Crianças e adolescentes aprisionados pelo tráfico e agora por facções criminosas causam tristeza e indignação. Olheiros de bocas, soldados do crime. Com armas em punho, muitas vezes morrem em confrontos. Eles são realidade na Grande Florianópolis e em outras regiões.

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A amplitude da violência do crime organizado diminuiu a expectativa de vida deles. Apreensão, prisão e não raro o tombamento fatal a tiros. Este tem sido o caminho da juventude perdida.

A população parece ter se acostumado com a tragédia infantil e as histórias de famílias desestruturadas. Por que governos e legisladores resistem em dar a devida prioridade ao tema? Bastam a repressão e novas cadeias?

Walace Índio de Farias, 18 anos, morreu em confronto com a Polícia Militar em Tijucas. Seria um dos líderes do tráfico no Morro do Mocotó, na Capital. Sim, líder! O coronel Araújo Gomes, comandante da PM, disse que o conhecia desde garoto pelo envolvimento precoce no mundo do crime.

Em São José, a Polícia Civil tirou uma criança de dez anos das mãos de traficantes. Um familiar dela fora executado por criminosos. Não cumpriu a missão de matar um policial. A mãe fugiu para não ser morta.

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O desembargador Leopoldo Brüggemann, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, narrou em 113 páginas o motor do tráfico de drogas no Morro do Horácio, em voto de sentença condenatória. Os 15 envolvidos pegaram mais de 228 anos de cadeia. Detalhe: crianças e adolescentes eram utilizados pela quadrilha.

"Tá limpo, tá sujo"

Um dos trechos traz o seguinte depoimento de policiais:

“Havia também crianças que não vendiam, mas que estavam ali para correr quando a polícia chegasse, para fazer tumulto e confundir os policiais. Elas começavam a berrar ‘tá sujo’ quando havia polícia no local e ‘tá limpo’ após a saída da polícia”.

Candidatos nas eleições deveriam receber cópia dos autos, das filmagens. Melhor: poderiam visitar as crianças no Horácio ou em centros de atendimento socioeducativo e conferir como elas estão anos depois. Certamente entenderiam a necessidade de ampliar a rede de proteção, os recursos destinados à área e os investimentos preventivos.

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É preciso se chocar

Juízes e promotores afirmam que há falta de vagas e poucas ações de engajamento e aprendizagem em comparação ao tratamento dado ao sistema prisional. Um certo sentimento de que a infância e juventude foi deixada de lado existe em Santa Catarina. Uma das desculpas seria a complexidade da legislação.

Algumas iniciativas positivas estão sendo realizadas, especialmente no norte da Ilha, na Capital, e em Joinville. Mas ainda são pontuais e não regra geral. Ninguém sabe se haverá continuidade dos projetos no ano que vem. É preciso se chocar, se inconformar e não aceitar mais ausências e inoperâncias.

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