Bastante grave a declaração da advogada Maria Helena Machado ao Jornal do Almoço sobre a farra do boi em Governador Celso Ramos: “Tenho depoimento que as pessoas da cidade são minoria. Elas vêm de Florianópolis para cá e esses bois são doados por políticos, comerciantes e até por traficantes”, disse a presidente da comissão de direito dos animais da OAB/SC.

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No mínimo justificável a abertura de uma investigação complexa da polícia ou do Ministério Público. Aliás, neste contexto, Santa Catarina deixa a desejar, pois não há nos últimos anos notícias de apurações a fundo de quem promove a farra ou a patrocina – nem os “frutos gerados”. Muito menos de denúncias criminais ou condenações.

Esse assunto não é brincadeira. Nem começou a semana Santa e o Estado já registrou uma morte em Governador Celso Ramos. Um homem de menos de 40 anos foi vítima. As mortes, por sinal, se repetem. Vidas estão sendo perdidas – e não só dos animais.

Em 2016, um jovem de 25 anos, cheio de vida, conhecido como “mano nota mil”, pescador, também morreu em uma farra do boi em Canto Grande, na praia de Bombinhas. O que mais entristece é que os próprios farristas são vítimas. Amigos, familiares, ninguém consegue evitar o pior num círculo vicioso alimentado por tradição, álcool, adrenalina, valentia e até inocência.

Soltar o boi é como os nativos se referem a cada período de Quaresma. Em mangueirões ou nas ruas, as noites e madrugadas passam a ser de euforia diante do proibido, da chegada da polícia. Já houve sérios confrontos no passado, prejuízos físicos, materiais e tragédias em praticamente todo o litoral catarinense, onde a prática ainda se perpetua.

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Mesmo sendo crime, mesmo a polícia anunciando que irá agir, todo ano é a mesma coisa. Importante dizer que nem todos os nativos a apoiam. Muitos estão cansados, tristes e revoltados. Em Areias de Baixo, em Governador Celso Ramos, ninguém espera que soltem boi este ano. O luto é geral.

A esperança talvez esteja nas futuras gerações. Há anos, crianças e jovens estudantes participam de campanhas educacionais do Ministério Público, Cidasc e a Polícia Militar. Há concurso de redações e palestras preventivas. Este ano, segundo o promotor Paulo Locatelli, há um desejo que as prefeituras assumam maior responsabilidade no combate à farra do boi. Pode ser um tiro no pé ou mesmo um caminho diferente e de sucesso, mas a sociedade precisa fiscalizar, denunciar, ainda mais agora em tempos de redes sociais. Todos devem fazer a sua parte.