Aos poucos, sem levantar grandes suspeitas, começam a aparecer indícios da presença de facções criminosas do Rio Grande do Sul em Santa Catarina. Os vestígios mais fortes apareceram este mês, em um intervalo de 15 dias, com duas prisões de faccionados gaúchos na Grande Florianópolis.

Continua depois da publicidade

Ambas as capturas foram da equipe da Polícia Civil responsável por investigar o crime organizado no Estado, da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic). A primeira, no dia 10 de julho, de um jovem de 20 anos, de Santa Maria.

Procurado no Estado vizinho por três homicídios entre disputas de facções, estava no bairro Rio Vermelho, norte da Ilha de Santa Catarina. Para policiais da Deic, a presença do fugitivo em Santa Catarina seria como esconderijo. Por enquanto, a polícia diz que não apareceu nenhuma suspeita que esteja envolvido em novos crimes.

A segunda prisão, no dia 25 de julho, foi de uma mulher de 19 anos na Barra do Aririú, em Palhoça. A polícia catarinense afirma que ela integra uma facção de Porto Alegre que trava o domínio do tráfico de drogas naquela Capital e litoral gaúcho.

Nos dois casos, os alvos estavam com ordens de prisão decretadas pela Justiça do Rio Grande do Sul. A diferença no caso da jovem pega em Palhoça é a suspeita que faria a conexão do tráfico de drogas sintéticas de Santa Catarina com Campo Novo (RS). As desconfianças de policiais gaúchos cresceram a partir das constantes apreensões de drogas sintéticas naquele município e região.

Continua depois da publicidade

Houve ainda, nos últimos anos, assaltos a bancos no Sul catarinense praticados por integrantes de facções gaúchas. Delegados experientes afirmam que está nítida a movimentação de bandidos entre os dois Estados. Em uma análise de quatro telefones celulares, a polícia apurou que a facção catarinense deu apoio a uma dessas quadrilhas gaúchas.

O que o crime interestadual e a nova migração criminosa podem acarretar? Gravíssimos problemas à criminalidade se esta realidade não for rapidamente diagnosticada e combatida a tempo de se evitar expansões. Ainda mais agora que o Estado, enfim, está conseguindo reduzir os homicídios e roubos.

São pontos chaves nesse cenário a integração entre as polícias e os trabalhos de inteligência. Na Polícia Civil, eles acontecem em grupos por aplicativos e contatos telefônicos entre delegacias especializadas. Na Polícia Militar, há um trabalho forte de atuação nos pontos de divisas.

Hoje, Santa Catarina tem dez facções criminosas mapeadas no sistema prisional, conforme a inteligência da Secretaria da Justiça e Cidadania. Nenhuma delas é do Rio Grande do Sul. Duas apresentam forte atuação: a surgida no próprio Estado e a de São Paulo.

Continua depois da publicidade

Por anos, na década de 2000, as autoridades catarinenses negaram a existência das facções, a ponto de as investigações complexas serem retardadas. As transferências de chefes do crime organizado só aconteceram com força para presídios federais a partir de 2013, quando a violência bateu na cara da sociedade com atentados nas ruas. A primeira sentença pesada contra os criminosos saiu em 2014, em Blumenau.

Leia mais notícias e análises de Diogo Vargas