O Badesc, agência de financiamento de investimentos do governo de Santa Catarina, apresentou avanços no primeiro ano de gestão técnica, que tem à frente o servidor de carreira Eduardo Alexandre Machado. Em 2019, o Badesc obteve lucro líquido de R$ 44,5 milhões, 51,2% mais que o do ano anterior, reduziu despesas administrativas em 25% e elevou em 8,3% a carteira de crédito. Para 2020, o objetivo é ampliar a liberação de crédito, incluindo recursos internacionais porque o banco obteve avaliação de risco por agência internacional, a Fitch.
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Eduardo Machado, escolhido pelo governador Carlos Moisés da Silva para presidir a instituição desde janeiro do ano passado, é servidor concursado e estava atuando como auditor. É graduado em economia e ciências contábeis e tem mestrado em administração de empresas. Antes de ingressar no Badesc, foi professor da Única, hoje Unisociesc. Confira a entrevista de Machado, a seguir:
Como foi o primeiro ano da sua gestão à frente do Badesc?
– Para nós, 2019 foi um ano muito desafiador. Foi o primeiro ano de uma gestão técnica de um banco que vai fazer 45 anos de atuação agora, em 2020. Sou o primeiro servidor da instituição que é empossado na presidência da mesma desde o início do mandato. O Badesc é uma instituição de economia mista, estatal, que concorre no mercado privado. Nós operamos crédito para as empresas e municípios. Isso é um desafio porque competimos com fintechs, que há cinco anos não existiam.
Por sermos uma instituição de fomento e desenvolvimento, a gente preza muito pelo impacto que aquela operação de crédito vai ter na região onde o recurso vai chegar. Quantos empregos serão gerados, quanto a renda será majorada na localidade. Além do aspecto econômico, financeiro e jurídico, há o impacto socioeconômico. Vencer esses desafios para nós em 2019 foi conceder uma instituição que sempre teve um tamanho considerável, ajustar a instituição a um nível competitivo no mercado e ajustar os nossos produtos também porque nossos produtos de crédito precisam se ajustar ao mercado.
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Quantas vezes a taxa Selic foi reduzida em 2019? Foi a quantidade de vezes que tivemos que olhar para os nossos produtos e ver se eram adequados para atender o nosso cliente. Adequar produtos, adequar estrutura, reduzir privilégios, nos tornarmos uma instituição transparente. Isso tudo nos desafiou. Grande parte do resultado foi fruto desse engajamento do corpo funcional em fazer dar certo uma gestão técnica e voltar a organização para atendimento ao cliente, seja ele privado, público – a gente atende os municípios também – e para o segmento de microcrédito.
Como vocês estão atuando com o microcrédito?
O Badesc foi o precursor, pioneiro na estruturação e operacionalização do microcrédito em Santa Catarina em 1999, no governo de Esperidião Amin. A gente opera na segunda linha até hoje. A gente empresta recursos para as organizações de microcrédito, as Oscips, e elas é que operacionalizam na ponta. A gente atende o microcrédito com recurso próprio e recurso do BNDES. Estamos prontos e preparados – porque conseguimos o “rating” em 2019 – para operar com recursos internacionais. A gente já está em negociação para, no segundo semestre, operacionalizar a chegada de recursos externos.
Com quem vocês estão buscando recursos internacionais?
A gente está negociando com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). No caso do BID, será um possível programa para energia renovável. Até o momento são essas três instituições escolhidas porque elas se alinham com o nosso propósito, com os nossos objetos financiáveis. A gente quer fazer agricultura rural com produção orgânica, eles têm recursos para isso.
A gente quer intensificar energias renováveis, eles têm recursos para isso. A gente quer apoiar arranjos produtivos locais, eles têm recursos para isso. Essas condições que fortalecem o desenvolvimento regional do Estado são o nosso principal objetivo. Por isso a gente quer operar com esses que nos dão respaldo, inclusive com apoio técnico de estudos, pesquisas e financiamentos para essas finalidades, para identificarmos as necessidades de cada região para se desenvolver. As três instituições oferecem apoio técnico e financeiro. Nesse momento, BID é só energia renovável. Os demais podem apoiar esses arranjos produtivos.
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Os resultados gerais do Badesc tiveram salto importante em 2019. Como foi possível melhorar?
– A gente conquistou a maior lucratividade dos últimos 11 anos. O lucro líquido subiu 51,2% em relação ao ano anterior. Tudo isso fruto da manutenção dos últimos índices de novas operações de crédito. A gente não reduziu e incrementou a recuperação de crédito. Créditos estocados de operações inadimplentes e mais os leilões resultantes de operações inadimplentes. A gente intensificou as vendas com leilões.
Além disso, mantivemos a oferta de recursos para todos os ramos em que atuamos. Foi a primeira vez que a gente não teve um ajuste contábil para o resultado positivo. A gente segue as regras do Banco Central. Esse resultado foi possível principalmente devido à redução das despesas. Conseguirmos reduzir um quarto, praticamente 25% das despesas. Reduzimos contratos, colocamos a diretoria toda numa sala, reduzimos uma diretoria e uma vice-presidência. Mudamos também a atuação no interior. Fechamos os escritórios nas seis mesorregiões do Estado. Hoje, mantemos o atendimento nessas regiões, mas o gerente vai visitar os clientes. O agendamento é feito pela sede, em Florianópolis. Cada gerente visita pelo menos três clientes por dia. Isso gerou uma economia gigantesca. Fizemos isso sem prejudicar a operação.
Como está a inadimplência no Badesc?
A inadimplência foi um indicador que a gente atacou fortemente em 2019 e conseguimos deixá-la muito perto de 1%. Ficamos muito abaixo do mercado. Segundo o Banco Central, a média do país está em 3%. Nos anos anteriores a nossa inadimplência estava mais de três. Isso foi fruto do esforço de recuperação de crédito, cobrança administrativa e de estar mais próximo do cliente com alguns produtos de crédito, como o Badesc Renovação. Nesse caso, o banco oferece complemento de crédito para a empresa, trabalha de forma proativa para o cliente não ficar inadimplente.
Qual foi a participação percentual das operações privadas e públicas no banco, ano passado?
Nós tivemos cerca de 55% das operações com o setor privado, 40% ao setor público e 5% de microcrédito.
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Como é a participação do Badesc nas operações para o juro zero?
No caso do juro zero, as operadoras de crédito são as Oscips. O cliente toma recurso emprestado e, a última das oito prestações é paga pelo Badesc caso o tomador do recurso não ficou inadimplente. O total destinado ao juro zero, anualmente fica em cerca de 4,5 milhões por ano. O mecanismo do juro zero é assim: o empreendedor financia até R$ 3 mil em oito parcelas. Se ele pagar até a sétima prestação corretamente, o Badesc paga a oitava prestação para a Oscip, que repassa essa vantagem.
Qual é a previsão de oferta de recursos pelo Badesc para 2020?
A gente tem estimativa de financiar este ano pelo menos R$ 200 milhões ao setor privado. Aí a gente inclui o microcrédito que é uma parte disso, e pelo menos R$ 150 milhões para o setor público. Aí, teremos cerca de R$ 350 milhões para este ano. Se a gente conseguir o incremento de fontes internacionais, é possível que esse montante cresça um pouco. A liberação de recursos internacionais é mais demorada, talvez possa chegar algo no segundo semestre, mas a gente planeja mais R$ 200 milhões em créditos internacionais. Como é a primeira vez que o Badesc consegue rating (nota de risco) internacional, será a primeira vez que vai captar recursos no exterior.
Como estão as taxas de juros praticadas pelo banco?
Praticamos taxa de mercado. A mais baixa é a de 0,49% ao mês, que fica muito próxima de 7% ao ano, para um prazo de 10 anos. A taxa depende do que é financiado, garantias da empresa e outros critérios. Empresas inovadoras têm conseguido recursos a taxas bastante convidativas.
Vocês financiam também startup?
Sim. Elas têm maior dificuldades para compor garantia. Até bem pouco tempo atrás, a gente não operava com startup porque não tínhamos linha que aceitasse fundo garantidor. Hoje temos o fundo do BNDES, o FGI, e de outras sociedades garantidoras de crédito. O fato de termos uma equipe de técnicos qualificados e experientes, facilita a liberação de crédito mais rápido.
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Que projetos são financiados para prefeituras?
Atualmente, 90% das solicitações que nos chegam das prefeituras são para pavimentação asfáltica. Os demais 10% vão para obras de infraestruturas como viadutos, creches, posto de saúde, escolas, compra de ônibus e ginásios de esporte. Há muitas prefeituras nos procurando para instalar usinas solares em ginásios de esportes porque é uma opção para economizar na conta de luz.
Temos uma linha para prefeituras, também, que é para a conversão da frota de veículos da prefeitura de gasolina para gás natural (GNV). É um programa com taxa bastante convidativa, mas que ainda não tem grande procura. Temos também linha para financiamento de saneamento, tanto própria, quanto pela Caixa. Faz tempo que não temos projetos desses para financiar. Eu só não posso financiar a Casan com essas linhas, porque é uma empresa controlada pelo Estado, a exemplo do Badesc.