A manhã da última segunda-feira, dia 25, jamais será esquecida por mim. Para tantas outras pessoas, ela será classificada como o pior dia de suas vidas. Eu estava em um plantão do Bom Dia Santa Catarina, na NSC TV, com meus amigos Luan Santiago, Thomas Braga e Josué Betim (repórteres cinematográficos), cumprindo as missões de mostrar nas entradas ao vivo as principais consequências dos 10 dias correntes de chuva na Capital.
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> A dor dos moradores da Servidão Manoel Luiz Duarte
Lembro-me que a primeira entrada, por volta de 6h, foi no bairro Saco Grande. Foi aí que meu telefone tocou. Era do setor de produção da TV. Avisaram-me que havia o rompimento de um lago artificial no bairro Lagoa da Conceição, que era muito feio, na linguagem popular ilhéu. Por mais feio que eu imaginasse, não se compara ao impacto de chegar ao local e ver a Lagoa misturada a Avenida das Rendeiras. Isso mesmo, sem exageros. Chegamos ao local por volta de 6h40min, e o que vimos foi uma imensa cachoeira vindo das dunas, arrastando toda a vegetação e desembocando em plena lagoa.
Foi aí que decidimos subir para a Servidão Manoel Luiz Duarte. Lá em cima, sim, vimos que a destruição na avenida era o menor dos problemas. Vidas em risco, casas submersas, carros arrastados e empilhados, pessoas gritando por socorro, bombeiros e agentes voluntários tentando entender o ocorrido e, ao mesmo tempo, salvar todos que podiam.
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Quando me deparei com a situação, levei as mãos à cabeça, contive o choro, consolei os que se aproximavam e tratei logo de transmitir ao telespectador o meu testemunho.

Poucas pessoas tratariam uma cobertura como testemunho, mas, ousei chamar assim porque não consegui separar o prestador de serviços em comunicação do cidadão preocupado com as vítimas naquele episódio. Todos os olhares que vinham em minha direção eram lacrimejados, assustados, amedrontados e carregados da mais extrema impotência.
As primeiras declarações me levaram ao entendimento do que havia ocorrido. Uma lagoa de infiltração da Casan – a companhia responsável pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto em Florianópolis –, havia se rompido e se transformou em uma onda gigante e avassaladora. Essa onda surpreendeu a maioria, que por um verdadeiro milagre, se livrou da morte com braçadas descompassadas, em fuga num ato desespero.
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Entramos ao vivo por mais de dois dias para o Bom Dia Santa Catarina e também para o Jornal do Almoço. Acompanhamos de perto a dor de cada um dos moradores, tomamos café junto daquelas pessoas, que mesmo diante de tanto sofrimento, arranjaram forças para levantar a cabeça e admitir, que o que lhes resta é focar na reconstrução. Recomeçar.
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O que me conforta no meio de tudo isso é que conseguimos prestar o serviço as vítimas, conseguimos respostas da Casan para dar início às reconstruções, conseguimos mostrar que sim, somos seres humanos, servos de toda uma população. Termino este texto com os olhos marejados, mas muito esperançoso.
Tenho esperança de ver todos neste país se ajudando, como foi na Lagoa da Conceição. Tenho esperança de que uma catástrofe como aquela nunca mais aconteça. Tenho ainda, esperança de um dia voltar lá, somente para tomar um café na casa do Seu Edson, na Dona Marta, no Guilherme, no Rodrigo, na Mariana. Ou na casa do Zé Serralheiro, aquele simpático senhor que só está vivo porque teve a sorte de se agarrar na copa de uma árvore com mais de 10 metros de altura, e paciência para esperar o salvamento.
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Pra terminar, se alguém não acredita em super-herói, sugiro que acompanhe, nem que seja por um dia, o trabalho do Corpo de Bombeiros.




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