Primeiro empresário do setor de tecnologia a presidir da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), Rodrigo Rossoni assume terça-feira (14), em evento a partir das 18h, no Teatro Pedro Ivo. Ele sucede Luciano Pinheiro. Natural de Criciúma, veio para a Capital para cursar Administração na Esag (Udesc) e Direito na UFSC. Logo que se formou, fundou a Cellmídia, mais tarde abriu mais uma empresa, de consultoria e, em 2017 fundou a startup Omnicloud, voltada para inteligência de dados empresariais. Entre as prioridades nos dois anos de gestão à frente da Acif estão a melhoria do ambiente de negócios e apoio à desestatização. Defende, por exemplo, a concessão da Ponte Hercílio Luz, principal cartão postal de SC. Saiba mais na entrevista a seguir:
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O que a sua gestão vai priorizar à frente da Acif?
Há um propósito muito claro para nós que é pulsar e prosperar Florianópolis. Essa é a essência do porque estamos assumindo essa missão. Para isso, vamos atuar em três frentes fundamentais. Primeiro, a Acif usa sua representatividade – história, marca, aproximadamente 4 mil empresas associadas e uma rede de aproximadamente 400 voluntários entre diretores, conselheiros, núcleos e regionais – para atuar no ambiente de negócios. Temos pontos a priorizar no ambiente de negócios nos próximos dois anos. Primeiro é a bandeira da desestatização que levantamos no início deste ano. Os governos querem desestatizar, mas precisam do apoio da população. Nós vamos apoiar.
Quais são os outros dois pontos prioritários?
Também vamos priorizar a desburocratização e a segurança, tanto do lado jurídico para os negócios quanto a segurança pública. A sensação de segurança é fundamental para as pessoas se sentirem atraídas para visitar a cidade. Muitos turistas que visitam o Rio de Janeiro, por exemplo, poderão vir até Florianópolis, o que ajudará a cidade se tornar um hub. Na desestatização e desburocratização vamos priorizar debates.
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No caso de desestatização, o que vocês vão defender?
Vou dar um exemplo que serve para Florianópolis e Santa Catarina. Olha o investimento que está sendo feito nos últimos 20 ou 30 anos na revitalização da Ponte Hercílio Luz, o maior símbolo do Estado. O símbolo é do Estado, da cidade, mas poderia ser concedido à iniciativa privada. Todo visitante que vem a SC gostaria de fazer uma foto lá. A Ponte Hercílio Luz pode ser o maior mirante da cidade, a ponte pode ter um shopping cada lado, pode ter vários níveis de visitação.
A ponte é um dos maiores ativos que o Estado tem e não pode ficar largada. Tem que deixar a iniciativa privada fazer o trabalho que em qualquer país desenvolvido seria feito, que é desenvolver aquele ativo turístico para gerar renda. A Ponte Hercílio Luz é o nosso Cristo Redentor, que é uma concessão. Tenho certeza que muitas empresas se interessam em gerir esse ativo. A Acif é a favor do projeto Ponte Viva, que prioriza a ponte para pedestres e ciclistas. Para manter a ponte serão necessários cerca de R$ 5 milhões por ano. Quem vai manter? Temos também a Comcap e a Casan. Esses serviços precisam ser viabizados.
A Acif, em parceria com a Acate, criou um hub internacional. Qual é o objetivo?
Nosso objetivo é mais de atração. Mostrar as potencialidades da cidade para que novas empresas venham se instalar aqui. Um exemplo foi a atração da empresa Peixe Urbano. Dentro disso, também estamos dando um grande apoio à economia criativa. O Floripa Conecta vem aí, será de 9 a 18 de agosto e já tem mais de 30 eventos conectados. Um deles é o Startup Summit. Fizemos o lançamento no SXSW em Austin, no Texas. Nosso objetivo é que ele se torne o maior evento de economia criativa da América Latina.
Florianópolis é uma cidade competitiva?
Vamos nos comparar com quem? Olhando para dentro do Brasil, Florianópolis está top. Mas olhando outras cidades do mundo, qual é a nossa posição, o que precisamos para chegar lá? Temos potencial para ir na direção entre as melhores do mundo. Somos a cidade mais empreendedora do Brasil. Mas o que precisa para ser a melhor do mundo e quais são os critérios para chegar lá. Quando se fala em competitividade empresarial, pergunto o que as empresas de Florianópolis precisam para se tornarem mais competitivas. Isso vem um lado bem estratégico da Acif, que tem a ver com soluções, capacitação empresarial, para que os empresários e colaboradores tenham na rede da associação uma rede de apoio. A Acif é uma rede de proteção para o empresário de Florianópolis. Queremos atrair novas empresas para o município, redes empresariais que olhem para a cidade como um ativo para se estabelecer aqui. Com isso haverá mais recursos financeiros para a cidade, mais pessoas com a sua renda para investir. Quanto mais prosperidade econômica trouxermos para cidade, mais inclusão social teremos, mais oportunidades de desenvolvimento do meio ambiente. Quando se fala em prosperidade, temos que ver todas as dimensões. A gente entende que o melhor de prosperar é com a geração de empresas com capacidade de crescer e se desenvolver. Incentivar para que as nossas empresas exportem é muito importante. Capacitá-las para exportar é muito importante.
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Como vê o futuro da cidade?
Penso na tendência das smart cities. A presença da robótica será cada vez mais forte nas nossas vidas. As distâncias se encurtaram pela comunicação, mas as pessoas sentirão falta de convivência. Então, a cidade como espaço para proporcionar essa convivência vai ser importante. Temos que priorizar as construções legais, facilitar a urbanização mais moderna, sustentável. É preciso que as diversas classes convivam nos mesmos ambientes e todos evoluam. Eu penso que Florianópolis tende a ser mais desenvolvida e inclusiva. Sob o aspecto tecnológico, não consigo antever todas as transformações que virão daqui para a frente em função das inovações disruptivas. Cada vez mais teremos veículos autônomos, fontes renováveis e limpas, veículos elétricos mais presentes na nossa comunidade.
Como avalia as gestões públicas do país, Estado e município?
Vejo com bons olhos as premissas que se colocaram no governo federal de libertar as amarras do setor produtivo. Não tem outro jeito de desenvolver a economia se não pelo desenvolvimento das empresas que geram emprego e renda. É preciso agregar valor. No caso do governo estadual a gente vê com muita esperança o trabalho que vem sendo feito, pensamos que precisa ter uma conexão maior com a sociedade, buscar mais os atores políticos da sociedade como as entidades empresariais, associações e federações de diversos setores. O governo pode contar com essas entidades para debate e também para apoio. Tanto o governo federal quanto o estadual foram eleitos porque ofereceram esperança, então devem usar essa esperança para fazer as transformações que são necessárias. No âmbito do governo municipal vemos uma preocupação favorável ao desenvolvimento econômico, várias transformações foram feitas com esse objetivo e a gente sabe que precisa continuar avançando, com foco no cidadão, na cidade, para que ela continue se desenvolvendo. A interlocução com a sociedade pode melhorar.
O senhor é o primeiro empresário do setor de tecnologia a presidir a Acif, a associação da cidade considerada o Vale do Silício do país. Como ingressou nessa área?
Há 15 anos eu fundei a Cellmídia, uma empresa de marketing pelo celular. Na época não chamavam startup. Aí eu explicava que tinha uma empresa de marketing pelo celular. Perguntavam: Marketing pelo celular é MSM? Eu dizia que não, que era SMS. A gente teve que educar bastante o mercado para ele comprar marketing por SMS naquela época. Aí desenvolvemos uma série de serviços voltados para a internet, software como serviço e softwares para comunicação com o consumidor. Um dos grandes softwares que criamos se chamou Cool SMS (hoje não está mais no mercado). Com ele conseguimos uma grande comunidade de usuários, de clientes: 5 milhões de pessoas. Tivemos aqui em Florianópolis as primeiras empresas de tecnologia, que eram mais hardware, como a Dígitro. Nós somos da segunda geração de empresas de TI, pegamos a largada de softwares livres para desenvolver tecnologia mais robusta. Veio a privatização da telefonia e pudemos desenvolver a Cellmidia, que é mídia pelo celular. Eu brinco que a gente se especializou a atravessar o rio antes da ponte. Na prática, trouxemos tecnologias que o mercado não estava preparado para comprar. Eu tinha 25 anos quando fundei a empresa. Junto começou a minha história com a Acif. Sou de Criciúma. Como na cidade eu só conhecia estudantes, era formado em Administração na Esag (Udesc) e Direito pela UFSC, fui na Acif conhecer empresários. Me apaixonei pelo associativismo e voluntariado. A Cellmídia é de maio e me associei em agosto. Eu ainda digo que a Cellmídia é uma startup de 15 anos. Mas é uma empresa consolidada, com uma equipe de 15 pessoas. Temos também uma empresa de consultoria e, em 2017, abrimos uma startup que estreou no mercado recentemente, a Omnicloud, uma empresa de inteligência de dados primários de empresas. Na prática, os dados de clientes ficam fragmentados em silos de informações. Criamos uma solução que unifica todos os dados, com inteligência artificial identifica os clientes dentro da sua base e permite que a empresa acione esse cliente pelo melhor canal e o melhor momento. É uma solução B2B para empresas B2C (que falam com o consumidor). Hoje, muitas empresas são multicanal, mas querem ser omnichannel, ou seja, transitar por vários veículos por um só canal. Nosso primeiro cliente, por exemplo, é um grupo que não consegue saber se os seus clientes das diversas empresas são os mesmos. Pelas tecnologias que tinha, não conseguia cruzar esses dados.
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