Falta pouco para a Celesc iniciar vendas de energia para um maior número de clientes, aqueles que têm conta de luz de R$ 10 mil ou mais por mês e podem ser consumidores livres. Para isso, fundou uma nova empresa, a Celesc Varejista, que aguarda para esta semana o registro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), informa o presidente da companhia, Tarcísio Estefano Rosa.

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A expectativa da Celesc é concluir a etapa burocrática de formação da empresa e iniciar vendas ainda em janeiro. Antes, esse mercado de consumidor livre, que no comércio chega a disponibilizar energia cerca de 30% mais barata, era restrito para grandes consumidores. Agora, inclui todos de alta e média tensão, principalmente empresas. Mas a média tensão tem, também, condomínios.

Tarcísio Rosa está otimista com a estreia da Celesc nesse mercado. Segundo ele, há uma confiança na força da marca da companhia, o que deve ajudar na conquista de clientes.

Nessa entrevista, ele também fala sobre como está sendo executado o plano de investimentos da companhia de R$ 4,5 bilhões, anunciado pelo governador Jorginho Mello (PL) e por ele em abril do ano passado (2023).

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Para 2024, a projeção é investir R$ 1,18 bilhão. Os recursos serão utilizados para fortalecer e ampliar a distribuição, instalação de linhas de energia trifásica e em projetos de geração como em usinas fotovoltaicas e ampliação de capacidade de usinas hidrelétricas da Celesc. Saiba mais na entrevista a seguir:

Quando a Celesc Varejista vai iniciar vendas de energia para empresas menores?

– A Celesc Varejista, que é a nossa empresa para vendas, está sendo registrada na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Acreditamos que será aprovada na próxima semana (esta semana que se inicia). É um trabalho que envolve muita documentação.

Tivemos que mudar o estatuto da empresa. Isso foi aprovado pela Assembleia Legislativa e pela assembleia de acionistas porque o objeto social da empresa tinha que ter a palavra ‘varejista’. Isso porque, embora a Celesc pudesse vender até 100 megawatts (MW) para uma indústria, não poderia vender como uma varejista porque no objeto social não constava isso. Acreditamos que ainda em janeiro a Celesc Varejista já possa iniciar atividades.

A companhia já tem uma comercializadora de energia para clientes livres empresariais. Como atuou até agora?

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– A empresa tem uma comercializadora há muito tempo. Talvez há 10 anos. Mas ela partiu para esse mercado depois de grandes empresas privadas já dominarem o mercado. O assédio de muitas empresas de todo o país, que eram somente comercializadoras, foi muito grande. Então, a Celesc ficou com poucos clientes industriais nessa comercializadora.  

Nessas mudanças, a Celesc vai atender os clientes livres do governo do Estado. Como será isso?

– A Celesc fez um convênio com o governo do Estado para administrar as cargas dele (instituições e empresas) que podem comprar energia de uma varejista. Isso foi um acordo feito. São mais de 300 unidades do Estado e a Celesc vai cuidar delas. Cuidar da conta e dar desconto. O Estado de Santa Catarina vai economizar R$ 70 milhões em cinco anos comprando da Celesc Varejista. E o trabalho, além de fornecer energia, será administrar todas essas cargas.

Por enquanto, serão atendidos somente clientes empresariais pela nova empresa ou entram também clientes residenciais?

– Podem participar somente clientes ligados em alta tensão e média tensão. A expectativa é de que clientes residenciais poderão também ser consumidores livres, mas isso, provavelmente, será em 2026. Nós não temos clientes residenciais em média tensão, mas temos condomínios.

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Quando um condomínio necessita de uma entrada maior de energia, ele pode comprar em média tensão. Esses podem ser consumidores livres a partir de agora. Existe também a modalidade de fazendas solares, quando um conjunto de residências investe em usina solar e faz um contrato de energia.  

Mas o primeiro movimento nosso da varejista será atender quem está no Grupo A (alta tensão), em qualquer volume. Quando começou essa modalidade, era para apenas grandes empresas.

A mudança agora inclui atendimento de alta tensão em qualquer valor e média tensão para quem consumir a partir de R$ 10 mil por mês. Esse não é um limite fixo. O R$ 10 mil foi colocado como referência para ser uma mudança vantajosa. Mas alguém pode ter um consumo menor, ser de média tensão e se tornar cliente livre.

Vocês terão o site da Celesc Varejista para os clientes solicitarem a adesão?

– Teremos a Celesc Varejista com uma estrutura, um site para as pessoas acessarem. Nós não vamos tirar a marca Celesc porque é ela que faz diferença. O cliente terá mais confiança em fazer um contrato com uma empresa conhecida porque, quando tiver problema, saberá para quem reclamar.

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É a mesma Celesc. O cliente tem a confiança e nós não vamos dar e não vamos disputar o desconto maior do mercado. Nós vamos estabelecer um valor porque a nossa confiança, a nossa credibilidade tem valor. A marca Celesc tem valor.

Aí o cliente vai pensar: como vou sair da Celesc para comprar do João? E se esse fornecedor for embora, se fechar as portas? Falir? A Celesc vai oferecer desconto, mas segurança?

O cliente que tem consumo maior, terá que contratar demanda. Se ele ultrapassar, pagará uma sobretaxa e se ele tiver um limite maior e nunca usar, ele está pagando mais do que precisaria. Então, essa administração de um bom contrato faz diferença na conta final. A gestão disso é o papel da varejista.

Uma varejista pode atuar em todo o Brasil. A da Celesc vai se limitar a SC ou irá para outros estados?

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– A Celesc já atende um município no Paraná. É Rio Negro, ao lado de Mafra. E a Copel, empresa de energia do Paraná, atende um pedacinho em Santa Catarina, em União da Vitória. Isso foi por uma questão de infraestrutura na época.

Mas o nosso foco, primeiro, é atender Santa Catarina. A gente tem um período de aprendizado. A cultura de uma distribuidora é ser procurada. Nós temos conversado muito. O nosso colega celesquiano vai mudar. Vai bater na porta de uma empresa para vender energia. É uma cultura diferente para a empresa.

A gente também vai ver se consegue trazer de volta alguns grandes clientes que saíram da Celesc. Não muitos porque quem tem grande geração, como é o caso da Engie, tem as usinas dela e vai vender o que é dela.

A comercializadora tem que comprar de alguém, passa por ela e vende para outros. Os riscos são diferentes. Comprar de um fornecedor que pode não entregar é um risco. O varejo tem o mesmo risco, mas os volumes são menores. Quem comprar da Celesc vai ter preocupação de ela não entregar a energia um dia? Não, porque a Celesc faz compra segura.

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Outro destaque da Celesc para este ano é o orçamento para investimentos de R$ 1,18 bilhão. Para que projetos serão destinados esses recursos?

– Teremos muitos investimentos em infraestrutura de distribuição. Vamos inaugurar,  provavelmente agora, em janeiro, no município de Abelardo Luz, uma subestação que custa R$ 15 milhões e uma linha de transmissão entre Xanxerê e Abelardo Luz de R$ 30 milhões. Esses dois projetos somarão R$ 45 milhões.

-Temos uma subestação em São José para ser inaugurada em março e, provavelmente, teremos também uma subestação em Santo Amaro da Imperatriz para ser inaugurada também em março ou abril.

Além disso, faremos uma subestação aqui em Florianópolis, no Monte Verde para ser inaugurada em outubro ou novembro. E  teremos outras subestações e linhas de transmissão no interior do Estado.

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– Para investir esse R$ 1 bilhão, vamos trabalhar muito. No ano que passou, a gente fechou investimentos da ordem de R$ 900 milhões. A gente lançou o programa de investimentos de R$ 4,5 bilhões até 2026 em abril. Então, uma parte do ano já tinha passado.

Como estão os investimentos em linhas trifásicas, que o governador enfatiza muito para melhorar?

– Nesse projeto de 500 quilômetros de rede trifásica, o sucesso é total. Agora, em janeiro, faremos em Mafra. Vamos ampliar linhas lá para atender criadores de peixes, de tilápias. Vão produzir filé de tilápia para vender para o Estado inteiro e exportar.

Também faremos nova linha em Campo Erê, para atender produção de leite. Serão mais de 2 mil vacas para ordenhar. Antigamente, as propriedades tinham seis a sete vacas. Hoje, são galpões climatizados com 50 ou 60 animais.

Eu recebi o pessoal de Guaraciaba, município do Oeste, quase na divisa com a Argentina. Todos os vereadores vieram aqui, enquanto o prefeito foi falar com o governador Jorginho Mello. Eles disseram que, pela falta de rede trifásica, os produtores tinham que combinar com vizinhos para cada um ordenhar numa hora porque todos ao mesmo tempo não dava. Já ampliamos bastante a rede trifásica lá.

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Dos 500 quilômetros previstos, estamos completando agora 380 quilômetros. O nosso projeto era em 2023 e 2024 fazer 500 quilômetros, mas vamos alcançar essa meta antes, em julho. Depois disso, serão outros 500 (quilômetros).  

Como a Celesc atende indústrias que vêm se instalar em Santa Catarina?

– O governador, quando me convidou para assumir a presidência da Celesc, tinha a preocupação de que indústrias não se instalavam em Santa Catarina por falta de energia. Alguns empresários informaram a ele na campanha que não poderiam instalar indústria por falta de energia ou que estariam saindo do Estado por isso.

Falei para ele que podemos informar para esses industriais que elas podem usar qualquer desculpa para não vir para Santa Catarina, menos falta energia. Isso pode ocorrer ou porque eles não têm um bom projeto, não têm um financiamento ou não têm a questão ambiental resolvida.

Uma indústria não se instala de hoje para amanhã. Então, se tem um projeto para SC, mesmo que vá se instalar daqui a três anos, que venha logo na Celesc para ver como pode ser atendida em energia. Dá tempo para incluir no planejamento, construir linha de transmissão. A comunicação precisa ser mantida até a instalação do projeto.

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Temos uma das energias mais baratas do Brasil. No ano passado, a tarifa industrial da Celesc caiu 0,8% enquanto a inflação teve alta de 4%. Isso aumentou a competitividade do Estado.

Nos investimentos previstos, uma parte é geração limpa. Que projetos são esses?

– Nós estamos, neste momento, construindo cinco megawatts (MW) em painéis solares. São três em Capivari de Baixo, um em Lages outro em Campos Novos. Temos novos planos, para atender a própria varejista. Ou comparemos de alguém ou vamos investir em usinas. Isso está no nosso planejamento deste ano.

A usina histórica de Maruim, em São José, será reativada com restauração de prédio histórico. Quando ficará pronta?

– Essa usina foi inaugurada em 1910, operou 60 anos para atender Florianópolis, São José e Biguaçu com 700 quilowatts (kWh), menos de 1 kWh. Hoje, qualquer usina solar a gente faz, no mínimo, para gerar 1 MW.  

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Ela operou até 1970 e ficou 50 anos paralisada. Vai voltar a operar agora em março ou início de abril, com geração de 1 MW, totalmente remodelada. Terá gerador e turbina novos.

O prédio é histórico, bonito, está totalmente remodelado. A usina será uma área de observação turística.  A área externa vai passar para a prefeitura. Deve ter um quiosque para atender visitantes.

Também estamos estudando a ampliação da Usina Salto Weissbach, em Blumenau. Ela gera hoje 6 MW e a gente vai acrescentar mais 23 MW. Vai receber investimento próximo de R$ 300 milhões.

Depois das enchentes, o governo do Estado passou a gestão de três barragens de contenção para a Celesc e pediu um plano para possível geração de energia. Como está esse trabalho?

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– São três barragens: José Boiteiux, Taió e Ituporanga. Elas são barragens de contenção. Elas podem ficar totalmente vazias e serem usadas só em caso de enchentes.

Nós inauguramos nosso novo centro de operações aqui na Celesc, em Florianópolis, para controlar todas as usinas à distância. Vamos acrescentar essas três barragens. Elas terão cabines blindadas para serem operadas à distância.

A ideia é estudar possível geração de energia em uma delas, a de José Boiteux. É uma barragem do governo federal, que vamos tentar trazer para o Estado e a Celesc vai prestar serviço para o Estado. A operação dessas barragens em caso de enchente será definida com planejamento, com responsabilidade coletiva e participação da Defesa Civil.

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