Há 97 anos, o negro que nascia no Brasil crescia correndo de um lado para o outro, principalmente com outros negros descendentes de pessoas que foram escravizadas. Assim foi a infância, juventude e vida adulta da rainha do samba, Dona Ivone Lara. Negra, mulher, esposa, sambista, compositora e dona de um raro sorriso negro. Se formos parar para pensar no cenário que ela se engajou desde os 12 anos, vamos pirar só de imaginar os vários episódios de discriminação enfrentados por ela.

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O samba quando nasceu era visto como atividade marginal, era machista, a mulher vivia numa condição imposta de submissão e quem tinha a pele escura era considerado escória. Dona Ivone Lara enfrentou todos os empecilhos da época para viver o grande caso de amor que tinha com o ritmo mais brasileiro de todos.

Tocou cavaco, sambou miudinho, protagonizou as maiores rodas de samba já vistas, reinou no samba como ninguém há de reinar um dia. Há poucos meses estava em cima de um palco, fazendo seu público delirar com a imparidade de sua voz. Quer saber? Ela cumpriu com maestria a missão que lhe foi dada neste plano, parou de respirar no dia 16 abril. No mesmo mês em que nasceu, passou para o outro lado 97 anos depois de ter mostrado ao mundo que lugar de mulher é onde ela bem entender.

Me sinto representado, orgulhoso e apaixonado pela dama do samba. Óbvio que vamos sentir saudades, mas a sua obra está aí, nas ondas sonoras deste mundão sem fronteiras. E o que é melhor, ensinando e cativando cada vez mais adeptos. Viva Ivone!

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