A semana do Joinville foi marcada por treinos fechados, nenhuma entrevista e concentração total no CT do Morro do Meio. Houve compreensão da imprensa e da torcida (nenhum protesto foi feito). Tudo para garantir que a equipe começasse uma reação neste sábado contra o Cuiabá. Em campo, no entanto, nada aconteceu. O time repetiu os mesmos erros – mal posicionado, falhas em bolas paradas, bolas aéreas e dificuldade para criar enquanto o rival se fechava.
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Alguém pode até perguntar: pera aí, mas o JEC marcou dois gols, poderia até ter vencido…Verdade. Mas seria uma vitória enganosa. Na verdade, um triunfo diante do Cuiabá poderia esconder muita coisa, trazer falsas impressões e ser ruim para o futuro do Joinville. A derrota sim mostrou o que é hoje o Tricolor. Talvez veio a tempo de dar o último choque no coração que já respira por aparelhos. Pode até ser algo positivo.
No jogo, os lances mostraram claramente como vencer seria uma ilusão. O primeiro gol veio com Grampola numa cabeçada errada, que só parou no gol após o desvio de Ednei. A jogada pelo lado esquerdo, construída por Michel Schmöller, foi uma das poucas com presença de lateral, ponta e volante num lado para facilitar as triangulações. Isso quase não aconteceu nos 90 minutos, assim como foi nas rodadas anteriores.
Antes, o JEC escapou na chance desperdiçada por Talles Cunha – na verdade, no milagre feito por Matheus aos dez minutos. Ainda no primeiro tempo, o Joinville se atrapalhou na bola parada (escanteio), não conseguiu afastar a bola e ofereceu a Weverton a chance que criou o gol e o pênalti – o gol já deveria ter sido dado, mas o árbitro ajudou, deu o pênalti e, ainda assim, o Cuiabá marcou.
No segundo tempo, numa jogada semelhante, o Cuiabá cometeu o mesmo erro do JEC em bola parada e o Tricolor marcou. Na base da sorte, o Joinville ia vencendo. No entanto, a realidade apareceu com força logo depois. Duas bolas na trave – uma incrível de Bruno Sávio e outra, em bola parada, de Ednei.
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Depois, veio o gol de empate numa bola aérea, aproveitada por Marino, e a virada num contra-ataque. O gol da virada evidencia o que era o JEC: uma bagunça tão grande que Itamar Schulle percebeu que poderia buscar mais na Arena, como fez neste sábado.
Lances que ilustram a bagunça do JEC: Madson partindo para cima, em jogada individual, contra três adversários (absoluta falta de orientação e trabalho coletivo); Davi recebendo bola no meio-campo, circulando à procura de alguém para trabalhar e não encontrando ninguém; Bruno Aguiar partindo ao ataque de forma desesperada, abrindo um buraco na defesa e oferecendo o contra-ataque, quase aproveitado por João Carlos.
Isso tudo aconteceu no jogo. Mas não é preciso ver os lances para saber como andam mal as coisas, basta observar os números. Na Série C, são cinco jogos, quatro derrotas, dez gols sofridos e três marcados. Assustador. Nos dez jogos de Matheus Costa no JEC, em quatro ocasiões sofreu três gols e em duas ocasiões sofreu dois gols. É muita coisa.
E o grande problema é que há tempo para trabalhar. Alguma evolução deveria aparecer, mas até agora nada acontece. O time se desesperou sempre quando esteve em condições adversas e repete isso jogo a jogo.
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Diante de tudo isso, ainda há dúvida se é preciso mexer no comando?
Para alguns diretores do JEC, sim. É incrível como possa haver dúvida. O Joinville perde tempo desde a semana passada. Hoje, o clube estaria na Série D. O fundo do poço completo. Destruiria qualquer projeto da diretoria que recém foi empossada. Em várias ocasiões, o discurso foi: se não subirmos, teremos um ano muito difícil em 2019. E se cair? Como será?
Os novos diretores são bem intencionados, jovens, mas precisam saber que futebol exige decisões rápidas e coragem. A crise está aí, na cara. Vão esperar o quê? Trocar o elenco não é possível. Trocar o treinador não era o desejo de ninguém, mas restam apenas 13 rodadas e o JEC tem míseros três pontos. Perde consecutivamente e reedita erros. Precisa de uma nova vida.
E a troca não pode ser evitada com discursos como: "Vamos trazer quem?", "Mas ele trabalha bastante", "Precisamos ter cautela", "A culpa não é do treinador, é do elenco que não está rendendo".
Se Matheus não consegue extrair o máximo do elenco, a culpa é dele. É só fazer a seguinte comparação: você tem uma empresa, define um líder, mas a produção da equipe cai porque ele não faz os funcionários renderem. O que você decide?
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Outras: se ele trabalha bastante (ninguém duvida disso), o trabalho não está rendendo; a dúvida sobre o futuro treinador não pode impedir nada, na verdade isso é muleta de quem não tem coragem de mudar; a cautela não serve num campeonato tão curto como a Série C, especialmente diante de resultados tão ruins.
A decisão precisa vir imediatamente. Provavelmente, ela virá, mas o JEC já está perdendo tempo. Quando tomar a decisão, deve mirar um técnico que imponha respeito aos atletas e que seja respaldado por outros trabalhos no passado. Fazer apostas é um erro agora. Que fique a lição de 2016: o JEC apostou no inexperiente Ramon Menezes a 12 rodadas do fim da Série B. Caiu.
Agora, restam 13. Nesta semana, a coluna já mostrou que é difícil, mas clubes em situação pior reagiram e até classificaram. Medo e conformismo não combinam com o atual momento até porque, fica aqui novamente o recado: hoje, o JEC estaria rebaixado. É bom a direção pensar bem se vai adiar mais uma vez a decisão. O saldo, no fim, pode ser muito caro e histórico negativamente logo para quem se propôs a fazer diferente e dar a volta por cima.