Considerada um dos maiores desafios do mundo atualmente, a sustentabilidade ambiental também entrou nas prioridades dos turistas. Hoje, de 50% a 80% dos viajantes gostariam de ir para destinos sustentáveis, informa Albert Salman, presidente da Green Destinations, instituição da Holanda que realiza uma premiação internacional de turismo sustentável e certificações de destinos e equipamentos turísticos nessa área. Para ele, o Brasil tem condições de ser líder mundial em hotéis sustentáveis.  

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Nesta entrevista exclusiva, o empresário europeu também chamou a atenção para o fato de que, atualmente, dos mais de 1 milhão de hotéis no mundo, apenas 15 mil têm certificação ambiental, isto é, cerca de 1,5% do total. E uma das dificuldades dos turistas é encontrar destinos sustentáveis para visitar.  

O empresário foi um dos palestrantes da Conferência Latino-Americana Green Destinations, que reuniu no Hotel Vila do Farol, em Bombinhas, no litoral de Santa Catarina, terça e quarta-feira, especialistas do Brasil, América Latina e Europa para discutir turismo ecológico. O evento também contou com apresentação de cases do Brasil e exterior e foi acompanhado por lideranças de SC.

A conferência foi realizada em parceria com a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) e o Instituto de Desenvolvimento Econômico Local (Idel) que atua como parceiro nacional da Green Destinations para certificar equipamentos turísticos sustentáveis. Saiba mais a seguir na entrevista de Albert Salman:

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Como é o trabalho da Green Destination e o que vocês estão priorizando?  

– Nos últimos anos, cresceu muito a sensibilidade tanto por parte dos turistas, mas também por parte das empresas ofertantes de turismo com a responsabilidade em relação ao tema sustentabilidade. A gente tem feito levantamentos anuais e chegamos à relevância de 85% do tema sustentabilidade no contexto do turismo.

De 50% a 80% dos turistas falam que gostariam de viagens mais sustentáveis, de ter hotéis mais sustentáveis, ter restaurantes mais sustentáveis, mas não sabem como achar esses lugares. A gente fala com sites do setor hoteleiro e eles dizem que têm o mesmo desafio.

Essas plataformas dizem que gostariam de dar essas informações aos turistas, de dizer, olha, essas são as opções sustentáveis que temos. Atualmente, temos mais de 1 milhão de hotéis no mundo e somente 15 mil certificados em sustentabilidade.

Se a gente quiser corresponder a essa demanda, a gente precisa de políticas nacionais para incrementar rapidamente essas certificações de sustentabilidade de hotéis e outros equipamentos. As pessoas não encontram hoje porque, de fato, não existem.

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Como evoluir nessas certificações de hotéis sustentáveis?  

– Se a gente tem hoje somente 1% dos hotéis certificados, uma proposta para os destinos é chegar a 5%, 10%, 20% ou 30% quem sabe dentro de uma década. Assim, daqui a 10 anos poderemos dizer que 30% da nossa hotelaria é sustentável, algo expressivo que vai atender um mundo crescente de público.

Isso facilita o trabalho de um país como a Eslovênia, por exemplo, que é extremamente pequeno. Eles vão ter fôlego para certificar 70% dos seus hotéis num prazo relativamente curto.

A Guiana (país da América do Sul que foi colônia britânica), por exemplo, quer também trabalhar nessa linha e certificar todos os hotéis ecológicos que têm na Amazônia. Assim, o ecoturista que quer visitar a Amazônia, na Guiana, vai estar num hotel ecológico.

Como está esse movimento de reconhecimento no Brasil

– No Brasil, todas as cinco regiões turísticas têm buscado esse reconhecimento de empreendimentos turísticos sustentáveis, não somente de hotéis, mas também restaurantes, agências de viagens, escolas de mergulho e outros. Se acontecer um alinhamento entre o setor público e a iniciativa privada para trabalhar em cima desse tema, aí haverá mesmo grandes avanços que vão beneficiar todo o turismo.

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Começamos em pequenos lugares da Europa para inspirar o mundo. Mas hoje Santa Catarina inspira a Europa. As pessoas do Estado estão inspirando muito o Brasil hoje, cheias de gás, cheias de atitude. Isso contamina outras pessoas.

Acredito que conhecendo as pessoas, como o presidente da Facisc, Sérgio Rodrigues Alves, e o Andreas Dohle, diretor técnico do Instituto DEL, com uma equipe dessas será possível fazer a coisa acontecer e impressionar o mundo. Eu espero que isso inspire o Brasil e toda a América Latina.

No seu país, a Holanda, quanto por cento dos hotéis têm selo de sustentabilidade?

– Atualmente, na Holanda, 8% dos hotéis são reconhecidos como sustentáveis. Mas nossa meta é que o Brasil seja referência para o mundo, para virar o jogo, para não primeiro mundo não sempre dizer o que fazer, mas a gente mostrar um país emergente e dizer: olha, o país mais sustentável hoje é o Brasil.

Eu acho que isso é possível. Primeiramente, não em todo o Brasil, mas num estado como Santa Catarina que pode virar referência. A gente percebe que no mundo lá fora muita gente fala de sustentabilidade, mas não vive tanto isso de verdade.

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Muitas vezes é melhor falar que vamos salvar a água, salvar a energia. Se fala em salvar o planeta, mas salvar o planeta pode ser tão complexo! Muitas vezes colocam frases assim nas paredes de diversos ambientes, mas nada disso se transforma em atitude. E aí você perde muitas vezes a inspiração, o interesse do turista porque ele percebe que não tem ação, apenas uma placa divulgando.

Por que acha que o Brasil pode ser o país com o turismo mais sustentável?

– Porque estou vendo o que está acontecendo. Acho que o Brasil será o país com o maior número de hotéis e empreendimentos certificados como sustentáveis nos próximos três anos.

O que é um hotel sustentável? 

– É preciso ver o que as pessoas desejam de um hotel sustentável. Muitas vezes são coisas simples. As pessoas querem um hotel limpo, sem barulho, sem perturbações. Nada difícil de ser alcançado. Ecoeficiência, com certeza, é fundamental. As pessoas esperam separação do lixo, que nem todos os aparelhos de ar condicionado fiquem ligados a 14 graus o dia inteiro. Pense no que você deseja em sustentabilidade e vai ter muitas respostas.

Acho importante também movimentar o máximo a economia local. Apresentar comidas e bebidas locais. As pessoas da Europa não querem tomar uma Heineken aqui. Preferem uma caipirinha e o refrigerante Guaraná, que são locais. Hoje, aqui no hotel, por exemplo, comemos tapioca, que é um prato brasileiro.

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Que certificações a Green Destinations oferece por meio do Instituto DEL?

– Temos as certificações de empreendimentos turísticos que fazemos aqui com o Instituto DEL no Brasil para todos os tipos de empresas do setor. Por outro lado, temos também certificações de destinos turísticos e espaços turísticos. São essas duas vertentes de trabalho.

Como obter essas certificações?

– Para obter essas certificações, é preciso fazer contato com o Instituto DEL, que acompanha as empresas. Dependo do grau de organização das empresas, algumas conseguem em 60 dias e outras demoram mais, porque precisam se organizar e ver documentos. No caso de destino, demora cerca de um ano.

O senhor veio para esse evento por Florianópolis. O que achou da Ilha de SC e como é a sua cidade na Holanda?

– Florianópolis é uma cidade bonita, com paisagem encantadora. Eu venho de um local totalmente plano. A montanha mais alta da Holanda tem 400 metros. Venho da cidade de Leiden, uma das mais antigas do país e mais vocacionada para o meio ambiente.

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