O promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco de Presidente Prudente, em São Paulo, investiga a maior facção criminosa do Brasil desde 2005. É tido como uma das principais autoridades no assunto do País. Evidentemente, não anda sem escolta policial e vive sob o constante risco de virar alvo de bandidos.

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Lincoln palestrou na manhã desta quinta-feira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, no V Seminário de Ciência, Tecnologia e Inovação em Segurança Pública.

Durante uma hora, fez um raio-x da facção de São Paulo, traçou desafios para combatê-la e medidas que elenca como prioritárias neste cenário.

Mais uma vez, o promotor alertou sobre o plano dos criminosos de SP em montar base definitiva em Santa Catarina. Motivo: o interesse pelos portos catarinenses e a possibilidade de usá-los para escoar cocaína para o exterior.

– Já houve o interesse pelo porto de Itajaí, até já fizeram operações de tráfico por ali. Em Itajaí também foi preso o Piauí, uma das lideranças, que na época havia comprado um time de futebol local, andava de BMW, tinha casa na frente do mar – ilustrou Lincoln.

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Lincoln destacou a necessidade de o Estado não recuar e seguir forte na investigação e controle, pois ainda prevê riscos. Após a palestra, Lincoln conversou com o DC.

Algumas frases de Lincoln na palestra:

“O PCC é uma grande empresa, como se fosse uma multinacional, e loteou os Estados do Brasil”.

“O Marcola está por riscos de se esvair, de se esfacelar da liderança. A tendência é a troca de comando”.

“Em SP o PCC está em 143 unidades onde estão 202 mil presos. Se eles quiserem poderiam parar São Paulo, o País e países da América do Sul tamanha é a organização”.

“Em Santa Catarina eles têm 540 integrantes e dificuldade para entrar por conta do PGC”.

“Hoje o carro chefe deles são os assaltos em transportes de valores e carros-fortes. Essas empresas não investem em melhorias de segurança”.

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“A vigilância de campo está retornando, com identificação, informantes, vigilância de rua, dos veículos. A polícia precisará se reinventar”.

“O maior desafio é criar ações integradas das polícias estaduais e Ministério Público”.

Entrevista: Lincoln Gakiya, promotor de São Paulo:

"É algo que eles vão tentar fazer"

Ainda há planos da facção paulista em Santa Catarina em razão dos portos e o tráfico de cocaína?

Essa questão de o PCC ingressar definitivamente em SC já vem de anos. Eu identifico a questão dos portos porque isso tem se exemplificado em outros Estados. A polícia local fez um trabalho de identificação dos que vinham entrando, principalmente do Paraná via região de Joinville. Com essa guerra nacional do PCC centrada mais no Norte e Nordeste do País, essa questão de SC ficou adormecida, em segundo plano.

Mas ainda há risco?

Com certeza. Isso aqui é algo que eles vão tentar a fazer, no futuro, assim que for resolvida, equacionada a questão nacional.

Que fatores essenciais o senhor aponta para o Estado refutar a vinda da facção?

A investigação tem que ser constante, permanente e me parece que vem sendo feita aqui. A movimentação criminosa é permanente, não para um dia sequer. O interessante é investigação permanente, o monitoramento do crescimento, ter a movimentação dos indivíduos do PCC e do PGC. Isso não pode parar. Tem que ser esforço diário.

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E em relação à guerra com a facção local de SC. Mandar líderes para fora, no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), ainda é a grande arma?

Uma das armas é você isolar as lideranças. Há os bloqueadores de celulares, pois aqui me parecem que as ordens também são de dentro das cadeias para fora. Em SP avançamos, mas tem as visitas, os advogados e aí temos que ver como você faz para cessar. É importante ter o controle do que acontece dos presídios. Sobre a guerra é importante evitar que ocorra, não deixar a taxa de homicídios subir. Nos Estados em que o PCC atua a violência urbana aumentou muito. É importante evitar que eles não venham.

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