está ajudando a enfrentar a dengue, a salvar vidas. A empresa conta com um produto, um repelente encapsulado que tem como base uma matéria prima alemã chamada icaridina. Esse processo melhora muito o desempeno de série de repelentes com doses reduzidas, por isso é recomendada até para bebês, explica a empresária.
Graduada em farmácia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com doutorado na Universidade de Bordeaux, na França, Betina decidiu empreender ao invés de seguir carreira acadêmica. Casada com o administrador Ricardo Henrique Ramos, uma filha, ela resolveu arriscar quando o marido avaliou que as pesquisas dela na universidade poderiam ter inédita aplicação no mercado. Então, em 2008, eles fundaram a empresa com solução inédita no mundo para o setor de cosméticos.
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– A Nanovetores faz uma encapsulação de ativos cosméticos para melhorar a performance desses ativos de uma forma totalmente sustentável. O que fazemos também de muito inédito é o controle dessa liberação de ativos, que a gente chama de gatilhos de liberação. Quando esse produto chega e toca na nossa pele ele consegue liberar gradualmente esses ativos. Até por isso, um case que está em alta agora é o do repelente – explica Betina.
Pesquisadora, a empresária tem 13 patentes registradas. Outro destaque da Nanovetores é o fato de oferecer produtos sustentáveis. Os diferenciais da empresa já resultaram na conquista do Prêmio Nacional de Inovação (PNI) e atraíram o grupo suíço Givaudan, líder mundial em perfumes e aromas, que em janeiro de 2022 se tornou sócio da empresa catarinense com 48% do capital.
Além de presidir a empresa que fundou, Betina também é diretora do Grupo de Trabalho (GT) Mulheres da Acate e vice-presidente de Integração da entidade. Questionada sobre como as mulheres podem construir carreira nas áreas científica ou de tecnologia, ela avalia que o mundo, hoje, está mais promissor para isso porque décadas atrás uma mulher não podia nem assinar um artigo científico.
– Vemos marcos incríveis nessa evolução. Tanto que hoje as mulheres perfazem participação igual ou até superam os homens em graduação, embora, em algumas áreas, como ciências, matemática e computação a predominância maior ainda é de homens. É por isso que no GT mulheres, um dos pilares em que trabalhamos muito, é mostrar para as meninas que essas áreas precisam de mais mulheres – destaca Betina.
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Para ela, a área de tecnologia, além de oferecer remuneração melhor, permite fazer home office. Essa flexibilidade é muito positiva para mulheres porque permite fazer uma agenda própria para aliar com demandas da família.
Na pandemia, a necessidade de aliar trabalho e qualidade de vida também chamou a atenção da empresária. Por isso, ela fez um curso sobre Felicidade Interna Bruta e passou a falar sobre isso em palestras. Defende que as pessoas tenham algum tempo para si para atividade física, leitura e lazer, além do trabalho intenso do dia a dia.

Executiva com foco no mundo dos dados
Uma das maiores multinacionais de tecnologia da Índia, a Zoho, tem algumas estratégias diferenciadas. Uma delas é oferecer software e outros produtos a custo acessível a pequenas empresas. Outra, é ter equipes com diversidade, o que inclui equilíbrio entre o número de homens e mulheres.
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Outra preferência do grupo indiano é ter sede em cidades menores, não em metrópoles. Por isso, quando decidiu abrir filial no Brasil, escolheu Florianópolis. Em Santa Catarina, na sede da empresa, na rodovia SC-401, são mais de 80 empregados e 50% deles são mulheres, destaca Marina Scotelaro Pantoja, gerente de Marketing da Zoho no Brasil. Ela é um dos exemplos de profissional que migrou da comunicação para a tecnologia.
– Eu sempre brinco que sou uma operária da tecnologia, porque eu fiz jornalismo, mas meu primeiro trabalho foi como assessora de imprensa do Museu de Astronomia Rio de Janeiro – conta Marina.
Com outros trabalhos em tecnologia e os novos desafios na Zoho, ela segue estudando e prioriza o setor de dados. Como profissional de negócios da multinacional, ela destaca que usa muitos dados para analisar o mercado. Questionada sobre que conselhos daria para uma mulher que quer seguir a carreira de tecnologia ou migrar para essa área, ela faz diversas observações.
– Então, antes de qualquer coisa você precisa entender aonde quer chegar. Se você quer ser uma gerente, uma diretora. Existem muitas possibilidades dentro da tecnologia. Se você for para a área de desenvolvimento, precisa ter um conhecimento técnico muito apurado. E aí é importante buscar conhecimento e conhecimento vasto – recomenda Marina.
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Segundo ela, na carreira executiva é importante ter uma grande bagagem de conhecimento, não só na área de tecnologia. Para cargos de liderança, é importante focar em especializações, independente do segmento de mercado, do negócio em que atua. É importante se interessar por tendências de mercado.
Para quem deseja fazer uma carreira na área de tecnologia como ela, sem ser graduada em curso de engenharia da computação ou outro semelhante das ciências exatas, ela recomenda o setor de dados, que avalia ser uma das grandes demandas do momento. Os dados estão sendo usados em tudo, em todas as decisões, por isso os especialistas em dados têm muitas oportunidades, afirma.

Uma engenheira apaixonada por software e inteligência artificial
Na hora de escolher qual curso fazer na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Andressa Borré, nascida na pequena cidade de Peritiba, no interior catarinense, optou por engenharia elétrica. Mas no primeiro estágio, durante o curso, já havia concluído que seguiria carreira na área de tecnologia da informação. Hoje, com apenas 26 anos, ela já é arquiteta de sistemas numa das maiores empresas de moda do país, Grupo Malwee, de Jaraguá do Sul.
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Arquitetura de sistemas é uma área que envolve o design, a organização e a integração de componentes para criar soluções que atendam as necessidades de uma empresa. Andressa Borré disse que foi para essa especialidade porque gosta de criar soluções e entender as nuances técnicas e operacionais das diferentes tecnologias, bem como ter uma visão abrangente para integrar esses componentes.
Revelou que tem um perfil diferente da irmã gêmea idêntica, a Andréia Borré, que gosta de explorar as propriedades dos materiais e componentes ‘no detalhe’. Por isso, a irmã optou por cursar engenharia de materiais, também na UFSC.
Andressa descobriu o gosto pela tecnologia logo no primeiro estágio que fez durante o curso, na rede Cassol Centerlar, na Grande Florianópolis. Após seu segundo estágio, na WEG em Jaraguá do Sul, atuou na empresa com desenvolvimento de software. Então, viu oportunidade de fazer algo diferente na Malwee e mudou de emprego na mesma cidade.
O meu trabalho, hoje, está relacionado com integração de sistemas, fazê-los ‘conversar entre si’ entre as diversas áreas, inclusive na fábrica, que conta com muita automação. Integrar isso tudo é um desafio legal, uma área extremamente criativa – conta a engenheira.
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Para aprimorar seus conhecimentos em tecnologia, ela está cursando um mestrado em automação e sistemas. Além disso, revela grande interesse em inteligência artificial. Quando questionada sobre como enxerga a participação das mulheres nas carreiras de tecnologia e inovação, ela avalia que houve uma quebra de barreiras. Destaca os significativos avanços das mulheres nas profissões técnicas e enfatiza que a perspectiva feminina, ao dar atenção especial aos detalhes, contribui significativamente nas definições, trazendo os ‘e se’, tão necessários no mundo da tecnologia. Ela ressalta: ‘Não devemos nos limitar ao ‘caminho feliz’ ao tomar decisões na área da tecnologia’.
O número de mulheres na área de tecnologias está crescendo bastante… Mas acredito que cada pessoa deve seguir aquilo que verdadeiramente gosta. Se gosta da área de tecnologia, as oportunidades existem, elas estão aí! Mas é preciso estar preparada, investir em uma formação, por exemplo. Vejo que hoje, se você se enquadra na vaga, tem qualificação e é competente, você vai conseguir, independentemente do gênero – disse Andressa Borré.
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