A coluna já falou várias vezes de um problema sério do Joinville: o conformismo. Quem não acompanhou, pode ler aqui e aqui. Desta vez, não se falará sobre este tema. O colunista entende que o torcedor compreende e concorda que o JEC precisa pensar diferente para conseguir resultados melhores.

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Um clube vencedor precisa ficar inconformado com a derrota. O grande problema é que o Joinville se acostumou a perder nos últimos anos e os novos diretores (desta e de outras gestões) agem como se cair ou perder fosse normal.

No entanto, além do conformismo, há outros males que precisam ser combatidos. Eles contaminam os discursos e se juntam ao conformismo nesta corrente de derrotas. O primeiro destes males é o coitadismo. E ele não vem de hoje.

Você certamente já ouviu frases como: o Joinville não tem dinheiro; o JEC é dirigido por abnegados que não ganham R$ 1 para estar lá; vocês não sabem como é difícil dirigir o Joinville; ninguém apoia o Joinville; nós largamos nossa família e nossos trabalhos para estar aqui; a imprensa só nos critica; a gente vem aqui trabalhar de graça; eu assumi porque ninguém quis.

O que são estas frases? Muletas! Sim, desculpas esfarrapadas. Vem de pessoas despreparadas. Não têm a menor ideia do que é o futebol. Futebol é o único esporte de rendimento neste País onde há cobrança. Lógico, porque há muito dinheiro envolvido, mídia, publicidade. Não há cobranças nesse nível no vôlei, basquete, futsal (deveria, mas não há). E lá, nos outros esportes, há mais gente preparada.

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No futebol, treinadores, jogadores e alguns dirigentes remunerados ganham salários incomparáveis à média de um trabalhador do País. Por isso, devem ser cobrados como tal. Quem decide entrar neste meio, mesmo que seja sem receber nada, precisa ter esta consciência. Se estiver diante de uma imprensa séria e torcedores exigentes, estes diretores serão, sim, cobrados.

Aqui em Joinville, no entanto, cobrar é ser chato. É não compreender a dificuldade. É ser desagregador. É torcer contra. E se você cobra, vem a pior das muletas: "se você acha que está ruim porque não vai lá e faz melhor? Qual é a sua sugestão?"

Ora, simples: eu não assumo porque eu não me propus a fazer isso. Quem se propôs foram vocês, dirigentes. Aliás, todos os diretores assumiram voluntariamente. Cada um deles com seu motivo particular. Ninguém os obrigou. Ninguém colocou arma na cabeça de ninguém dizendo que eles deveriam assumir o Joinville.

Mas aqui não há esta compreensão. Muito mais fácil usar a muleta do coitadismo ao invés de explicar por qual motivo não deu certo. É aquela coisa: quando você assume, acha que vai brilhar e ser carregado nos braços da torcida. Quando fracassa, não admite o erro, não tem humildade para desistir ou passar a bola para outro e é muito mais fácil arrumar desculpas ou apontar um vilão como os críticos da imprensa.

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Numa cidade com um clube de futebol, alguém consegue imaginar que a cobrança tenha o intuito de destruir algo? Será que a exigência não pode ser enxergada como algo bom, que faça crescer, que torne o futebol da cidade mais ambicioso e menos conformado?

Não, infelizmente não. Aqui, cobrar faz mal. O coitadismo está impregnado nos discursos. Seria mais bonito dizer "erramos, erramos feio. Subestimamos o monstro, não temos conhecimento para vencê-lo e fomos engolidos."

Claro que há dificuldades. Há compreensão, sim, do caos financeiro que vive o Joinville. Ignorar os balanços do clube, que mostram prejuízos ano a ano, seria estar desconectado da realidade. Mas será que só aqui há dificuldades? Quantos clubes do País estão em situação financeira igual ou pior que tiveram resultados tão ruins quanto o JEC?

Se a Série C terminasse hoje, o Ypiranga-RS teria escapado do rebaixamento e o Operário-PR classificaria em primeiro. O Ypiranga-RS joga (e não subiu) na Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho. O Operário jogou a Segunda Divisão do Campeonato Paranaense. Será que foi fácil para eles? Em cidades sem tanta tradição no futebol, com torcidas menores? Como será que os dirigentes do Joinville reagiriam se estivessem nesta situação?

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E isso não é de hoje. No ano passado, o Tupi-MG, numa condição pior que a do JEC (citada, inclusive, por Renan Teixeira, jogador do JEC no ano passado) jogou o mata-mata do acesso. O Volta Redonda, sem torcida, também jogou o mata-mata do acesso. O Tombense, que não tem torcida, jogou o mata-mata do acesso. Aqui, em 2017, o JEC não conseguiu. Quando se cobrou, teve gente que achou a crítica injusta.

Deu para entender o tamanho do coitadismo? Todo ano (seja com qual for a gestão) é difícil. Gente, futebol é difícil. Tem problemas financeiros para 80% dos clubes. Mas alguns deles buscam soluções para o futebol e não caem. Em quatro anos, o JEC irá para o terceiro rebaixamento. Por que isso só acontece aqui?

Neste ritmo, no ano que vem, se for eliminado na primeira fase da Série D, vai ser normal. E quem criticar será visto como chato. No outro ano, o time fica sem calendário. Normal. Chatos serão aqueles que acharem que a Copa SC não é um bom negócio. Assim, aos poucos, o time vai se apequenando e, em breve, ficará esquecido.

Com todo este coitadismo, vem o último dos males: o revanchismo. Estar no Joinville é ruim, muito difícil. Mas basta você sair de lá para dizer que "na minha época é que era bom". Exemplo: toda hora tem dirigente dizendo "viu, você achava ruim a Série C, agora vai para a Série D". Ou "eu caí na A, no meu tempo tava bem melhor".

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Não! Em todos os anos foi ruim. Ser menos pior não quer dizer que você foi bem. Dizer "que na minha época foi bom" é ser revanchista esquecendo o contexto da época, na qual você se conformava com o fracasso. Basta alguém fazer pior para você, equivocadamente, achar que era bom. Não. Era ruim também, em outro momento. É aquela coisa: você tem uma rua sem asfalto. É ruim! Aí, asfaltam, mas ela está cheia de buracos. Ou seja, continua ruim.

E o detalhe: você viu a palavra em negrito ali? Conformava, de conformismo. Voltamos ao papo de antes. O conformismo vem acompanhado do coitadismo. Depois, fora do clube, você torce contra. Aí, se cair, na "minha época era bom". Ta aí o tal de revanchismo.

Mais do que uma reestruturação completa, como afirmou o presidente Vilfred Schapitz, o Joinville precisa reavaliar seus conceitos e ideias. Ser mais humilde, aceitar as cobranças e fazer delas um combustível para crescer. É óbvio que é preciso estancar o rombo financeiro, mas achar que cair é necessário para corrigir este rumo é se conformar. Dá para fazer as duas coisas. Se não der, é porque você não fez um bom trabalho.

E se você acha injusta a crítica (que considera um mau trabalho o rebaixamento, apesar das dívidas) você não tem humildade suficiente para pensar que poderia fazer mais. Talvez, você não tenha capacidade de fazer mais, no entanto, continua sem humildade porque permanece no clube, errando mais e mais.

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Vai demorar para o JEC crescer. Só irá acontecer quando os comandos (não só o atual) pararem de dar desculpas. E olha que hoje há bem mais gente mobilizada. Há mais diretores, mais conselheiros (20 em reunião é pouco, mas antes não havia nem 10).

Pensem grande. Mais humildade, mais trabalho, menos conformismo, menos coitadismo. Reerguer um clube de futebol não é fácil. Se você se propôs a isso, siga esta receita e seja ambicioso para finalmente ser lembrado pela torcida.