Como é o maior exportador global de alimentos, o Brasil é um dos cinco ou seis países mais necessários do mundo e pode ser o líder que vai determinar a paz mundial. Essa é a análise do economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Antonio da Luz, para quem o Brasil, nessa condição de protagonista, precisa ter uma agenda para o mundo e criar estratégia sobre o quer do mundo.

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Palestrante do seminário realizado sexta-feira (7) pela Federação da Agricultura de Santa Catarina para líderes rurais, Antonio da Luz iniciou sua apresentação dizendo que a tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul foi algo difícil de se imaginar, é uma situação muito dolorosa, que as cicatrizes vão ficar por muito tempo, mas que o Estado vai se recuperar. Ele agradeceu o apoio do agronegócio e demais apoios de SC ao RS.  

Apesar das dificuldades, Antonio da Luz afirmou que estava em Florianópolis para ajudar os líderes do agronegócio a olhar para a “floresta” e não apenas para “árvores”. Olhar para a floresta significa ver que o agro brasileiro tem grandes oportunidades, mas também grandes responsabilidades para alimentar o mundo.

Para ele, o Brasil não usa o poder que constituiu. Precisa se posicionar internacionalmente como líder global em alimentos e exercer esse poder. Para isso, tem que definir estratégias e esse é um papel principalmente do setor produtivo porque deve vir da base.

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– O Brasil não será o maior exportador líquido de alimentos. É o maior exportador líquido de alimentos. O segundo maior exportador são os Estados Unidos, que vão ficar cada vez mais distantes do Brasil. Exportador líquido significa ter um saldo cada vez mais positivo entre o que a gente exporta e importa.

Esta distância que vamos abrir dos EUA fará, inexoravelmente, que o Brasil tenha que mudar de postura. Quando os EUA foram o primeiro exportador líquido de alimentos, tinham um programa que se chamava “Alimentos pela paz”. Isso porque existem três formas de exercer o poder do mundo: pela força (fortes forças armadas), pela cultura e através da comida – alertou o economista.

Segundo ele, o mundo não vive hoje sem a tecnologia dos EUA, sem a produção industrial da China, sem os alimentos do Brasil, sem as tecnologias de Israel, da Alemanha e Reino Unido. Isso dá condições de o Brasil sentar-se em qualquer mesa para definir estratégias para o mundo, avalia o economista.

Mas, na opinião dele, o Brasil precisa ter estratégias e saber o que quer do mundo. Isso não pode mudar conforme o presidente da república. Os políticos podem ter suas divergências internas, mas a estratégia global tem que ser única, recomenda Antonio da Luz. Para ele, os EUA são um exemplo porque independentemente de governo, o país mantém suas prioridades do que quer do mundo e de ter agenda para o mundo.

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José Zeferino Pedrozo fala em evento de líderes rurais (Foto: Estela Benetti)

Sobre o desafio de seguir produzindo e de cuidar do meio ambiente, Antonio da Luz argumenta que pessoas com fome não têm condições de se preocupar com mudanças climáticas, por isso a relevância da produção de alimentos.

– Só se preocupa com o meio ambiente quem está alimentado. Eu só me preocupo com o amanhã se o hoje está resolvido. Ou seja, se eu quero resolver o problema do meio ambiente, tenho que resolver o problema da fome.  E falar sobre meio ambiente sem falar sobre segurança alimentar é conversa fiada – disse o palestrante.

Conforme Antonio da Luz, o agro brasileiro produz atualmente mais de 300 milhões de toneladas de grãos e as estimativas são que o país ultrapasse 600 milhões de toneladas em 2035. Tudo isso é feito no país com relevante preservação ambiental.

Os produtores rurais brasileiros preservam uma área equivalente a 10 países da Europa. Somando as unidades de conservação e terras indígenas, mais as áreas militares e não cadastradas, o Brasil preserva 74,3% do seu território enquanto os Estados Unidos preservam somente 19,9% da área deles.

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Olhando para números globais, o que aumenta o desafio e a responsabilidade do agro para alimentar o planeta, segundo o economista, é o crescente número de pessoas que residem nas cidades. Em 1960, de cada 10 pessoas, sete viviam no campo e produziam alimentos para si e para os que viviam nas cidades.

Atualmente, pela primeira vez, a população urbana ficou maior que a rural. Em 2050, de cada 10 pessoas, somente três produzirão alimentos no campo. E de cada cinco pessoas, quatro morarão em países importadores líquidos de alimentos.  

A lista de exportadores líquidos de alimentos tem à frente o Brasil, com 169,3 milhões de toneladas por ano, seguido pelos EUA com 131,5 milhões, a Argentina com 87,6 milhões, a Ucrânia com 69,6 milhões e o Canadá, com 56,6 milhões.

Na lista dos importadores líquidos estão a China com 282,3 milhões de toneladas, seguida pelo Japão com 48,2 milhões, Coreia do Sul 30,8 milhões, Reino Unido 27 milhões e Arábia Saudita 21,4 milhões. Essa lista mostra que países mais ricos têm mais condições de importar.

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No evento de sexta-feira, o presidente da Federação da Agricultura, José Zeferino Pedrozo, e o vice-presidente da entidade, Enori Barbieri, reuniram presidentes de sindicatos rurais de todo o Estado, no Intercity Hotel, em Florianópolis. O encontro anual foi para discutir cenários para o setor.

Conforme Pedrozo, apesar das dificuldades do RS, a Faesc fez questão de trazer Antonio da Luz por ser um dos economistas do Agro mais ouvidos por lideranças do setor no Brasil. Com graduação e mestrado em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele também é doutor em Economia do Desenvolvimento pela PUC-RS e professor de pós-graduação.

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