Mano, quando surgiu a notícia de que a imensa rede de lojas estava abrindo trainees destinados a profissionais pretos, encarei como uma medida completa, inclusiva e inovadora. Eu, como bom herdeiro que sou das militâncias que envolvem os mais diversos movimentos que buscam o tão sonhado igualitário, logo vi como algo agregador e promissor. 

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Em nenhum momento, me passou pela cabeça que os sem visão de plantão, conservadores e racistas iriam disseminar demasiadamente o seu ódio. É completamente inadmissível que a necessidade de reparo histórico não seja vista por boa parte da sociedade, que insiste em se dizer não racista. Na boa, temos visto ultimamente as piores manifestações de supremacia desde que nos entendemos como povo democrático e amistoso.

De novo, vemos que o popular “faz de conta” está nas entranhas do povo brasileiro, mesmo tendo como base da sua existência a miscigenação que, inclusive, nos faz ser diversificados culturalmente e etnicamente. Alguns se manifestam como se fossem o supra sumo da humanidade, tecendo palavras horrorosas que remetem às atrocidades que eliminaram milhares de irmãs e irmãos negros, na época dos algozes tumbeiros. Outros, sugerem que as vagas sugeridas pela empresa sejam destinadas a todos os pobres, independemente da etnia de que fazem parte (a falta de leitura faz isso).

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O que devemos entender, de uma vez por todas, amigos e amigas, é que existe sim um atraso imenso quando falamos das evoluções étnicas neste país. Nós, pretos e pretas, crescemos sem perspectiva graças as heranças que os senhores e seus sucessores nos submeteram. 

Oportunidades escassas, educação impedida, evolução retardada pelos mandantes e tantos outros empecilhos e retiradas de direitos que a triste história conta (basta ler). Quando algum reparo, seja ele político, ou não, surge para que, mesmo em caráter paliativo e provisório, impulsione a igualdade, nos vem a ignorância extrema e de novo, querem nos fazer voltar à submissão que faz com que rastejemos até o presente século.

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Acredito mesmo que o certo seria que a Magazine não fizesse divulgação das suas evoluções. Que não mostrasse que está cada dia mais inclusiva enquanto empresa e, que, acredita numa sociedade mais justa e igual. O que me deixa mais boquiaberto, além dos idiotas de plantão nas redes sociais, são os magistrados e defensores do povo, que deveriam garantir medidas como tal, nas esferas que lhe são de competência. 

Ao invés disso, querem garantir, com as mesmas leis que nos oprimem, a perpetuação da pobreza e do não protagonismo preto. Levantemos as cabeças, irmãos. Sigamos em frente, mostrando aos milhares de opressores do século XXI que, mesmo com as tentativas de nos aprisionar com grilhões atualizados e com correntes cibernéticas, continuamos evoluindo e fabricando doutores de tom de pele escura. Escuros como a noite, brilhantes como as estrelas. Unbutu, axé, shalom, aleluia, amém!

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