O nome é suntuoso, Caminhos da Neve, mas a rodovia que liga a Serra Catarinense à Gaúcha está longe de fazer jus ao bonito codinome. A esperança, agora, está na federalização dos 161 quilômetros, aprovada pelo senado no fim de março. Uma das principais rotas para escoamento da produção — principalmente de maçã e madeira — entre os dois Estados do Sul tem como cenário uma estrada com partes sem pavimentação, uma ponte em péssimas condições, a visível falta de conservação e estrutura e o dilema de estar entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, o que acaba dificultando a definição de quem é responsável por qualquer tipo de obra. A manutenção, por vezes, é feita pelo próprios produtores. A ponte, por exemplo, foi construída com trilhos de ferro, madeira e cabos de aço. Uma estrutura perigosa. 

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— A ponte tem hora que não dá passo. Nos juntamos para arrumar. São os produtores que estão mantendo essa passagem funcionando. O escoamento do que se produz aqui na região depende dessa estrutura — afirma Luiz Gonzaga Cechinelo, produtor de gado.

Em SC, as obras de pavimentação dos 29,4 quilômetros da chamada SC 114 já estão bem adiantadas. Já no Estado gaúcho, os mais de 40 quilômetros da RS 110 não receberam nenhum tipo de melhoria. Em 2014, o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) chegou a lançar um edital para a obra, mas esse foi adiado. E nisso já se vão 25 anos de reclamações de quem precisa transitar pelo local.

O motorista, Antônio Tadeu Moraes, transporta madeira do RS para terras catarinenses. Passa pelo trajeto todos os dias. A rota diminui o percurso e, por isso, mesmo em condições precárias ele prefere arriscar.

— A estrada aqui é ruim que nossa, a ponte é perigosa que Deus me livre. Corremos risco ao passar, direto. Mas, a diferença é de 150 quilômetros, então economiza um pouco no óleo, o que nos obriga a fazer este trajeto —  comenta Moraes.

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Negócios deixam de ser fechados

Jaziel Pereira mora no Rio Grande do Sul. Ele coordena o grupo da Rota Caminhos da Neve, que luta pela pavimentação e melhoria nas condições de tráfego. De acordo com ele, são milhões de reais que deixam de circular nos dois Estados por conta da situação.

— São milhares de veículos e caminhões de carga que poderiam passar pela rodovia se ela estivesse pavimentada. A gente estima que o prejuízo fique entre R$ 100 milhões a R$ 200 milhões por ano — explica Pereira.

Só na madeireira que o Ezequiel Santos trabalha, vários negócios deixaram de ser fechados por causa da situação.

— O pessoal vem ali, olha a matéria-prima, se interessa pela madeira, mas acaba desistindo por causa da precariedade da ponte e das estradas — lembra Santos.

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Investimento previsto é de R$ 100 milhões

Com o projeto de lei aprovado no senado em 27 de março de 2018, (PLC) 58/2016, o trajeto passa a integrar as rodovias do Sistema Rodoviário Federal. Ao todo são 161 quilômetros que deixam de ser responsabilidade dos Estados pra virar do governo federal.

O trecho começa em Bom Jesus, no Rio Grande do Sul, no entroncamento da BR 285, e vai até Bom Retiro, em Santa Catarina, no entroncamento com a BR 282.

No meio deste trecho, são mais de 70 quilômetros que precisam de melhorias. Do lado catarinense, dos 29,4 quilômetros, 15 quilômetros já receberam asfalto. Enquanto isso, do lado gaúcho os 40 quilômetros de estradas não tiveram nenhuma melhoria. E é justamente, segundo Jaziel Pereira, para que as obras possam começar no Estado vizinho que a federalização se torna um passo importante na busca de recursos. 

— É um Estado que está comprometido com as finanças, impedido de fazer, por exemplo, esse investimento que geraria na faixa de R$ 100 milhões. Então o caminho é alternativa que nós lutamos é que a gente consiga acessar o orçamento geral da união —  afirma Pereira.

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