A derrota para o Hercílio Luz, pela primeira rodada do returno da Copa Santa Catarina, foi o menor dos problemas para o JEC. O resultado não é o que pesa. Perder para equipes de menor expressão é absolutamente normal e voltará a acontecer. O que incomoda de verdade é a maneira como a imagem do clube está se degradando nos últimos anos. E a noite de quarta-feira deu sinais claros de como o Tricolor está se afundando, sem que alguém possa jogar uma “boia” para salvar o clube.

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A começar pelo público. Pouco mais de 600 pessoas estiveram na Arena. Houve reclamação durante o jogo, mas, mesmo após a derrota, há um sentimento de impotência. O torcedor, que antes cobrava, parece conformado em ver o JEC neste estado. Se você andar em Joinville, poucas pessoas sequer sabem como anda a equipe. Isso é grave. Quando há queixas ou reclamações do tipo "o JEC só faz vergonha", ainda há uma indignação. Agora, quando as pessoas desconhecem o atual momento, aí o clube passa a ser ignorado, que é algo bem mais sério.

Outro sinal é a limitação técnica da equipe. O Hercílio Luz, montado por Nasareno Silva (dirigente que passou pelo Tricolor em 2011), chegou à Copa Santa Catarina com praticamente o mesmo tempo de preparação. O técnico Edson Vieira foi apresentado no dia 6 de agosto. Por aqui, Wagner Lopes teve sua oficialização 15 dias depois.

Apesar do tempo de preparação semelhante, o que se viu na Arena foi uma equipe consciente do que deveria ser feito (Hercílio) e outra completamente perdida (JEC). Hoje, a diferença entre os clubes é de sete pontos para o Hercílio Luz. No agregado, o JEC levou 5 a 1 (3 a 1 em Tubarão e 2 a 0 em Joinville) do time do Sul. Ou seja, no momento, o Tricolor é bem inferior em relação ao Leão do Sul.

O terceiro e pior sinal é que o Joinville entrou na Copa Santa Catarina disposto a ser campeão. No ano passado, até chegou a levar 3 a 0 do Brusque em casa, mas aquele resultado não teve tanta repercussão porque a comissão técnica e a diretoria já declaravam que o campeonato serviria apenas para observação – o resultado não importava.

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Agora não. O JEC se propôs a jogar para valer, no entanto, não consegue superar rivais com bem menos tradição e corre o risco de ser eliminado na primeira fase. Se isso acontecer, a imagem, que já estava sem crédito, irá piorar com este resultado vexatório.

Agnello Gonçalves pregou, desde a sua chegada, que é preciso continuidade no trabalho e cuidado com avaliações precipitadas. O gerente de futebol do JEC tem razão, mas algumas situações não precisam de tempo para se constatar que não irão funcionar. A defesa do Joinville é um exemplo.

Em todos os jogos da Copa Santa Catarina, o sistema defensivo foi vazado. O JEC só levou menos gols na competição do que o Operário (rebaixado à Série C do Catarinense) e do que o Blumenau (que lutou contra o rebaixamento à Série C do Estadual). Em muitos dos gols, houve falhas dos zagueiros Filipe Costa e Rodolfo. E eles são dois dos três atletas que têm contrato até o fim da Série D. Sinal, no mínimo, preocupante.

Além da fragilidade da equipe, a avaliação dos atletas está prejudicada pelas situações extracampo. Os salários atrasados (mais de 75 dias) pesam, embora a direção sempre tenha negado a influência deste problema. No entanto, no intervalo do jogo de quarta-feira, o zagueiro Rodolfo declarou que “há jogador com quatro meses de salários atrasados e com dificuldades de moradia”.

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Se um atleta faz este tipo de declaração no intervalo da partida, é sinal de que há um desequilíbrio psicológico completo do time. Faltam condições para deixar o ambiente, no mínimo, harmonioso.

Em 15 de setembro, “A Notícia” publicou uma reportagem com o lateral-direito Rafael Tesser, na qual o ex-atleta lembrava como foi a construção do time que ganhou a Copa Santa Catarina de 2009 e serviu de base para a equipe que ascendeu à Série C no ano seguinte. Na ocasião, Tesser lembrou como é fundamental ter os salários em dia para um time funcionar.

— As pessoas acham que é só juntar um bom time para as coisas funcionarem. Não é bem assim. Tudo tem que caminhar bem. Se o massagista estiver com salários atrasados, ele faz o tratamento de qualquer jeito. O jogador fica sensibilizado pela dificuldade do profissional que ganha menos e passa a não confiar na diretoria. Daí o discurso do treinador não encaixa, tudo começa a desandar. Se você promete uma bala, você tem que cumprir — disse, na época.

Em resumo, se a direção do Joinville não encontrar uma maneira de fechar este rombo, as dívidas só vão aumentar. Haverá menos recursos para montar as equipes, os resultados serão ruins, o público irá diminuir e, como consequência, a receita.

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Há um pensamento entre alguns diretores de que foi um erro investir na Copa Santa Catarina. Além do gasto – até o fim do ano, o Joinville terá colocado mais de R$ 500 mil nesta competição —, existia o risco de não atingir o objetivo e manchar ainda mais a imagem do clube. De qualquer maneira, diretoria terá de ser muito cuidadosa na suas escolhas. O rebaixamento para a Série D é algo que ficará marcado para sempre (e talvez deixe o clube nesta divisão durante anos). Mas se as coisas continuarem deste jeito, não irá demorar muito para o JEC voltar a ser uma equipe “fora de série”.

Por isso, fica o primeiro alerta: joguem a boia. O fundo do poço ainda não chegou, mas se o Joinville continuar afundando, será muito mais difícil voltar a ter anos de glória. O segundo alerta é para o torcedor: não deixem de cobrar. Quando se faz, cria essa maré de conformismo (já citada pela coluna) e aí para o esquecimento é um pulo. É preciso sim noticiar as coisas ruins e cobrar melhora a partir delas. Fechar os olhos para isso causará um dano bem maior a longo prazo. Os erros se repetirão e o clube não sairá do lugar.