Imagine a seguinte situação: você não viu nenhum jogo do JEC, não sabe nada do que está acontecendo na Série C e decidiu acompanhar Joinville x Operário, na Arena, na tarde deste domingo. Se você estivesse nesta situação e visse o Tricolor diante do Fantasma no primeiro tempo, deduziria que o JEC era o líder e o Operário o lanterna.

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O primeiro tempo foi completamente dominado pela equipe de Márcio Fernandes. O Joinville teve cinco finalizações ao alvo – duas defesas de Simão, uma bola na trave e um rebote do goleiro, que originou o gol de Zotti.

Parecia tudo certo. O Operário mostrava grande dificuldade de sair jogando quando o JEC pressionava e não havia ameaçado nenhuma vez Matheus. O problema começou no fim da primeira etapa. No cruzamento de Rafinha, a primeira falha individual: Gualberto tentou cortar, marcou contra e empatou o jogo. A partir daí, a derrota na Arena começou a ser construída com mais duas falhas individuais na segunda etapa.

Eduardo, numa furada absurda aos 15 minutos, e Matheus, que falhou ao tentar agarrar na cabeçada de Peixoto aos 26, colaboraram para a virada e para determinar o placar de 3 a 1. Pelo primeiro tempo, um resultado injusto, mas por tudo o que o Joinville fez até aqui um reflexo fiel de quem é o líder da chave B e quem é o lanterna da competição.

Nada acontece por acaso. O avião não cai por um único motivo. Façamos uma reflexão das ações da atual diretoria desde que assumiu oficialmente o clube.

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As primeiras ações

Após a demissão de Rogério Zimmermann e Carlos Kila, em tese, a nova diretoria tinha um plano para o futebol. Na verdade, não tinha. Até hoje, não foi explicado o retorno de Adilson Fernandes. Na verdade, ele vinha para auxiliar Kila. Como Kila saiu, ficou com todas as funções – contra a vontade dele mesmo. De qualquer modo, Adilson tem uma bela história como atleta, mas nenhuma experiência como superintendente de futebol – ele próprio admitiu isso em entrevistas recentes.

Adilson ainda passou muito tempo longe do Brasil (ou seja, estava desatualizado) e trazia no currículo de superintendente de futebol o rebaixamento pelo próprio JEC, em 2004. Em resumo, não havia motivos para ele estar aqui.

Veio, não se sabe por qual indicação, e, na sua entrevista de apresentação, disse ao colunista que havia aprendido com o rebaixamento de 2004 (era preciso observar os jogadores com muita proximidade para não errar em contratações). Na prática, nunca fez isso – ou alguém acha que Adilson acompanhou de perto os 12 atletas contratados para a Série C?

Nos bastidores, mesmo como ex-jogador, não chega a convencer os atletas com a "boleiragem", a "resenha" que alguns ex-atletas usam quando viram dirigentes. Falta muito para Adilson como executivo de futebol do JEC.

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Segundo passo

A diretoria trouxe Matheus Costa, dando início à parceria com a LA Sports – sempre negada pelo próprio clube. Logo após, vieram os jogadores da LA. Nenhum deles com o perfil da Série C – mas nunca ninguém chegou a fazer um estudo disso, o mínimo que um departamento de futebol deveria fazer.

Na verdade, os atletas não vieram numa busca detalhada do comitê do futebol. Chegaram porque tinham currículo e o comitê confiou plenamente na oferta do empresário. Confiava tanto que Luiz Alberto Oliveira frequentava livremente o vestiário, algo anormal e que causava estranheza de alguns atletas.

Não deu certo. A maioria dos atletas veio num acordo de produtividade. Ganhariam mais se o JEC subisse. Como o fato não iria acontecer, era mais fácil rescindir (mesmo amigavelmente) e procurar outro mercado do que ficar aqui. Alguém quer perder financeiramente? Não. Alguém vai desperdiçar a oportunidade de se encaixar numa Série B ou até numa Série A se tiver chance? Claro que não.

Para piorar, a atual diretoria não tinha a real noção do buraco financeiro que vive o Joinville. Não conseguiu cumprir exatamente os salários em dia (houve alguns atrasos) e alguns destes atletas se irritaram com a tal situação. Quando a coisa não vai bem, até mesmo dias de atraso pesam. Começa aí a repetição dos mesmos erros do passado: diretores injetando dinheiro no clube para cobrir rombos. A atual diretoria começa a fazer o mesmo da últimas gestões e o que repudiava enquanto fazia parte apenas do conselho.

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Demissão de Matheus

Os resultados ruins obrigaram o Joinville a demitir Matheus Costa. Começava ali a ruir a parceria com a LA Sports. Sem dinheiro, o clube foi ao mercado procurar um novo técnico. No entanto, em razão da falta de dinheiro, chegou a ficar mais de 48 horas sem um comandante. Trouxe Márcio Fernandes depois de tomar negativas de Hélio dos Anjos, Gilmar Dalpozzo e Pintado. O atual comandante foi a última das opções.

Mesmo assim, chegou ao JEC com plenos poderes como técnicos de outra gestões. Com a saída dos atletas da LA, Márcio indicou e trouxe Gualberto, Filipe Costa, Tiago Ulisses e Zotti. Todos jogadores com os quais já havia trabalhado. Fez isso porque ninguém tinha conhecimento para questioná-lo. Aí foi a prova do fracasso do comitê de futebol.

E o comitê?

O comitê de futebol do Joinville foi uma ideia que, na teoria, poderia funcionar. Na prática, foi um fracasso. O conceito de comitê deveria ter pessoas muito envolvidas com o futebol para haver mais discussão (e mais acerto) nas contratações. Assim, se evitaria a gestão "terceirizada" – nos últimos anos, o JEC dava plenos poderes a um executivo (Júlio Rondinelli e Carlos Kila), confiava plenamente nele e não havia questionamento do trabalho.

No entanto, neste ano, se fez pior. Além de não haver a figura de Rondinelli ou Kila (que já não foram bem), não havia ninguém focado em montar o time, acompanhar os atletas, viver o futebol 24 horas. O que era ruim, ficou horrível.

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O que há hoje:

– O presidente, focado em outras áreas do clube e nos negócios da sua empresa particular.

– Um diretor financeiro, focado em buscar soluções para acertar as contas e também em sua vida profissional.

– Um médico, atento às questões importantes dos atletas para evitar a vinda de jogadores lesionados, mas também focado nos seus negócios profissionais.

– Um advogado, atento às questões legais das transferências, também focado em seus negócios profissionais.

– Um superintendente de futebol, que admite que não é a sua área buscar a contratação de jogadores.

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Ou seja, não há ninguém plenamente capacitado em montar um time de futebol. Há pitacos de pessoas que acompanham à distância. Só. A culpa é deles? Em partes. Na verdade, a maior culpa é não ter previsto o fato de que ninguém se dedicaria inteiramente ao que realmente importa no Joinville.

O planejamento errado pesa mais neste caso. Como cobrar que estas pessoas abandonem seus negócios pessoais? Isso é impossível. O cobertor é curto. O Joinville precisa de gente dedicada e estas pessoas não podem fazer isso. Erro de planejamento.

O que fazer agora?

Com tantos erros, o torcedor pouco atento à Série C pergunta: o que fazer agora para evitar o rebaixamento? É possível contratar? Não, não há como contratar. A única medida que poderia ser feita para buscar algo diferente é a troca de comando. No entanto, nenhum diretor do JEC cogitou a ideia de trocar o treinador.

Márcio Fernandes não é o único (nem o maior deles) culpado, mas seus números não o ajudam – são apenas duas vitórias, um empate e cinco derrotas em oito jogos. A troca, talvez, seria a única solução para tentar dar um choque ao grupo nas últimas cinco rodadas.

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O caminho é buscar um salvador, milagreiro, alguém abençoado por Deus para ter boas ideias. Se a diretoria do Joinville nada fizer, o quadro dificilmente mudará. É preciso tomar uma última decisão. O milagre não cairá no colo.

Mas aí vai vir a pergunta repetida e óbvia (algumas vezes dos próprios diretores, sem criatividade para pensarem em algo que eles mesmos deveriam pensar): quem trazer?

Alguém identificado com o JEC. Falaram (torcedores) em Sergio Ramirez, Pingo. Por que não? Nos trabalhos deles, o Joinville não passou nem perto do rebaixamento. Seriam soluções baratas, única maneira de o Tricolor contratar. Eles também sabem o quanto é ruim o Joinville cair. Dariam o sangue deles e dos jogadores para evitar a queda.

Vale o reforço: esperar o milagre acontecer não resolverá nada. Ou o Joinville vai atrás dele ou se conforma (como tem feito nos últimos, em todas as gestões, com os rebaixamentos). Mas se houve tantos erros, errar mais uma vez, numa última cartada, buscando o milagre, será a menor das falhas.

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