Eu ainda era um frangote, como dizemos no popular, quando via subir pela General Vieira da Rosa (rua nova), aquele cidadão muito bem apessoado, barba muito bem feita e, com o terno tão liso que mais parecia ter sido engomado. Sua boina dava aquele “Q” malandreado, de quem vivia o samba raiz do nosso Monte Serrat. 

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Os anos eram oitenta e alguma coisa, quando na antiga venda do Seu Pelado, logo do lado da sede da Embaixada Copa Lord, meu Tio Hélio nos permitiu morar por um tempo. Meu dia a dia era justamente cuidar do movimento, acompanhar o sobe e desce naquelas ladeiras poéticas e históricas. João Ferreira era o nome daquele senhor sorridente que não passava sem me direcionar um sorriso, ou levantar o chapéu para senhoras que por ali passavam. 

Pois bem, cresci aprendendo a admirar os personagens anônimos que fazem culturais e históricas as ladeiras do Maciço do Morro da Cruz. Com certeza, Seu Teco foi uma das primeiras figuras que quis imitar. Queria ter aquela aparência serena, feliz, bonita, galante e firme. 

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Muito mais tarde, já homem feito e comunicador da emissora que trabalho, pintaram as primeiras oportunidades de entrevistá-lo e registrar suas empreitadas junto dos vizinhos para tornar o Monte Serrat, um lugar melhor para se viver. A primeira delas foi sobre a pavimentação que foi feita na comunidade através de multirão. Depois, conheci as velhas histórias de fundação da Embaixada Copa Lord, sobre as lavadeiras da Caixa D’água e, óbvio, sobre seu engajamento nos projetos sociais. 

A manhã desta segunda-feira foi dura e triste pra mim, recebi de sua neta a triste notícia que ele havia partido para sempre. Refleti sobre a dor que me tomava e cheguei a conclusão de que na verdade, eu deveria sorrir. Seu Teco é a própria história, foi o grande responsável pela criação de uma das entidades sociais mais respeitadas do sul brasileiro, foi um baluarte de uma das escolas de samba mais antigas e guerreias do país. 

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O velho e querido Teco, o católico de sorriso fácil, o membro da velha guarda, era a própria história. E como todos sabem, a história não morre. Vou resumir em uma palavra o que significa a sua presença em nossas vidas, meu ilustre. Sabedoria!

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Decidi escrever essas pequenas linhas por volta das 16h, mesmo sabendo pela manhã sobre a sua passagem. Não poderia me permitir agir somente como a pessoa que deu a notícia da morte. Seu Teco, foi e sempre será, a resistência do morro.

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