Em palestra para industriais de Santa Catarina na noite desta quinta-feira (23), na sede da federação do setor, a Fiesc, o banqueiro André Esteves, chairman do BTG Pactual, afirmou que está mais preocupado com a economia mundial do que com a do Brasil. Isso porque enquanto o país vai fechar 2022 com crescimento de 2% apesar das dificuldades, o Fed, banco central dos EUA terá que elevar mais os juros para conter inflação de 8,5% ao ano e isso vai provocar recessão global.
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Mas ao contrário de outras crises econômicas geradas por desequilíbrios da economia americana, esta não vai causar recessão em economias periféricas, como a do Brasil, estimou o banqueiro. Essas profundas crises ocorriam porque o capital estava nesses mercados emergentes e fugia para os EUA em busca de rentabilidade melhor dos juros altos. Agora, no entanto, isso não vai ocorrer, segundo ele, porque o capital está investido no setor de tecnologia dos Estados Unidos.
– Hoje, a taxa de juros dos Estados Unidos é entre 1,5% e 1,75%. Se você considerar que a taxa de juros neutra é 2,4%, a meta de inflação é 2% e a inflação é em 8,5% ao ano, parece que o Fed (banco central dos EUA) vai ter muito trabalho para poder trazer essa inflação para o centro da meta. Esse muito trabalho vai mexer numa única variável, que é a taxa de juros americana. A única coisa é que essa variável é o preço mais importante da economia mundial – explica Esteves.
– Eu acho que a partir dessa resposta ao desafio inflacionário o banco central americano vai provocar – não que ele deseja – mas vai acontecer uma recessão. Eu acho que essa recessão vai ser maior do que as pessoas estão precificando e, eventualmente, as taxas de juros também vão ter que subir mais do que as pessoas estão precificando – disse o banqueiro na sequência.
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Para ele, essa situação difícil vivida pela economia americana está ligada à nova situação mundial, com a covid-19 e a guerra na Ucrânia. Mas é uma consequência, também, do fato de os EUA terem vivido por 15 anos uma fase de crescimento ininterrupto com taxas reais de juros negativas e pleno emprego.
Outro obstáculo, que ajuda para esse cenário internacional negativo é a transição energética, a descarbonização. É um processo que não acontece de forma combinada, mas tem impactos relevantes. Ele citou que no ano de 2021 o mundo registrou o mais baixo investimento dos últimos 20 anos em exploração de petróleo em águas profundas.
Sobre as razões que motivam otimismo no Brasil apesar do cenário difícil, André Esteves destaca a previsão de 2% de crescimento do PIB este ano e a expectativa da maior taxa de investimento dos últimos anos.
Isso é consequência, principalmente, da série de reformas que estão sendo feitas no Brasil, entre as quais a trabalhista, previdenciária, definição de teto de gastos e até a redução do ICMS para 17%. O presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, que foi o mediador da série de perguntas, elogiou o otimismo de Esteves sobre a economia brasileira.
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Em comum com Santa Catarina
– Para um carioca que mora em São Paulo, se foge para o Rio, você tem qualidade de vida e não tem o empreendedorismo que tem em São Paulo. Aí você chega em São Paulo, tem um empreendedorismo maravilhoso, mas não tem a qualidade de vida do Rio. Você só encontra os dois aqui em Santa Catarina – disse André Esteves
O banqueiro fez esse comentário após assistir a um filme produzido pela Fiesc sobre Santa Catarina, que destaca o Estado como o 6º maior Produto Interno Bruto (PIB) do país, com a maior longevidade e melhor qualidade de vida. A sequência de imagens do vídeo mostra produtos em que SC é líder nacional, algumas dezenas de setores industriais do Estado e paisagens deslumbrantes.