Três vezes por semana o fruticultor Kleber Vieira precisa passar pela SC-370, rodovia que liga a região ao Sul do Estado. É pela Serra do Corvo Branco, o caminho mais curto para escoar a produção, que ele leva maçã, ameixa e tomate para Braço do Norte. Até chegar ao destino, no entanto, há um caminho a percorrer entre buracos e barreiras de pedras caídas na pista. A própria estrada, em curvas e considerada uma das mais perigosas de Santa Catarina, já é um desafio.
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– Não tem guard rail para proteger. Atualmente, está bem abandonado – resume Vieira.
As condições da via aumentam os custos do transporte, mesmo assim o produtor prefere utilizar o trajeto mais rápido. A outra alternativa seria pela Serra do Rio do Rastro, aumentando o percurso em mais de 100 quilômetros.
Essa realidade poderia ser outra se as obras no trecho de 9,3 quilômetros entre Urubici e Grão Pará não tivessem paradas há dois anos, devido a problema no projeto de execução envolvendo licenças ambientais e Celesc.
A revitalização da SC-370 foi iniciada em 2011, dividida em três lotes. No total são 53,4 quilômetros. Os primeiros 20,6 quilômetros foram inaugurados em 2012 e os outros 23,5 quilômetros estão sendo concluídos. Mas esse trecho da Serra do Corvo Branco está praticamente abandonado. A previsão era que as obras, iniciadas há pelo menos três anos, estivessem prontas em abril de 2016. Na época o consórcio que venceu a licitação de R$ 36 milhões abandonou os trabalhos.
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De acordo com o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra), oficialmente o trecho está interditado pelo risco de desmoronamento de pista e de blocos de arenitos. Quem precisa usar o caminho se arrisca. É o caso do transportador de leite Silvio Boing, que mora em Urubici e toda semana enfrenta o trajeto. Além do produto, ele carrega uma pá no caminhão, para usar no caso de haver cascalho mal espalhado na estrada, por exemplo. Ele desembarca do veículo e faz o “conserto” da rodovia ele mesmo.
– Às vezes chove, passa caminhão pesado, cai terra nas valetas e a gente precisa perder um pouco tempo para tirar, senão não passa. A água vai ficando na estrada – comenta.
Produtores e moradores de Urubici e Grão Pará fizeram, no sábado, um protesto para pedir, principalmente, pavimentação ao local. Em agosto, a empresa Prosul venceu a licitação para readequação do projeto. Segundo o fiscal da regional do Deinfra, em Tubarão, Vilson Giassi, é preciso tê-lo em mãos para que as obras possam continuar, e o prazo para a entrega é março. Depois de pronto o projeto, uma nova licitação será feita para contratar a empresa que executará os trabalhos. Por isso não existe um prazo estipulado para que a rodovia fique em condições de tráfego.
Turistas enfrentam obstáculos
Essa parte da rodovia tem um dos maiores cortes em rocha do Brasil, com 90 metros de altura, chegando a 1,1 mil metros de altura do nível do mar. O fato atrai milhares de turistas de várias partes do Mundo. Só que para chegar ao paredão de pedra é preciso enfrentar os obstáculos. Jomar Eduardo Raifur saiu de Apucarana, no Paraná, com a família para conhecer o local famoso e se impressionou com o abandono:
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– Achei que estava no lugar errado né, porque vi as fotos que me mostraram e parecia asfalto. O lugar é muito bonito, só falta um capricho, um cuidado com a serra – lamentou.
A estrada
– A rodovia foi a primeira estrada a ligar serra e litoral no Estado.
– A formação rochosa tem mais de 160 milhões de anos. Um dos pontos mais característicos é o dos dois paredões de pedra.
– Com curvas sinuosas, a Serra do Corvo Branco fica em uma altitude de 1.740 metros.
– A estrada tem este nome por causa do urubu-rei, ave de plumagem branca que foi, erroneamente, chamada de corvo. Ele tem poucos predadores naturais, mas, devido à baixa produtividade da espécie e à degradação do seu habitat, é cada vez mais rara de se observar.