A partir desta segunda-feira (01), quem passa a assinar as decisões executivas da Associação Empresarial de Joinville (Acij) é o industrial Guilherme Bertani, que teve posse festiva na presidência da entidade na última segunda-feira (24) no Joinville Square Garden, com a presença de mais de 600 empresários e convidados. Segundo ele, a economia diversificada do município é uma fortaleza que precisa ser preservada pela associação.
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Bertani, que é presidente da Docol, sucede Maria Regina Loyola Rodrigues Alves, a Margi Loyola, presidente da Cia Fabril Lepper, primeira mulher a presidir a Acij em 111 anos. São líderes de duas icônicas indústrias brasileiras que vivenciam os movimentos da economia mundial.
Em entrevista exclusiva para a coluna, ele informou que a nova diretoria da Acij relacionou mais de 50 novas ações que serão feitas pela gestão que se inicia agora e que uma das bandeiras principais será a infraestrutura. Preocupado com o futuro da maior cidade catarinense, ele disse também que os candidatos a prefeito serão questionados sobre o que planejam para a Joinville do futuro, daqui a 15 anos. Saiba mais na entrevista de Guilherme Bertani, a seguir:

O que significa para o senhor ser o presidente da Associação Empresarial de Joinville?
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– É uma grande oportunidade. A Acij é uma entidade centenária muito importante, não só para Joinville como para o Estado, e é uma grande responsabilidade assumir essa função. A gente sabe que é uma entidade consolidada, que anda por si só, mas que a presidência tem sua importância.
E então a gente sabe que existem desafios, até porque uma coisa é você estar no dia a dia da empresa, outra coisa é quando está numa Associação. Em uma entidade associativista, o relacionamento é diferente do jeito que você conduz uma empresa. Uma associação e uma empresa são bem diferentes. Então, serão dois anos de aprendizado também, que vão ser bem interessantes e ricos para mim.
O que vai priorizar na sua gestão dentro de tudo o que a Acij faz atualmente?
– É um desafio porque, na verdade, eu costumo dizer que existem três Acijs. Existe a Acij do pequeno empresário, existe a Acij da comunidade e tem a Acij das grandes causas empresariais. E a gente tem que desenvolver a Acij numa quarta, eu diria, porque tem a Acij organização, e como tal ela precisa ser desenvolvida. Então a gente tem que ter uma boa atuação nessas quatro áreas.
O senhor vai dar continuidade ao trabalho que a Acij já faz em todas as áreas?
– Sim! A gente se organizou pelas bandeiras. Temos a bandeira da presença institucional da Acij, politicamente. Tem a questão da infraestrutura e a parte de saúde, segurança e educação, de inovação. Tem os núcleos que são um trabalho fundamental. E o que a gente vai tentar fazer nessa diretoria é intensificar. Como eu falei, são mais de 50 novas ações que a gente mapeou e que vamos tentar pôr em prática também.
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Pode citar algumas dessas 50 novas ações?
– Nós vamos tornar pública essa proposta daqui a um mês. Estamos terminando de amadurecer ela na diretoria, e aí é que vamos divulgá-la ao público. Mas uma que vamos focar de imediato é a da infraestrutura.
Eu queria perguntar justamente isso. Como é que vocês vão tratar essa questão da infraestrutura, que sempre foi uma grande bandeira da Acij diante da carência de investimentos?
– A gente tem a questão da mobilidade, que é um ponto chave. Mas eu diria que vai ser uma coisa nova. Até vai ter um pleito que a gente vai colocar para todos os candidatos a prefeito. Saber qual é a visão que eles vão trazer para Joinville daqui a 10, 15 anos. Como vai ser a Joinville do futuro?
A gente tem problemas ainda hoje, mas a gente acredita que precisamos ter uma visão do que os candidatos a prefeitos pensam para a Joinville do Futuro. Então, uma das expectativas que a gente tem nesse processo eleitoral é que fique claro o que cada candidato vê como futuro para cidade.
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Ou seja, alguma coisa bem além do mandato deles…
– Sim, porque a gente tem, enfim, várias questões que precisam ser endereçadas. Um desafio que Joinville e Santa Catarina têm é em relação à formação de mão de obra, por exemplo. Santa Catarina foi o primeiro Estado a atingir o pleno emprego no Brasil, e a gente continua com uma demanda por postos de trabalho maior do que temos de oferta de mão de obra. Temos esse desafio de desenvolver, formar gente capacitada para trabalhar não só na indústria, mas no comércio, nos serviços, em todos os setores.
Como empresas, que profissionais vocês sentem falta na hora que vão contratar? Que técnicos vocês gostariam que estivessem formados em maior número no mercado?
– A gente entende que o que o Senai e o Sesc estão fazendo é fundamental. Esse investimento que eles fizeram aqui em Joinville, da Escola Modelo, é essencial e vai na direção disso A gente vê hoje que as máquinas, os equipamentos, usam muito mais a parte de informática. E a gente vê que os profissionais não estão tão preparados assim para trabalhar com esses equipamentos. Então é questão da indústria 4.0.
O mesmo acontece com as ferramentas de gestão. Eu falei que a gente tinha um desafio da Inteligência Artificial, pois temos uma expectativa muito grande em como isso vai ter um impacto positivo nos negócios, e a gente precisa ter gente capacitada que saiba como trabalhar com a Inteligência Artificial para que as empresas daqui possam tirar mais benefício disso.
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Como o senhor analisa a situação da economia de Joinville hoje e como a vê no futuro?
– Eu lembro que há uns anos, quando se criou o JoinValle, um dos exemplos que se falava do porquê do JoinValle era que Joinville não podia correr o risco de ser uma Detroit, que faliu. A economia mudou e a cidade praticamente faliu lá nos Estados Unidos. Mas eu sempre achei um equívoco usar essa comparação com Joinville, porque Detroit era uma cidade que vivia somente da indústria automobilística, enquanto Joinville tem uma economia muito diversificada, o que é uma fortalteza.
Cabe à Acij estimular a manutenção dessa força, dessa riqueza que a cidade tem da pluralidade de negócios diferentes. Então é por aí que a gente pensa. Vejo que o futuro de Joinville, no sentido do empreendedorismo, é ser cada vez mais diversa nos tipos de indústrias e serviços que se instalam por aqui.
Por que o senhor trouxe o exemplo de uma betoneira mais tecnológica no seu discurso de posse?
– Porque justamente isso vai em direção ao que a gente acabou de conversar. Quando se fala de inovação, todo mundo pensa em startups, em coisas de aplicativos, mas esse exemplo da betoneira mostra que a inovação está em todo lugar. Está em uma coisa tão simples que ninguém dá atenção como uma betoneira, que é usada por alguém que, como a gente falou também, com capacitação quase nenhuma. Porque, geralmente, quem trabalha na construção civil é quem tem pouca informação. É o primeiro emprego de muita gente.
E os empresários aqui de Joinville tiveram essa visão e viram que era possível criar uma betoneira melhor, com uma série de atributos, que é um sucesso de mercado. Isso mostra que a inovação existe até em coisas simples, commodities do nosso dia a dia que a gente pensa que não tem como inovar.
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Como é que você vê o governo do Estado no sentido do atendimento a Joinville? O que poderia melhorar?
– Eu entendo que o governador Jorginho tem um desafio muito grande. Afinal, liderar um estado que é bem resolvido parece que é um trabalho fácil, mas não é. Até porque a gente tem várias coisas importantes dentro do Estado que não são responsabilidade dele. São do governo federal e atrapalham muito nosso dia a dia, como por exemplo as estradas.
E o governador Jorginho sempre se mostrou muito sensível, atento às demandas da cidade. Assumiu uma série de compromissos com a prefeitura, e nós sabemos que ele está comprometido em continuar investindo na cidade. Acho que a questão aí é a velocidade desses investimentos, mas a gente tem confiança e sabe que esse compromisso é sério, que os investimentos vão acontecer.
Então, a gente acredita que consegue trabalhar em parceria com o governo do Estado, com o governo do município e também com o governo federal. Eu acho que os três juntos têm condições de ajudar Joinville a se desenvolver cada vez mais rapidamente e solidamente.
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Como você analisa o atual cenário econômico brasileiro?
– Acho que o cenário é delicado. É só olhar a taxa do dólar que mostra quão delicado é. Os números grandes estão bons, mas tudo que esse governo tem sinalizado para o futuro são medidas que vão rapidamente deteriorar esses números bons que a gente tem hoje.
É por isso que há pouca confiança dos mercados, principalmente financeiros quanto ao futuro. Isso acaba sempre refletindo na taxa de juros, na taxa de dólar, e acaba, enfim, gerando muita incerteza em cima do empresariado, investir ou não investir. E, infelizmente, isso acaba condenando o Brasil sempre a gente ter uma potência, só que ela anda a uma velocidade muito mais baixa do que poderia por causa dessa ineficiência que a gente tem.
Como é que você vê o cenário Internacional e, também, a oportunidade de mais empresas se inserirem no exterior?
– A questão internacional, eu acho que, de certa forma, tem a questão das guerras da Ucrânia e Israel, que são pontos de preocupação. A gente sabe que, principalmente, a Europa está passando ainda por um momento recessivo, são poucos os países que têm algum crescimento.
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Mas existem países que estão tirando vantagem disso. Aí, como eu falei, a Índia é o país que tem se aproveitado melhor disso. O México também. Agora, por que esses investimentos estão acontecendo nesses países e não no Brasil? Afinal, a gente tem tudo também, é até melhores condições do que Índia e México para atrair investimentos estrangeiros. Então, tem essa questão institucional nossa que precisa ser mais bem endereçada para a gente não perder essas oportunidades.
O investidor de fora olha e sente uma instabilidade política, talvez uma instabilidade na gestão do gasto público e não vem?
– Eu vejo que o investidor estrangeiro, enfim, como qualquer investidor, está buscando retorno. E devido a estrutura macroeconômica que a gente tem no país, o potencial de retorno de investimento no Brasil acaba sendo menor do que em outros países, porque tudo aqui é difícil.
Quando a Margi Loyola me convidou para assumir a presidência, foi uma sexta-feira de carnaval. Eu lembro que, no jornal, eu estava lendo sobre o crescimento acelerado que o Bangladesh estava tendo. E a reportagem falava que, justamente, Bangladesh estava crescendo muito porque tinha facilitado as condições para o desenvolvimento econômico, o investimento estrangeiro ou mesmo nacional.
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Ou seja, Bangladesh tinha facilitado a vida de quem quer empreender, e aqui no Brasil ocorreu o contrário. Então, enquanto o governo brasileiro não entender aquilo que as cidades como Joinville entenderam, que precisa facilitar a vida de quem quer empreender, o Brasil nunca vai deslanchar.
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