Ainda era um moleque de canela russa quando comecei a frequentar o Morro do Mocotó, devido à proximidade que tem do Morro da Mariquinha, onde morei até os 36 anos. Lembro bem que as vielas daquela comunidade histórica da nossa Capital eram alegres, as senhoras estendiam suas roupas nos muros de suas casas, onde qualquer um que passasse alcançaria facilmente. Mas, este alcançar e retirar as peças do varal eram permitidos somente se as gotas de chuva impedissem o secar. Na boa, tenho tantos amigos naquela comunidade que, se fosse listar um por um aqui, não sobraria espaço para as demais matérias e colunas dos demais colegas.
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Foi lá que acompanhei de perto a cumplicidade de uma família inteira, que tem suas pequenas desavenças, é verdade, mas que tinha um centro de equilíbrio chamado Lucimar Bittencourt. Eu, como sempre fui um pretinho ousado, logo tratei de adotá-la e chamá-la de vó. A matriarca amável e amada por todos da família, da comunidade e da cidade (como ela mesma se referia a quem morava na área plana de Florianópolis). Dona Luci era dona de um bom humor raríssimo de se encontrar hoje em dia. Ria de todos, dava apelidos carinhosos aos 22 filhos, 57 netos e aos bisnetos. Aos tataranetos, serão passadas as mesmas brincadeiras.
Quando me tornei adulto e comunicador deste veículo que vocês leem e assistem, tratei logo de dar o pontapé inicial do quadro Alô Comunidade com a matriarca. Pela primeira vez ela contava para milhares de pessoas sobre como o Mocotó começou a ser povoado e, também, como sua família se tornou a mais tradicional da comunidade.
Aos 93 anos, a boa velhinha nos deixou. O que nos resta é lembrar de cada ensinamento, das brincadeiras e do amor que foi plantado. A guerreira, que até os 89, estava firme e forte nos recebendo em sua casinha na Vila dos Bittencourt, que fica no meio do morro, adoeceu e ficou acamada.
Ainda que ela não esteja de corpo presente pelos becos e vielas que viu crescer, com certeza estará na essência e na história do lugar que se confunde com a própria história da antiga Desterro. Recordo-me o dia em que pedi uma pose para a foto que ilustra a nota. Ela me disse que iria sorrir de acordo com o meu merecimento. Quer saber? É este sorriso que vou levar pra toda a vida.
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Obrigado, Dona Luci! Obrigado, família Bittencourt, por me permitirem fazer parte desta história maravilhosa!