Embora tenha passado dos 70 anos, o prefeito de Joinville, Udo Döhler, é um jovem estrategista na forma como planeja e executa ações voltadas ao futuro da maior cidade do Estado. Automatizou a gestão, o trânsito, está levando robótica e o teste de Pisa para a educação municipal e prevê um salto do setor de tecnologia na cidade. Confira na entrevista que me concedeu durante a Expogestão.
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O que a prefeitura de Joinville está fazendo para avançar na educação?
Passamos pelo primeiro estágio na educação. Melhoramos o ambiente físico das escolas. Não tínhamos ar condicionado, nem notebooks para os professores, nem tablets para os alunos e lousas nas salas de aula. Hoje todas as salas estão equipadas com tudo isso. Conquistamos o melhor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Sul do país. Agora estamos muito próximos de medir o aprendizado dos nossos alunos não mais pelo Ideb, mas pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que Cingapura usa.
O objetivo é preparar essa criançada para que no futuro não fiquem desempregados. É preciso investir em ciências e matemática. É claro ninguém vai deixar de lado as ciências humanas, mas a ciência e a matemática são essenciais, estão no DNA da inovação. Nossas escolas estão equipadas com laboratórios de ciências, estamos abrindo os espaços makers e a robótica. A criança não vai mais optar por ser pedreiro ou tecelão porque essas profissões vão desaparecer.
Como a tecnologia avança na cidade?
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Vou dar um exemplo que num primeiro momento pode ser muito bonito, parece papel. Mas não é papel. Já aconteceu ou está acontecendo. Joinville tem 168 anos. Nós temos o Perini Business Park que em menos de 20 anos instalou aí 21% do PIB da cidade. Então, ¼ da cidade de Joinville tem menos de 20 anos. Só que esse condomínio não é no modelo convencional. Está dentro da realidade 4.0, temos aí a tríplice hélice: a UFSC, o Ágora Tech Park que está investindo R$ 120 milhões e as empresas. Esse condomínio é referência na América Latina. Acredito que daqui a 15 anos, ou antes – estou dando lá um marco extremo – Joinville vai ser líder de inovação na América Latina.
O que leva a cidade a se destacar na geração de empregos?
É que a gente está se preparando para esse processo de mudança. Esse condomínio industrial que eu mencionei está voltado à economia 4.0. Eu gostaria de dizer que temos uma quadra em Joinville onde existem dois edifícios que abrigam duas unidades de tecnologias de informação que empregam 2 mil pessoas de nível superior. As empresas são a Neogrid e a Totvs, só para dar um pequeno exemplo. Só que isso é o passo inicial.
Há críticas ao licenciamento ambiental…
Isso (licenciamento) já está resolvido. Por que o investidor vem para cá? Porque ele está enxergando o futuro que vai acontecer em Joinville. Mas tudo vai parar com o que vimos até aqui com o Perini Business Park? É claro que não! O Perini é horizontal. E se eu disser que está sendo prospectado um condomínio vertical do tamanho do Perini? Pode parecer fantasia, mas não é. Vamos ter surpresas boas.
O que a cidade vai ter que fazer agora?
Diminuir as desigualdades porque o talento só vem para cá se ele tiver uma boa qualidade de vida. As nossas escolas são boas, no nível médio temos que avançar um pouco, mas a academia (ensino superior) vai bem, a cidade está ganhando uma outra roupagem. Geograficamente, estamos bem. Eu sempre digo que Joinville é como a Nova Zelândia. Lá, as pessoas dormem na montanha ou descansam na praia. Aqui não é muito diferente.
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Qual é o legado que o senhor vai deixar para o futuro prefeito?
É a mudança de gestão. Não foram a educação, saúde e segurança que mudaram a cidade. Hoje não é mais essencial eu dizer para o investidor que venha a Joinville porque a sua energia elétrica está assegurada para os próximos 30 anos porque o linhão de Itaipu termina aqui. A cidade pode triplicar a sua economia hoje porque temos energia elétrica.
Eu não preciso dizer mais para o investidor olhar nosso suprimento de água porque temos como atender o dobro da população. O investidor tem apelo muito mais importante do que esses que é a inovação. Nós criamos o Join.Valle na prefeitura e entregamos para o setor privado para prevenir o clientelismo político. E foi o Join.Valle que estimulou a criação do Ágora Tech Park que já está funcionando com empresas como a Pollux, ContaAzul e “jogadores” do Vale do Silício.
A sua gestão continua gastando 40% da receita em Saúde?
Caiu um pouco, estamos com 38,9%. É um desconforto porque o nosso compromisso constitucional é de 15%, a média que os municípios de SC gastam é 22%, Florianópolis só gasta 18% (porque tem hospitais do Estado e da União). Isso vai afundar a cidade de Joinville? Acho que não porque queremos que a nossa maior parte de receita, que vem do retorno do ICMS perca para o Imposto sobre Serviço (ISS). Vamos conquistar isso em uma década. E no futuro, as cidades que são núcleos de regiões metropolitanas terão que ser compensadas pelas prefeituras que enviam pacientes para tratamentos.