Além da profunda tristeza de enfrentar a morte de entes queridos precocemente pela Covid-19, milhares de famílias ficaram mais pobres porque, dos que faleceram, a maioria era provedor de renda. Estimativa feita pela coluna considerando as mais baixas remunerações médias do país aponta que as 500 mil mortes vão causar perda conjunta de renda familiar da ordem de R$ 10,56 bilhões por ano. Para Santa Catarina, que registrou 16.343 mil óbitos até este sábado, as perdas anuais de renda para essas vidas serão de aproximadamente R$ 343,11 milhões.
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Brasil atinge marca de 500 mil mortos por Covid-19
Quem sente mais a perda financeira são as famílias mais pobres. Em pelo menos 20,6% dos domicílios do país o aposentado responde por mais de 50% da remuneração, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A renda média dos aposentados pelo INSS, atualmente, está em R$ 1,6 mil mensais. Uma parte, normalmente é destinada para pagar alimentos para a família de uma filha, aluguel de outro filho ou o transporte para netos buscarem emprego e outras ajudas mais.
Para chegar aos R$ 10,5 bilhões de perda de renda, a coluna considerou que 71% das 500 mil mortes (355.000) foram de pessoas acima de 60 anos, portanto já aposentadas. Como 70% dos aposentados do INSS recebem até um salário mínimo, do total de aposentados falecidos, 248.500 estariam nesse grupo. Para os demais aposentados (106.500) foi considerado o valor médio do benefício do INSS, R$ 1.600.
O país também perdeu cerca de 145.000 pessoas com menos de 60 anos. Para essas, a coluna considerou renda salarial média de R$ 2.544, que foi o valor registrado no país no primeiro trimestre deste ano, segundo a pesquisa Pnad trimestral do IBGE. A soma de todas essas rendas mensais chegou a R$ 812,6 milhões por mês, o que significa R$ 10,5 bilhões por ano, considerando 13 remunerações, incluindo o 13º salário.
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A estimativa para SC considerou os mesmos critérios e valores para os óbitos por Covid registrados no Estado até sábado (19). O resultado da projeção foi de perda mensal de R$ 26,39 milhões e anual de R$ 343,11 milhões.
A projeção da coluna não considerou que parte dos falecidos era do grupo de alta renda – acima de 20 salários mínimos. Também não incluiu na conta valores de pensões, apesar de haver essa transferência quando há cônjuge ou filhos menores de idade. No atual regime do INSS, o cônjuge tem direito a uma parte da aposentadoria do titular, a partir de 60%.
Mas além desses valores que podemos somar e multiplicar, não é calculável o impacto econômico e social da perda de milhares de profissionais ainda ativos, de diversas especialidades, que com seu trabalho multiplicavam saúde, qualidade de vida, conhecimento e renda em benefício de muitos. É por isso que se diz que a vida não tem preço.
Apesar da crise sanitária sem precedentes imposta pela pandemia, boa parte dessas milhares de vidas poderia ter sido salva se governos e pessoas tivessem cuidado mais da saúde. Entre as maiores falhas registradas estão o atraso na compra de vacinas, a falta de exemplo e orientação por parte do presidente da República para o uso de máscara, rede hospitalar insuficiente, demora e insuficiência de ajuda econômica para pessoas e empresas e a resistência de muitas pessoas em usar máscara e manter distanciamento.
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Como a pandemia continua e as vacinas seguem insuficientes para todos no momento, as medidas preventivas como o uso de máscaras eficientes, os cuidados para não tirá-las em ambientes com aerossóis, e distanciamento físico seguem como a alternativa para preservar outras milhares de vidas.
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