Frase ouvida pelo colunista na noite desta segunda-feira, logo após o anúncio da demissão da comissão técnica do Joinville.
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– Estamos atentos e seremos exigentes. Só não havíamos manifestado publicamente porque não poderíamos fazer isso.
A questão aí se refere a um ponto fundamental: havia receio de tomar uma decisão ou projetar uma decisão sem a certeza que os novos diretores, de fato, seriam os novos comandantes em abril. Com o fim do prazo para inscrição de chapas – e só a liderada por Vilfred Schapitz e Alexandre Poleza foi inscrita – os diretores ganharam tranquilidade para tomar a decisão.
O discurso da mudança usa como justificativa o fato de esta comissão técnica ter sido contratada pela antiga gestão.
– Os números são dentro do esperado. O Joinville ocupa a quarta colocação – disse o mesmo diretor à coluna.
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No entanto, todos sabem que a questão não é essa. Se de fato o atual trabalho fosse bom, não haveria mudança. Simples assim. Ele é, no máximo, razoável.
Pesou contra Rogério Zimmermann um grande número de exigências que, dentro de campo, não estavam justificadas. Ele pediu treinos fechados no CT. Foi atendido. Pediu fim dos boletins médicos. Foi atendido. Pediu jogadores conhecidos por ele – Evaldo, Elias, Marcos Paraná, Michel Schmöller. Foi atendido. Tudo o que treinador desejava, acontecia.
Na verdade, quase tudo. Nas últimas entrevistas, demonstrava certa impaciência com o orçamento limitado e justificava os resultados pelo pela falta de investimento. Um erro, afinal, quando ele assumiu o JEC, sabia desta condição. Neste tempo, ganhou pontos dos pequenos e perdeu todos os clássicos.
Em termos de comparação, a campanha de 2018 é igual à de 2017. A diferença é que no ano passado Fabinho Santos não tinha tanta rejeição interna e externa. Era um sujeito mais simples comandando o Joinville, com as mesmas dificuldades de Zimmermann, mas sem tantas excentricidades.
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Para Carlos Kila, o tempo já era generoso. Desde o ano passado, estava claro que ele não poderia continuar. Houve 39 contratações na passagem que começou no início de 2017. Quantas delas foram unanimidades? Rafael Grampola e Bruno Aguiar que, convenhamos, não era preciso muito conhecimento para saber que dariam certo.
Houve acertos? Claro. Caíque e Alex Ruan são aqueles "desconhecidos" que fizeram bom papel por aqui. Mas isso é pouco. Além deles, vieram Patrick, Chaveirinho, Ricardo Lobo, Zé Mateus, Lazio, Alisson, Lauro, Lucas Mota, Buiú, Diego Viana, Ciro, Bruno Batata, Gustavo Xuxa, Everton Júnior, entre outros. Alguns deles o torcedor certamente nem lembra.
Havia outro problema: Kila não cobrava Zimmermann. Na verdade, o treinador parecia acima do superintendente pelo que apurou a coluna. Algo até suspeitável pelas contratações feitas – todas com o aval de Zimmermann, que chegou a negociar diretamente com alguns jogadores. Com estas atitudes, como Kila cobraria o treinador? Relação torta, sem sentido para a hierarquia do departamento de futebol.
Além disso, o atual momento do Joinville exige muito acerto com pouco orçamento. É difícil? Lógico! Mas há exemplos destes trabalhos com pouco dinheiro em todos os cantos.
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No ano passado, o Tupi-MG, adversário do JEC na Série C, estava endividado, sem credibilidade, sem apoio da torcida e sem apoio da cidade de Juiz de Fora. Ainda assim, terminou em segundo na chave, não perdeu nenhum jogo para o Joinville, foi ao mata-mata e parou no vice-campeão Fortaleza.
Há outros exemplos. Locais, o Brusque de 2016, quarto colocado, que encarou de igual para igual todos os grandes do Estado e quase eliminou o Corinthians (campeão brasileiro) na Copa do Brasil. O Brusque, lembremos, está na Série D, não tem uma torcida tão grande e está longe de ser uma grande vitrine.
O próprio Joinville já ensinou que é possível fazer mais com menos. Em 2009, não foi à final por um ponto – estava sem série na época. Em 2010, ficou com o vice-campeonato estadual na mesma situação: sem série e sem dinheiro.
Não existe varinha mágica, existe trabalho. Conformar-se com a "muleta" do orçamento é algo muito comum para o joinvilense. O pior é que os profissionais que pisam no CT do Morro do Meio aprendem rapidinho esse discurso e vão justificando seus erros colocando a culpa na falta de grana. Balela.
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Estas decisões mostram que a diretoria do Joinville está atenta (felizmente). Ser exigente é o mínimo para ambicionar grandes conquistas. O JEC viveu uma grande fase de conformismo, que precisa ser deixada de lado. Funcionário precisa ser cobrado como em qualquer empresa, especialmente num mercado competitivo como é o futebol.
A decisão, tomada pelo comitê de futebol, é um alento. A grande missão deste comitê agora é criar uma filosofia para o Joinville. Estabelecer objetivos claros; melhorar a relação com a comunidade e apagar a imagem de antipatia (criada pelos treinos fechados e pela confusão do monitoramento dos torcedores).
Treino fechado é importante, deve ser uma estratégia, mas não pode ser banalizada. O JEC não está em guerra contra ninguém para transformar o CT numa fortaleza. O prejudicado sempre é o clube, que perde espaço (publicidade para os patrocinadores, por exemplo). O fundamental é entender que funcionário algum pode criar regras no clube. Tudo deve partir do alto escalão.
Há tempo para resgatar o torcedor e mudar o clima para a Série C. Os novos profissionais terão uma grande missão, mas deverão ser igualmente cobrados. Vale lembrar: se eles não forem exigidos ao máximo, no fim do ano deixam o JEC e o clube continuará na Terceirona.
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Informações
– Não será contratado um novo gerente de futebol. Adilson Fernandes acumulará a função de Carlos Kila no JEC e será o "homem forte do futebol".
– O Joinville vai contratar um auxiliar técnico fixo do clube, alguém identificado que possa fazer o elo vestiário/diretoria.
– O novo técnico deve ser anunciado ainda nesta terça-feira.
– Cassiano Nunes, auxiliar da preparação física, será o novo promovido a preparador físico do JEC.