Empresa de tecnologia do Vale do Silício, a Dropbox ganhou confiança por ser uma opção segura de serviços de hospedagem de arquivos na internet e agora também atua com sistemas para ajudar as pessoas a racionarem o tempo. As informações são do executivo catarinense Marcel Ribas, arquiteto de soluções da companhia, que está em Florianópolis para participar do Startup Summit.
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Marcel é engenheiro eletricista e mestre em Ciência da Computação ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalha nos EUA há 14 anos e atua na unidade da empresa em Austin, no Texas, onde também trabalhou na IBM. Ele foi um dos que colaboraram para a realização do Floripa Conecta.
Tivemos no Brasil uma onda de escutas telefônicas, via aplicativo Telegram, que está abalando poderes federais. Como se proteger da espionagem?
A tecnologia está em qualquer lugar, disponível em dispositivos móveis, câmeras de segurança em tudo o que é lugar. A busca, hoje, é pelo uso ético da tecnologia. É preciso se associar a empresas e fornecedores que façam o uso ético da tecnologia, que respeitem a privacidade das pessoas. Isso é uma coisa que me atrai muito na Dropbox. Nosso valor principal é: Seja digno de confiança. A gente vende confiança. Se a pessoa não confia em colocar a sua vida na Dropbox, não teremos mais o que vender. Isso é garantido pela infraestrutura tecnológica para que os dados não vazem, que a pessoa tenha total controle sobre isso.
E, mais importante do que a tecnologia é a ação ética das pessoas que oferecem a tecnologia. Temos uma página na empresa que mostra quantos pedidos judiciais de fornecimento de dados a gente recebeu e quantos a gente aceitou e as razões. Tudo isso é transparente. Há um ranking internacional de zero a cinco sobre o quanto as empresas garantem a privacidade dos seus clientes. A Google tinha três estrelas. A Dropbox tinha cinco estrelas.
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É preciso ter cuidado nos usos de aplicativos?
Sim. Esses aplicativos que batem foto, modificam. Eles perguntam algumas informações e a gente não sabe o uso que fazem disso. É preciso avaliar se vale a pena perder a privacidade.
O senhor tem uma carreira de sonho de muitos brasileiros, que é ser executivo de empresas do Vale do Silício. Como conseguiu chegar lá?
Para mim foi algo natural. Quando eu era jovem tinha muita facilidade com o inglês. Lia muito sobre tecnologia do mercado americano. Só que o meu papel era trazer as soluções para Santa Catarina. Eu dava cursos. Fui instrutor certificado Microsoft e IBM aqui por muitos anos, depois fui professor da Unisul durante três anos.
E por conta dessa ação, comecei a participar de projetos nos EUA. Eu não me via morando lá. Só que Austin me encantou. É muito parecida com Florianópolis. Tem tecnologia muito forte, as pessoas são calorosas, receptivas. É uma indústria limpa, as pessoas se preocupam muito com a preservação da saúde, tem muito esporte, lazer, artes. Aí eu comecei a pensar: aqui moraria. Recebi uma proposta de trabalho e mudei. Estou lá há 14 anos.
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Como foram as mudanças de emprego?
Durante muito tempo eu fiquei na mesma empresa, sou um cara muito leal a quem me dá oportunidade. Nunca foi pelo dinheiro, mas pela oportunidade de fazer a diferença. Eu fui para trabalhar num parceiro da IBM. Montamos um escritório em Florianópolis. A empresa foi vendida.
Aí fui trabalhar na IBM, com cloud (nuvem). Rapidamente consegui uma posição destaque nesse mercado de cloud. Treinava pessoas na América Latina. Só que começou a ficar muito pesado para mim, com muitas viagens. Aí decidi buscar uma empresa mais jovem, com novos desafios. Só consegui essa vaga na Dropbox porque pedia um arquiteto de soluções que falasse espanhol e português. Quando vi essa vaga, pensei: é minha. Eles me contrataram. Hoje tenho reuniões em inglês, português e espanhol.
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A Dropbox mudou de atuação. O que ela fazia e o que oferece agora?
Estamos num processo de reposicionamento de marca. A Dropbox nasceu em 2007 no Vale do Silício, fundada por Drew Houston e Arash Ferdowsi. O propósito deles era tornar a vida das pessoas mais fácil. Aí um deles foi fazer uma apresentação a um investidor e esqueceu o pen drive com o arquivo mais recente. Pensou: se eu tivesse um espaço na nuvem para guardar as coisas com segurança e que fosse rápido seria melhor.
Como técnico, ele até poderia resolver, mas concluiu que todos têm o mesmo problema. Então focou uma solução simples para facilitar a vida do usuário final. As pessoas podem arquivar facilmente muita coisa. Isso levou a empresa, rapidamente, a conquistar 500 milhões de usuários. Nós começamos a usar a nuvem da Amazon.
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Só que a Dropbox precisava de mais flexibilidade para oferecer segurança. Outro ponto foi a inovação. Começamos a fazer de outro jeito. Por isso criamos nossa própria arquitetura, com nossos engenheiros. São mais de 10 locações nos EUA e crescendo. Há também aceleradores em cada continente para o tráfego ser rápido.
Como é a segurança oferecida pela empresa?
Cada arquivo que você sobe no Dropbox é quebrado em bloquinhos de 4 megabytes cada um e cada bloquinho é arquivado é separadamente, um bloquinho separado do outro. Um hacker dificilmente vai acessar as informações. Só se tiver senha porque são vários bloquinhos longe um do outro e ele não vai saber a quem eles pertencem. Com isso a gente deu uma nova dimensão de segurança e, além disso, aumentou a performance. São salvos em diversos arquivos. Isso dá uma segurança absurda. Essas tecnologias nos trouxeram até aqui.
O que a companhia vai priorizar a partir de agora?
A empresa fez IPO (oferta inicial de ações na bolsa) ano passado. Hoje vale US$ 15 bilhões. A ação abriu a US$ 17 e hoje está girando em torno de US$ 25. Todos empregados têm ações. Isso é bem interessante. A empresa gera receita de US$ 1,3 bilhão por ano. A maior parte vem de empresas que pagam mensalmente para ser usuário. Essa curva está crescendo de forma linear, mas a gente segue investindo nesse negócio. Eu trabalho na empresa Dropbox Business, que cresce de forma exponencial. A receita do Business vai superar a outra.
Quais são os novos negócios da Dropbox?
A gente percebeu que um dos problemas da vida das pessoas é a falta de tempo para fazer as coisas que realmente importam para elas. A gente chegou num ponto em que a vida das pessoas está lotada. Há quase 20 anos, o governador Luiz Henrique trouxe o sociólogo italiano Domenico de Masi, que dizia que assistir a um filme é mais importante para a criatividade do que ficar numa cadeira de escritório.
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A previsão que ele fazia era de que a tecnologia iria automatizar muitas atividades e as pessoas trabalhariam menos. Quase 20 anos se passaram e isso não aconteceu. As pessoas estão trabalhando mais. Vou dar dois exemplos. A consultoria McKinsey perguntou para 700 americanos como eles gastam o seu dia. Eles informaram quanto tempo passam lendo e respondendo e-mails, nas mídias sociais e em outras ocupações.
Segundo a tabulação da pesquisa, 60% do tempo é gasto com o que eles chamam de “work about work” (trabalho sobre o trabalho). Somente 40% do tempo a pessoa gasta fazendo a função para a qual ela é preparada. No resto ela lê informação que não deveria. Isso causa uma frustração, a pessoa troca de empresa, mas não resolve.
Em outra pesquisa, tipo um censo, a pergunta foi: você se sente exausto durante o dia de trabalho? Em 1987, do total de entrevistados, 18% responderam que sim. Em 2017 fizeram a mesma pergunta: 55% disseram sim. Se continuar nesse ritmo, em 2030 chegará a 100%.
Como a empresa ajuda a melhorar isso?
A Dropbox, que tem uma base gigantesca de usuários, sabendo que eles têm essa série de problemas, procura ajudar a resolver esses dois problemas. Tenta reduzir esse work about work, ou seja, aumentar a realização das pessoas no seu dia de trabalho e interromper o cansaço para que tenham mais realizações. É necessário que as pessoas tenham mais momentos de flow, momentos de foco, para ser mais produtiva, se realize nesses períodos.
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De que forma estão avançando para colaborar no melhor uso do tempo?
Considerando o uso da plataforma própria, a Dropbox passou a criar soluções. Concluiu que, num dia de trabalho a pessoa faz três coisas: cria conteúdo, comunica ou coordena. No primeiro caso, usa Microsoft Word, Adobe ou Google. Para comunicação, usa e-mail, Whatsapp ou os moderninhos estão usando Slack. Para coordenação, usa solução de CRM, para projetos usa uma ferramenta de gestão ou RD Station, para marketing. Mas ninguém está olhando essas ferramentas como um todo.
As ferramentas são ótimas, mas a pessoa manda e a outra não recebe. A pessoa recebe uma informação final mas não sabe o que ocorreu antes. Então, é aqui que a Dropbox se meteu. Quer ser o hub da vida das pessoas. Elas podem usar a tecnologia que quiser, mas tudo se conecta por meio da nossa plataforma do Dropbox. Para fazer essas integrações, precisamos ter parcerias com as empresas.
Uma das ferramentas que oferecemos é o Paper (paper.dropbox.com). É um espaço em branco para criar projetos pessoais ou em grupo. No Paper é possível ver tudo no mesmo local, o histórico, atribuir tarefas, fazer comentários e usar outras soluções. É gratuito. Esse foi o primeiro produto nesta linha.
Qual é o mais recente produto da empresa?
Relançamos há poucos dias o próprio Dropbox. Ele vai mostrar para os usuários tarefas, arquivos e outros serviços. Em setembro, vamos lançar a versão 1.1 disso. Faremos uma conferência de usuários em San Francisco, o Work In Progress. A nossa sede é San Francisco, na região de Mission Bay, que será inaugurada em setembro. São 4 prédios para 4 mil empregados. Hoje temos mais de 2 mil.
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O senhor se tornou um colaborador do Floripa Conecta. Como isso aconteceu?
As direções da Acate, Acif, CDL estavam com vontade de se unir e fazer um evento com esse perfil. Então, as duas associações foram a Boston para a abertura da Acate US. O Daniel Leipnitz, presidente da Acate, disse que gostaria de conhecer o evento SXSW (South by Southwest) em Austin.
O coordenador da Acate US e do SC Business Hub, Klaus Raupp, foi quem coordenou a conexão entre Florianópolis e a Dropbox. Então eles foram para Austin e a empresa se tornou o quartel-general deles. Levei para visitas ao Google, prefeitura e em outras empresas. A ideia original era trazer o evento SXSW. Só que a gente concluiu que não precisava da marca deles e nem eles gostariam de expandir assim. A opção foi unir os eventos que já aconteciam aqui.
Todos eventos convergem, mas os objetivos são diferentes. O pessoal da Acate quer mostrar Florianópolis para o mundo e a Acif quer a mesma coisa. Para a Dropbox estar aqui é apoiar esse movimento de economia criativa. Quanto a negócios, queremos mostrar a nova pegada da empresa, mas o objetivo é secundário. No Startup Summit vamos falar sobre trabalho moderno. O diretor de vendas para a América Latina, Orlando Mazzota é quem fará a palestra, apresentando a nova Dropbox.