Com o objetivo de acelerar crescimento e focar o longo prazo, a Softplan, de Florianópolis, uma das maiores empresas de software do Brasil, acaba de promover a maior virada na gestão após trajetória de 30 anos. Nomeou como primeiro CEO Eduardo Smith, que foi vice-presidente do Grupo RBS e atua como investidor no setor de tecnologia e anunciou investimentos de R$ 200 milhões visando expansão orgânica, fusões e aquisições.
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Os sócios-fundadores da companhia Moacir Marafon, Carlos Augusto de Matos e Ilson Stabile decidiram profissionalizar a empresa e passaram a integrar uma nova diretoria colegiada, além do conselho de administração. Eles lideravam as unidades de Gestão Pública, Indústria da Construção e Justiça respectivamente, que passaram a ser dirigidas por executivos de mercado.
Empresa de tecnologia comemora 30 anos com evento virtual
Eduardo Smith é natural de Porto Alegre, graduado em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e tem MBA pela Stanford University (EUA). Antes do atual cargo, foi conselheiro da Softplan por quatro anos e é gestor da 42K Investimentos. Um dos seus desafios é levar a empresa a crescimento de 20% este ano. Saiba mais sobre os planos da Softplan na entrevista a seguir:
O que motivou a Softplan a criar o cargo de CEO após 30 anos de trajetória?
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A Softplan tem três sócios-fundadores que estão na liderança dos três pilares de negócios da companhia nesses 30 anos de trajetória. Há alguns anos eles começaram a estruturar a governança da companhia pensando na perpetuidade do negócio. Criaram o conselho de administração, trouxeram conselheiros independentes e eu era um deles até então. Começaram a pensar em sucessão porque estão na faixa de 60 anos. Iniciaram esse processo de sucessão dentro das unidades de negócios da empresa, mas entenderam que era preciso criar a figura de CEO para passarem para o conselho de administração e ter uma estrutura organizacional que fosse bem sucedida nesse novo ciclo. Junto à posição de CEO e mudanças no conselho, a gente está criando uma série de mecanismos de governança para dar suporte a esse movimento.
As três unidades de negócios da empresa – Gestão Pública, Indústria da Construção e Justiça – terão diretorias específicas?
No ano passado foram indicados três sucessores para essas unidades de negócios. Na Unidade de Justiça assumiu o diretor executivo Rodrigo Santos, na Gestão Pública foi indicado Marco Aurélio Medeiros e para a Unidade Construção, Ionan Fernandes.
Eles assumiram este ano. Junto com isso, também foi feito um reforço nas áreas corporativas que dão suporte aos negócios. Há dois anos veio um CFO de mercado, o Adriano Passenko e há dois meses veio nova diretora de RH, a Waleska Cunha. Além disso, estruturamos uma área de M&A (fusões e aquisições).
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O que muda com a gestão única e qual será o papel dos sócios-fundadores?
As três unidades de negócios têm eixos comuns, que são o desenvolvimento de software. O coração delas é de tecnologia, mas atendem clientes diferentes, modelos de contratos diferentes. Elas têm similaridades e particularidades. A estrutura organizacional da Softplan sempre deu muita independência para essas unidades, o que dá agilidade. Isso a gente vai manter. Mas a gente entende que tem muitas oportunidades de mais colaboração entre as unidades de negócios. Eu tenho a crença de que em cada ciclo de mudança organizacional a gente tem que preservar o que tem de bom no modelo anterior incorporar o que o novo modelo proporciona que, nesse caso, é mais sinergia e cooperação entre as unidades.
Com relação aos sócios, eles estão indo para o conselho, vão estar muito ligados às estratégicas da companhia a partir das principais áreas de atuação do conselho, que são as de finanças e auditoria, recursos humanos e estratégias. Mas, obviamente, eles têm 30 anos de experiencia na operação e eu conto muito com eles para me ajudar na transição e no conhecimento que eles têm dos mercados da empresa.
Como foi o desempenho da Softplan em 2020, primeiro ano da pandemia?
O faturamento alcançou R$ 336 milhões, com crescimento de 8,7% frente a 2019. Foi um crescimento importante se considerarmos todas as restrições que existiram em função da pandemia. O setor da construção civil teve uma retomada forte após uma parada no início da crise sanitária e segue em expansão. Nas áreas de gestão pública e Justiça, as soluções da Softplan foram importantes para o trabalho remoto. Então, tivemos desempenho positivo em todas as verticais de negócios.
Quanto a empresa prevê investir este ano e nos próximos para ter crescimento mais acelerado?
Os negócios orgânicos crescem bem. Mas nos últimos anos a Softplan tem feito investimentos numa série de negócios. Começou com startup, depois com outros negócios dentro da empresa e, mais recentemente, em M&A. Fizemos compras e investimentos em participações em empresas mais maduras. Olhando para a frente, a empresa tem uma geração de caixa muito saudável. A gente tem um plano inicial de investimento de R$ 200 milhões para o crescimento do negócio próprio e aquisições de novas empresas para complementar o portfólio da companhia.
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Vocês investiram em duas empresas recentemente, a CV-Construtor de Vendas e a Checklist Fácil. Quais são as expectativas com esses dois negócios?
A gente fez um investimento na CV, que é um CRM que complementa o nosso ERP para construção civil, que é o Sienge. Os dois têm estratégias que buscamos. O Sienge tem uma base grande de clientes, que a gente pode complementar com uma série de soluções periféricas, reforçando a oferta de produtos para esse mercado. Fizemos uma participação na Checklist Fácil que faz gestão de processos e documentos, que tem a ver com o que a gente faz dentro de casa para a área de gestão pública. Um reforça a plataforma para construção e outro a gente usa nosso conhecimento numa tecnologia específica para atender um outro grupo de clientes.
O que mais a empresa foca para M&A?
Acredito que a nossa estratégia vai passar por aí: complementação para reforçar nossos produtos ao mercado e também o aproveitamento da nossa competência numa série de quesitos de tecnologia e gestão de negócios, em negócios adjacentes aos nossos.
Vocês têm número previsto para aquisições este ano?
Não temos um número. Nós criamos uma diretoria de M&A e eu tenho bastante experiência com investimentos, aquisições de empresas. Imagino que ajudarei bastante nessa área. Temos mapeado muitas empresas que a gente está começando a olhar. Os processos de negociação estão em diferentes estágios de maturidade, mas a gente não tem pressa, não precisamos atingir um target este ano. A questão é ter ritmo para sustentar crescimento acelerado nos próximos anos. É muito provável que façamos negócios este ano, mas vamos fazer o que vai agregar valor para a companhia no longo prazo.
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Qual é a estratégia de internacionalização da Softplan?
A internacionalização está focada bastante na área de Justiça. Um dos focos é a automação de processos para o judiciário e o que a gente faz no Brasil é bastante avançado se comparado com o que fazem outros países. Esse setor exige negociações longas, são processos de decisão complexos até um terminal de um outro país tomar uma decisão dessas. A gente teve a felicidade de fechar esse primeiro contrato com a Colômbia no final de 2019 e é o primeiro projeto que pretendemos fazer em diversos países. A gente não estudou a internacionalização de outras soluções da empresa. As equipes no exterior são híbridas, com profissionais de SC e do país.
Como estão os investimentos em pesquisa e desenvolvimento?
Em cada unidade de negócios fazemos investimentos expressivos para a melhoria dos produtos. Focamos na melhoria da tecnologia para esses produtos. Algumas soluções começaram no início da empresa. A maioria já migrou para tecnologias mais modernas. A plataforma de Justiça já está na sexta versão e sempre agregamos tecnologias novas, que fazem diferença para cada momento. Agora, há mais uso de inteligência artificial. Todas as unidades têm investimentos expressivos para melhorias.
Como está o quadro de funcionários e qual é a expectativa de crescimento?
Temos atualmente um quadro de aproximadamente 2 mil profissionais e expectativa de crescimento. Algumas áreas necessitam de mais pessoas e outras não. Além disso, existem as aquisições. Estamos fazendo uma série de novos investimentos, as empresas têm seus quadros, embora a gente tente atuar de forma independente, elevam o quadro da Softplan.
Em função da pandemia vocês seguem com trabalho remoto?
Continuamos com home office. O plano é iniciar o retorno a partir do segundo semestre. Estamos coletando o desejo dos colaboradores para fazer isso da melhor forma possível. A visão, hoje, é de que quando voltar ao normal, a gente não vai voltar 100% porque muitas pessoas se adaptaram melhor ao home office. A maioria gosta de trabalhar na Softplan, que tem um ambiente de trabalho incrível, mas o provável é que optemos por um modelo híbrido, quando as pessoas podem trabalhar remotamente ou na empresa. Não temos uma data para isso.
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A Softplan tem plano de abrir capital na Bolsa?
A gente está começando esse processo de crescimento usando capital próprio e, eventualmente, alavancagem. A empresa é muito saudável. A decisão de trazer sócio privado ou via IPO (Oferta Pública de Ações) vai depender muito dessa trajetória de investimentos e da necessidade de mais capital. A gente está acompanhando o mercado. Não temos data. Pode ser um processo natural de amadurecimento da companhia.
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