O empresário Sérgio Rodrigues Alves, de Joinville, assume a presidência da Federação das Associações Empresariais do Estado (Facisc) nesta terça-feira, às 16h, em cerimônia virtual devido à pandemia. Em entrevista à coluna, ele falou sobre as propostas para a nova gestão, comentou sobre a assembleia extraordinária da entidade marcada pelo movimento de oposição para o dia 16 deste mês para questionar a eleição na entidade e falou também sobre impeachment e temas nacionais. Alves, que é ex-secretário da Fazenda de SC e ex-presidente da Celesc, defendeu aprovação da reforma tributária em partes, começando pela CBS, proposta do governo federal para unificar o PIS, Cofins e outras taxas. Confira os principais trechos da entrevista. A solenidade de posse será transmitida pelo Canal Facisc no YouTube http://youtube.com/FACISC

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A sua posse na presidência da Facisc será nesta terça-feira, mas o mandato começa em 2 de janeiro. O que a nova diretoria vai priorizar até lá?

A nossa diretoria está focada no planejamento para fazer uma gestão voltada ao associado. O nosso desafio é a satisfação do associado com a Facisc. A federação precisa ser um porto seguro e um centro de excelência como entidade ao empresário, considerando transparência, ética, governança. Nossas diretrizes de trabalho têm dois eixos: um na parte de gestão interna e outro na parte de integração do associado com a entidade. Em cima disso, estamos fazendo um planejamento, buscando informações e ideias junto aos associados. Vamos mostrar o nosso plano, mas ouviremos o associado. O objetivo sempre é o fortalecimento do associado e que ele esteja próximo da entidade.

A Fascisc surpreende pela grandiosidade. Hoje, SC tem 295 municípios, desses, 148 têm a presença da federação por meio de associações que reúnem de 34 mil a 35 mil associados. Se considerarmos a abrangência dessas empresas, estaremos falando de 2 milhões de catarinenses. Então a representatividade que a Facisc tem perante seu associado é muito séria, de muita responsabilidade. A nossa diretoria está com a consciência voltada para isso. Vamos fazer um trabalho para contemplar essa abrangência. O objetivo maior é aumentar o grau de satisfação do associado.

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O grupo de associações que fez oposição à sua chapa e lançou a candidatura do empresário Doreni Caramori à presidência, marcou uma assembleia geral da Facisc para dia 16 deste mês para questionar a eleição. Qual é a expectativa de vocês sobre essa assembleia?

– Isso está previsto estatutariamente. Um quinto dos associados pode solicitar a convocação de uma assembleia. Eles justificam essa convocação em cima de oito ou nove questionamentos que já estão totalmente respondidos e contemplados com relação ao que querem discutir na assembleia. As respostas estão aí. Não existe nenhuma irregularidade. Os questionamentos que foram levantados não procedem. E quando você vê o resultado da eleição em que a grande maioria votou favorável à nossa chapa, não faz sentido fazer uma assembleia para discutir isso.

A partir de janeiro vou criar um comitê para alterar esse estatuto porque vejo enormes falhas com relação a tudo isso. Da minha parte, não tem problema em revisar. A minha visão é a seguinte: nós queremos fazer um trabalho associativo, que todos estejam juntos. Não há necessidade de se criar situações que possam dividir o associativismo. Mas cabe esse tipo de recurso para eles, então vamos fazer como manda o estatuto.

Como vocês tiveram a maioria dos votos, o senhor confia que o resultado da eleição será mantido?

O resultado da eleição deu ampla maioria para nós. Foram 78% que votaram a favor da nossa chapa. Os outros que não conseguiram votar me telefonaram explicando que não conseguiram registrar o voto naquele dia mas que apoiam a nossa chapa. Então, posso garantir que 90% manifestou apoio e voto favorável para nós. Até outros que fazem parte desse movimento de oposição já me telefonaram manifestando apoio, no sentido de que agora vamos trabalhar unidos, independente do passado. É gratificante ouvir isso de integrantes de uma chapa de oposição.

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Antes da eleição, o senhor apresentou um plano para o seu mandato à frente da Facisc com cinco pilares: representatividade, integração e diálogo, capacitação, inovação e soluções e projetos. O que vai priorizar quanto à representatividade?

A representatividade, na nossa concepção, é o seguinte: até pela grandiosidade da Facisc, ela tem condições de sentar junto com representantes de outras instituições para falar sobre planejamento e muitos outros temas. Um exemplo é que há poucos dias nós sentamos junto com a Federação das Indústrias do Estado (Fiesc) para discutir com a SCGás a situação da oferta de gás natural em Santa Catarina. Temos uma retomada econômica forte e há uma grande preocupação com o risco de falta de gás caso a economia mantenha esse ritmo de crescimento. Acho importante essa representatividade na esfera nacional, estadual e também municipal. Hoje, o nosso grande gargalo é a parte de infraestrutura no Estado e municípios. Então, é preciso levar essas demandas para a frente com apoio do Fórum Parlamentar de SC e de outras instituições. É importante esse trabalho porque é possível criar uma sinergia entre os associados com os órgãos públicos federais, outras entidades. É nesse sentido.

O que vocês pretendem fazer em termos de integração e dialogo na Facisc?

A integração é fundamental porque queremos estar muito próximos do pequeno associado, aquele que está longe também. Vamos buscar uma aproximação para que os objetivos da associação mais distante estejam em sintonia com os objetivos da Facisc. A federação precisa ser um porto seguro para todos. A gente quer trazê-los juntos com objetivo de colaborar com a capacitação técnica deles, com a troca de informações com outras entidades porque, muitas vezes, os desafios são semelhantes. Existe uma gama de alternativas que a gente pode levar ao pequeno associado. O diálogo tem que ser constante. Hoje, com a facilidade que temos de comunicação, você não precisa estar se deslocando. E também temos uma equipe de técnicos, de consultores, que pode ajudar muito nisso em todas as regiões. Vamos trazê-los bem próximos da Facisc.

Outro pilar do programa de trabalho de vocês é a capacitação. Quais são os planos para isso? Incluem a Fundação Empreender?

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– Essa área é a grande cereja do bolo. Eu estava desenvolvendo um trabalho na região Norte do Estado para criar a Escola de Sucessão Empresarial. Hoje, 95% das empresas associadas à Facisc são familiares. Seguramente, elas não têm um plano de sucessão para transferir a gestão de pai para filho, ou para algum parente ou executivo. Então, estamos criando essa escola para preparar os sucessores dentro das empresas. Elaboramos um programa de oito módulos para essa escola. Nós vamos estar muito próximos do pilar da capacitação com a Facisc. A Fundação Empreender é um braço técnico da Facisc e, com esse programa, vai dar muito apoio a todos os associados. Nós pretendemos levar esse programa para todo o estado e, na minha concepção, irá para outros estados porque é um programa importante para todas as empresas familiares. Eu sou de uma empresa familiar, estamos passando por um processo de sucessão e sei o quanto é importante preparar o sucessor e o sucedido. Além disso, vamos criar projetos para preparar os executivos das associações para eles entender como são os trâmites junto à Facisc.

E para o Projeto Empreender, que reúne os núcleos setoriais, o que vocês estão prevendo?

O diretor para essa área é o ex-presidente da Facisc, Antonio Rebelatto, uma pessoa que tem um cabedal de conhecimento fantástico e eu me sinto à vontade em tê-lo à frente do projeto Empreender. Hoje, temos nas associações vinculadas à Facisc 560 núcleos setoriais. Veja a grandiosidade. E é um projeto que está sempre se renovando, criando novas oportunidades. O objetivo desses núcleos é a integração, é a troca de experiências, o pequeno sendo ajudado pelo médio empresário.

Quais são os planos para incentivar a inovação?

Vivemos uma era tecnológica, a forma de comunicação mudou, a forma de fazer negócios e até de comprar alimentação mudaram. Hoje, você faz negócio por e-commerce, usa aplicativo para adquirir alimentos. A pandemia mudou muitos hábitos. A tecnologia facilitou muito e veio ao encontro da integração. A inovação, para a entidade, contempla várias frentes. Constituímos um comitê que está definindo novos programas. O objetivo é definir novas oportunidades para troca de experiências e negócios.

Um dos pilares envolve soluções e projetos. O que programam para essa área?

Esse pilar é muito importante. É aquilo que vai levar valor agregado ao associado. Temos soluções já oferecidas e lançaremos outras. A nossa diretora para soluções e projetos financeiros é a Isabel Baggio, presidente do Banco da Família. Estamos trazendo a expertise dela nessa área para atender o associado. Na época da pandemia, a Facisc disponibilizou mais de R$ 500 mil para emprestar a associados que necessitaram de crédito.

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O governador de Santa Catarina enfrenta processo de impeachment. Como o senhor vê essa situação e que tipo de dano um afastamento de governador traz à economia?

Eu faço duas leituras sobre isso: a questão política e a questão econômica. Na questão política, nunca é bom, para qualquer estado, ter um governador enfrentando processo de impeachment. Isso paralisa investimentos, principalmente em infraestrutura, que é a nossa grande necessidade. Mas quanto à questão econômica, eu digo com toda a certeza: nós temos uma economia bem resolvida. Ninguém vai parar a sua atividade na época de um processo de impeachment. Ele não afeta diretamente a economia. Pode afetar uma empresa que esteja se programando para instalar unidade no Estado. Ela poderá postergar o investimento para ver como ficará a situação do governo. Isso porque poderá necessitar de algum incentivo do setor público. Mas a economia catarinense está muito bem resolvida, não será afetada pelo processo de impeachment na minha avaliação.

Quanto ao cenário econômico nacional, o que vai bem e o que preocupa?

O grande momento que vamos passar é a necessidade de fazer uma reforma tributária. Eu sempre digo que estamos há pelo menos uns 10 anos atrasados na aprovação de uma reforma tributária. Eu tive oportunidade de estar envolvido com isso diretamente quando eu era secretário de estado da Fazenda. As empresas não suportam mais a carga que está aí. Hoje, nós temos duas propostas de reforma. Aquela apresentada pelo governo de unificar impostos e contribuições e criar a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços com alíquota de 12%) e a emenda 45, que está em discussão no Congresso. Eu sou favorável que alguma coisa se faça imediatamente porque eu parto do seguinte princípio: numa porteira aberta em que passa um boi, passa uma boiada. Então, é preciso começar. A CBS, que prevê a unificação do PIS e da Cofins é o início de alguma coisa. Há muita demanda judicial em cima desses tributos. Se unificar, vai simplificar a arrecadação.

Por outro lado, eu fico satisfeito quando a gente observa ministros e equipes profissionais num governo como temos nas pastas de Economia, Infraestrutura e outras, fazendo um belo trabalho. Infelizmente, temos o impacto da pandemia, que trouxe muitos prejuízos, e o impacto da política, mas ano de eleição é assim. Apesar disso, tem muita coisa andando e eu acredito que a reforma tributária é fundamental. Eu pretendo, na Facisc, criar um comitê de discussão da reforma tributária para contribuir com nossos parlamentares nessas discussões.

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O senhor acredita que só a CBS é suficiente ou seria necessário uma reforma total?

Eu não acredito que a reforma total seria a ideal no momento porque isso demoraria 10 anos e a nossa necessidade é de curto prazo. No mínimo, aprova a CBS. Depois, à medida que se percebe que isso dá certo, é possível avançar em outros tributos.

O país enfrenta muitas críticas sobre a política ambiental, avanço de desmatamentos. Como o senhor vê essa questão?

Acho que tem muita polêmica, fogo amigo. Mas acredito que o governo está fazendo a parte dele.