Após manter a taxa básica de juros Selic em 10,50% ao ano durante duas reuniões, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, elevou em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira, passando o juro para 10,75% ao ano. A decisão foi unânime no colegiado e ficou dentro do esperado pelo mercado, embora com críticas do setor produtivo.

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No comunicado sobre a decisão (leia a íntegra no final desta matéria) o Copom explicou que considerou os cenários externo e interno para a decisão. A Selic estava em 13,75% ao ano em meados de 2023, passou por um ciclo de queda até chegar a 10,50 e, agora volta a subir.

O Banco Central mira a meta de inflação, que é 3% ao ano, podendo ser 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ele foca uma taxa de 3,5% ao ano para 2025.

Mas as projeções feitas junto ao mercado pela pesquisa Focus e pelo próprio governo estão indicando inflação acima da meta, de 4% ao ano ou mais.

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No cenário externo, apesar de os Estados Unidos terem reduzido pela primeira vez os juros nesta quarta-feira desde 2020, com um corte de 0,5 ponto percentual, passando para taxa entre 4,75% e 5%, a economia americana mostra incertezas sobre a queda da inflação. Além disso, os bancos centrais de outros países seguem mirando a meta de inflação em cenário de alta empregabilidade, que pressiona preços, argumentou o Copom.

No cenário do mercado brasileiro, também existe a pressão de preços em função da taxa de empregabilidade acima do esperado, segundo o Comitê. Existe também uma pressão nos preços de serviços, a alta do dólar e as instabilidades da política fiscal.

O setor produtivo estava pressionando para o Copom não elevar os juros ainda antes da reunião. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi uma das entidades que se manifestaram contra a volta de um ciclo de alta da Selic.

Mas, apesar das constantes críticas sobre a alta dos juros, que até pouco tempo eram feitas também pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a função principal do Banco Central é manter a inflação no intervalo da meta. Isso porque preços descontrolados geram recessão e as crises econômicas desagradam a todos, mas prejudicam mesmo os mais pobres.

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– O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos – explicou o Copom no último parágrafo da nota.

Leia a íntegra do comunicado do Copom:

O ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4,0%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,5% no cenário de referência (Tabela 1).

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O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

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Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

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