Falar da derrota do JEC para o Cuiabá não é o mais importante neste texto. Sejamos francos: alguém acreditava que o Joinville iria contrariar a lógica e buscaria pontos diante do vice-líder da chave jogando fora de casa?
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Nem os jogadores acreditavam. Por isso, o Tricolor teve esta atuação patética na tarde deste sábado. Gols bizarros, com falhas por todos os lados. E o problema não é a falta de qualidade.
Não? Não! Falta qualidade, é óbvio, mas este não é o problema principal. Por tudo o que foi visto na Série C, será que Volta Redonda, Tupi, Ypiranga, Luverdense e Tombense estão tão à frente assim do JEC? Como eles conseguem lutar contra a queda e o Joinville já está assim, tão entregue? A diferença entre eles é a falta comando, causada pelo conformismo. E isso ficou muito claro após os 5 a 0 do Cuiabá.
O JEC não tem um departamento de futebol com capacidade de cobrar os jogadores. Tem um treinador que não é respeitado pelos atletas porque não consegue resultados e porque foi a última opção da diretoria após a saída de Matheus Costa.
Sim, isso também pesa. Ou alguém acha que os jogadores não tem essa informação? Só aí Márcio Fernandes já perde um pouco do respeito. Como o departamento de futebol não existe, se pelo menos houvesse um treinador menos conformado, talvez houvesse algo. Mas ele não consegue. Há tempo, por sinal – a coluna levantou números recentes que mostram que se considerássemos o período no qual ele é treinador, o Joinville também seria lanterna.
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Nesta semana, Márcio Fernandes ainda declarou que os adversários perderam o respeito pelo JEC. Como alguém (internamente ou externamente) vai respeitar um clube que tem o próprio treinador falando isso? A partir desta incapacidade do treinador (somada à do departamento de futebol) chegamos ao foco deste texto: há um vírus do conformismo no JEC.
A coluna já falou disso no Campeonato Catarinense, mas é bom relembrar. No Joinville, diretores aceitam a derrota como se isso fizesse parte da vida do clube. Um crime contra uma instituição tão vitoriosa.
Em 2015, na Série A, o conformismo fez o JEC ser rebaixado já no começo do returno. E o rebaixamento foi tão aceito que, como prêmio ao treinador que assumiu o time na 16ª rodada (são 38, vale lembrar), foi dada a renovação de contrato para o Estadual. Lembram? PC Gusmão assumiu o Joinville na 16ª rodada do turno, teve números ruins, caiu, mas teve contrato renovado. Primeiro sinal do vírus do conformismo com as derrotas. Só no outro ano houve a demissão. Depois disso, veio alguém obstinado pela vitória. Na sequência, o JEC foi à final do Estadual com o mesmo elenco. Coincidência? Não.
Na Série B de 2016, o vírus deu sua cara mais uma vez. Faltavam 12 rodadas para o fim e o JEC decidiu investir num técnico sem experiência nenhuma – contratou Ramon Menezes, que nunca havia treinado nenhuma equipe de nível de Série B. Estava conformado com o rebaixamento. No fim, descobriu que dava para escapar. Prova é que a equipe caiu por um ponto.
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Agora, o vírus voltou com tudo. Restavam cinco rodadas para o fim da Série C, a diferença do JEC para os rivais era de três e quatro pontos, mas soou absurda a ideia de trocar de treinador, levantada pela coluna na semana passada.
Soou absurda porque os diretores estão conformados com a queda. Acham que o JEC é um clube derrotado. Ora, havia 15 pontos em jogo. Será que uma mudança não poderia trazer comando à este grupo, que já aceitou o rebaixamento? Teve gente falando em manutenção. Manutenção do quê? Da derrota?
Este tipo de discurso mostra a incapacidade da diretoria e até de parte da imprensa que defendeu a continuidade afirmando que não tinha fundamento a mudança.
São os falsos entendidos de futebol: querem vender discursos modernos, de continuidade, no momento errado. O JEC estava rebaixado na semana passada. Aceitar isso, sem tentar evitar o pior, é se conformar com um clube derrotado. Uma semana se passou e foi preciso o Joinville ser humilhado em Cuiabá para esta ideia soar mais aceitável.
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Resumindo, há um delay em JEC. As decisões sempre são tomadas com atraso e após um vexame. Aí alguém desperta do conformismo e lembra que o JEC é, sim, grande.
Esta é a diferença do JEC em relação ao seus principais rivais. No Criciúma e no Figueirense (que passaram por risco de rebaixamento recentemente), não há conformismo. Se tiver de mudar 200 vezes até acertar, eles o fazem.
Os anos fora de série fizeram muito mal ao JEC. O clube teve três diretorias diferentes nos seus piores anos, mas todas tratam o Tricolor como um time pequeno. Nem as recentes conquistas parecem ter mudado esta ideia. Pelo contrário, as atitudes dão demonstração de que os títulos da Série C e da Série B foram exceções.
É preciso ser exigente. Torcida, imprensa, todos. Enquanto houver o conformismo, o JEC cairá, se apequenará e fará a sua própria história vencedora se tornar uma lenda.
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Se mudar agora, mudará tarde. De qualquer maneira, será um sinal de que alguém neste clube parou de hibernar e acordou do conformismo.
As chances estão aí e, por incrível que pareça, ainda existem. Como jornalista que acompanha o JEC desde 2006, prefiro ver um clube rebaixado, mas com diretores tentando mudar o quadro. Melhor assim do que o atual cenário, sem nenhuma atitude de uma diretoria conformada com a derrota e com o rebaixamento desde os primeiros momentos de crise – prova é que teve gente já falando em reunião do conselho que não seria ruim cair para a Série D.
Vejamos o que ocorrerá nesta semana.