Quem diria, que o Big Brother Brasil, aquele reality cheio de opiniões divididas, que sempre esteve entre o amor e o ódio do brasileiro, se tornaria nosso principal programa. Quem imaginou que estaríamos vibrando com as tramas estabelecidas num convívio entre pessoas quase anônimas, que tinham um objetivo em comum: ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais.
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Na boa, vi muitos críticos e extremistas discutindo o posicionamento dos participantes, defendendo ideologias de um e de outro. Com faz falta aquela rotina monótona de simplesmente criticar, menosprezar certas programações, mesmo sem ter acompanhado um bloco sequer. Não é mesmo?
Vou confessar: não sou um exímio telespectador do reality em questão, mas me vi preso a questões que precisamos cada vez mais trazer à tona aqui fora. Machismo, feminismo, racismo, preconceitos, discriminações, diferenças, conceitos e respeito. Para os que realmente se importam com as questões listadas, esta edição foi simplesmente a mais qualificada.
Desde o início torci para o Alexandre da Silva Santana (Babu), por todos os motivos óbvios. Concordo com suas manifestações, lutas, discursos e, óbvio, as atitudes dele ao longo da edição. Teve tempo para reconhecer os vacilos, aprender com os erros e se manter focado na defesa de sua gente. Negrão, gordo, ator, fala com gírias e posturas de resistência. Tudo que há tempos é desconsiderado por aí. Concordam?
Babu se envolveu com os caras errados, notou que as índoles duvidosas não lhe serviriam para amizades e, tampouco, para aliados no jogo. O cara decidiu ser o black sensato, nada muito diferente dos comportamentos que lhe fizeram um homem de respeito nos becos e vielas cariocas. Fez tão bem a defesa de seu povo e de sua classe que atraiu somente bons seres humanos para perto de si.
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Cara, mas se tem algo que me faz ser sortudo nessa vida é o fato de ser filho de uma mulher de pele preta, batalhadora, sofrida e ao mesmo tempo, realizada. Quando a queridíssima Thelma foi campeã da parada, olhei para o lado e minha companheira estava aos prantos, por todos os motivos óbvios.
Foi aí que decidi trocar umas ideias com a Dona Inês, a rainha que me concebeu e educou para o mundão. Minha mãe estava simplesmente chocada com o feito de Thelma. Me disse que a vitória da guerreira paulistana lhe representava, que mesmo sabendo que não cairia absolutamente nada em sua conta bancária, se sentia lá, rica e vencedora.
Aí a gente fica pensando, quantas “Thelmas” encontramos no dia a dia? Quantas mulheres negras anônimas batalham e buscam um futuro bacana? São milhares delas. Vibrantes, positivas e cheias de vontade. São seres humanos iluminados que, mesmo sofrendo com o mundo machista, racista e retrógrado, enfrentam os monstros e dão a volta por cima.
Thelma não mostrou ao mundo somente que é difícil ser preto num país que nega a etnia, mostrou que não é a fama que constrói bons líderes, que autenticidade está no DNA e nunca, jamais, nas redes sociais e seus bilhões de adeptos. Ela representa tudo que sempre quisemos mostrar.
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Quando edificamos o país éramos o peão de obra, hoje edificado, não queremos viver de sobra e nem mesmo de indenizações pelo passado que nos submeteram. Continuamos com a mesma força e garra, para ser mulher preta, médica, e agora, milionária. O suor que escorre nos dias de luta, evidenciam que somos merecedores das nossas conquistas.