Meus queridos, como vocês sabem, minhas andanças pelas comunidades da nossa região são o que movem este colunista. Por isso, hoje trago uma crônica que fiz depois de ter visitado aquelas vielas palhocenses. Minha intenção como este material, é simplesmente despertar em vocês leitores, uma reflexão de como podemos ser mais igualitários, mesmo tendo a história e a desigualdade social como grandes vilões da nossa história. Me chamou atenção na quebrada, uma placa que indicava que ali, uma costureira estava colocando seus serviços a disposição dos vizinhos e possíveis clientes. Justo ali, onde circula pouca grana, onde os pacotes de arroz e demais mantimentos, são comprados com um esforço triplicado. Ou seja, minhas alusões navegam pela arte de costurar a miséria. 

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Costureira, profissional necessária, exata nos pontos, pespontos, ajustes, construção confecção. Exatidão no corte, no conserto das roupas. Alfaiate também tá ali, lado a lado nessa profissão onde o que mais conta é a precisão das mãos.Mas, quem nos dera que o nosso papo sobre costurar fosse somente nessa esfera, das agulhas, máquinas, tecidos e confeccionar roupas, peça por peça.

Nessa tentativa de consertar a vida, as mãos diversas costuras revelam tristes, lamentáveis e infelizes realidades. A costura da fome, da miséria é tão latente no país que deveria se decretado situação de calamidade. Extrema, sabe? Quantos anônimos costureiros, vivem um zig zag sem limites, no limite entre não ter, e ter pouco. Vão e vem na busca incessante pelo prato, pela comida, pelo alimento que segundo a constituição, deveria ser um direito de todos.

Constituída mesmo aqui no Brasil, está a desigualdade, as linhas abaixo são muitas nessa costura louca chamada sociedade. Uns com tanto, tantos com tão pouco.  Essa é a regra, pobres costurando seus estômagos, e ricos…acima de tudo e todos. no topo. Este poderia ser mais um texto de alegria e sorrisos sem fim. Mas, enfim, não dá para costurar e tapar um buraco tão grande. São milhões de mães, encharcando suas barrigas nos tanques, lavando pra fora. Por uns míseros trocados, situações que nos remetem àquela época sombria da sensação e CASA GRANDE.

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Esse pouco que a mãe sofrida, arrimo único da família, leva pra casa, é mais um ponto da costura diária que a faz acordar todos os dias pegar busão, andar a pé de pés no chão.  Sair pelo sertão, com pouca água, sem copo d’água…simplesmente para dar de comer aos seus, aqueles que nem sequer sabem ainda, por quanto ela passou e muito menos como sobreviveu.

O Sul maravilha também tem seus imensos guetos, costurados em trilha com seus barracos amontoados em vielas, nem parece aquele mesmo que se vê nas propagandas, em reality’s e novelas. Não se engane, aqui nós também vivemos em favelas. Favelados honestos, outros nem tanto. A história explica essa desvantagem que nos deixa em prantos.

Comunidade Frei Damião está entre as mais vulneráveis do sul brasileiro
Comunidade Frei Damião está entre as mais vulneráveis do sul brasileiro (Foto: Arquivo pessoal)

Vagas informais, tráfico recrutador, salário baixo àqueles que tiverem melanina em abundância na cor. Ah! Como eu queria costurar um futuro diferente não só pra quem nasce, cresce, sobrevive e padece na sarjeta. Sabe o que faria? Um imenso retalho com pedaços iguais. Ninguém teria menos, nem mais. Todos nós teríamos um bom caráter, todo mundo sem nenhuma discriminação seria simplesmente, sangue bom.

Imaginem só, crianças crescendo e sendo educadas sem os costumes e vícios que nos dividem e nos classificam. Sem classes sociais, uma única classificação. Sem os conceitos antecipados que até hoje nos identificam. Que sonho! Costurar tudo isso num mundão sem mazelas e atrocidades. Realizar sonhos como o de Martin, onde todos possam de mãos dadas andar para um futuro, onde a maldade seja passado. Onde o presente, nos presenteie de fato como seres racionais, distintos e humanizados. A costura perfeita está em nossas mãos. Nos falta acordar para algo tão simples, mas tão simples…que talvez a gente nem perceba. Nós fazemos parte e pisamos no mesmo chão.

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