O revés do Joinville diante da Chapecoense, o sexto em seis clássicos disputados no Campeonato Catarinense, precisa ser observado sob dois aspectos. Primeiro, o do jogo, a partir de um erro gravíssimo do auxiliar José Roberto Larroyd, que anulou um gol legal do JEC. Num duelo equilibrado, no qual o adversário (a Chape) sofreu apenas dois gols no Estadual, cometer uma falha dá outro rumo para a partida.

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Foi exatamente o que aconteceu na Arena Joinville. A Chapecoense não chegou a criar grandes oportunidades no primeiro tempo, mas quando apareceu no ataque, marcou no escanteio, uma de suas grandes armas.

Atrás no placar, o Tricolor precisou buscar o resultado diante de um rival que sabe se defender e é bem mais qualificado tecnicamente. Não conseguiu e, pior, foi envolvido e o placar poderia até ser maior na segunda etapa. Tudo ao natural e sem muito esforço da Chapecoense.

Após a derrota, além da justa queixa sobre a arbitragem, Rogério Zimmermann lamentou a limitação do elenco. Deu a entender que o Joinville chegou ao seu limite. A ideia foi repetida mais tarde pelo superintendente de futebol, Carlos Kila. E aí começam a aparecer as “muletas” – desculpas que, se bem observadas, colocam os próprios profissionais do Joinville sob grande contradição.

Na entrevista coletiva de sexta, Rogério Zimmermann afirmou que o Joinville tinha uma “campanha proporcional ao orçamento”. O mesmo repetiu Carlos Kila, no fim do jogo de sábado, quando declarou que o departamento de futebol executa o planejamento da diretoria.

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Analisando o Campeonato Catarinense, o Joinville perdeu todos os clássicos e só ganhou pontos das equipes menores. Na mesma sexta-feira, Zimmermann declarou que “a condição técnica de uma equipe depende de seu investimento”.

Usando estes discursos, é possível perceber que há uma série de muletas. Primeiro porque o Joinville tem orçamento maior que o das equipes pequenas. Logo, ele não fez mais do que sua obrigação ao conseguir os pontos que tem na classificação, afinal, segundo Zimmermann, “a condição técnica de uma equipe depende de seu investimento”.

Hoje, o Joinville soma um ponto a mais do que o Brusque e poderia ser ultrapassado pelo Tubarão – até a publicação deste texto, o duelo Tubarão x Criciúma não havia sido encerrado. Pela lógica “orçamento x rendimento”, o Tricolor deveria estar à frente deles com mais tranquilidade.

Outra: no ano passado, o Brusque, com menor investimento do que o JEC, terminou em quarto (à frente do JEC e atrás apenas de Chapecoense, Avaí e Criciúma), jogou duas vezes contra Figueirense, Avaí, Chapecoense e Criciúma e, nos oito confrontos, somou três vitórias, um empate e quatro derrotas. Hoje, contra os mesmos adversários, o Joinville tem seis derrotas em seis partidas.

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O Brusque de 2017 ainda atraiu atletas como Jonatas Belusso, um dos destaques do Estadual, sem investimento, calendário etc. Outros fizeram isso, como o Tubarão, que tinha Jandrei, hoje na Chape, ou o Guarani de Palhoça de 2016, que tinha Alex Maranhão, que parou no Criciúma.

Há mais exemplos como o lateral Capa, do Guarani para o Avaí, o zagueiro Alemão, que saiu do Brusque também para o Avaí. Em resumo: há atletas baratos em boa condição. O bom trabalho se diferencia por encontrar estes jogadores.

A grande intenção destas comparações e recordações de discursos é mostrar que o Joinville olha para o futuro sem analisar o que está fazendo. A conclusão no clube é de que o time chegou ao seu limite. Mas foram feitas dez contratações e, até o momento, poucas realmente serão úteis na Série C.

Murilo Rangel, jogador que mais atuou neste ano (e, pela lógica, deveria ser unanimidade) é um dos mais questionados. Será que alguém da diretoria do JEC está observando isso? Discursos, contradições, exemplos dos rivais?

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O pós-jogo da Chapecoense traz preocupações porque o Joinville continua com recursos escassos, no entanto, ao que tudo indica, repetirá os mesmos erros. Pelo que aponta o departamento de futebol, vem aí mais um pacotão de contratações.

Se chegarem oito (como tem se especulado), em menos de um ano e meio, Carlos Kila alcançará a marca 47 contratações – mais de quatro times. Se ninguém cobra ou analisa com profundidade o que é feito, não poderá reclamar dos resultados em campo. E que fique claro: o maior problema não é o orçamento.

Recentemente, a coluna lembrou que o Joinville é pouco ambicioso (leia aqui). Esse conformismo de achar tudo normal, vai apequenando o JEC ano a ano. Sem exigência, não se consegue resultados maiores. O Tricolor quer ser protagonista na Série C, encarar os rivais de igual para o igual no Catarinense, mas não faz nada em termos de cobrança para alcançar esta condição.

A falta de ambição e cobrança se refletem até nas arquibancadas. O Joinville não conseguiu colocar 5 mil pessoas na Arena neste ano. Óbvio: a campanha é normal, nunca empolgou, nunca teve uma grande vitória sobre os rivais para reconquistar o torcedor.

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E o detalhe final que poucos prestaram atenção: no ano passado, nesta mesma altura do campeonato, o Joinville somava os mesmos 17 pontos que tem hoje. E olha que na entrevista de sexta-feira, Zimmermann chegou a dizer que a condição deste ano é melhor porque, em 2017, o JEC correu risco de rebaixamento.