Homens e mulheres se enfileiram na delegacia. Na sala do delegado, uma jovem de cabelos longos jura inocência para explicar o motivo de estar na casa do suspeito e é liberada.

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Ao policial, uma outra mulher com filho no colo pergunta:

– Por que ele está preso?

– Ordem do juiz – responde o agente, tentando convencê-la a aguardar.

Envolvimento com organização criminosa, tráfico de drogas, armas, violência, dinheiro ilícito.

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O delegado João Adolpho Fleury, da Central de Investigações do Continente, em Florianópolis, tem se especializado em investigar crimes de facções e surpreende pela quantidade de inquéritos. Diz ainda que faz apurações “in-loco”, sem depender de escuta telefônica. A mais recente operação aconteceu na sexta-feira, novamente no Morro da Caixa.

Ele afirma que, apenas em 2018, a sua equipe fez 404 representações. Destas, 358 viraram procedimentos autorizados pela Justiça, ou seja, mais de 80%, um feito e tanto. São pelo menos 109 prisões temporárias e 65 prisões preventivas.

– Falei para a juíza: esse é um crime que boa parte das pessoas não vê, as que têm emprego, carro próprio, família constituída. Muitos trabalham para facção, outras por subsistência. Acabam não saindo mais. Notamos também um grande número de adolescentes seduzidos por essa vida.

Estado demorou para reconhecer

As facções surgiram em Santa Catarina no começo dos anos 2000, nos presídios. Elas são o grande combustível da criminalidade.

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O Estado demorou para admitir a existência delas, algo só reconhecido de 2010 em diante. Com isso, houve a proliferação da ideologia do crime, as ações de controle foram lentas e um preço caro à sociedade.

Hoje, a sensação é que a polícia faz a sua parte no combate, as operações prioritárias acontecem, mas é fato também que está “enxugando” gelo e lotando presídios.

O desafio de Carlos Moisés

O governador eleito Carlos Moisés (PSL), coronel da reserva, pode ter na segurança pública o seu maior desafio logo em janeiro. A anunciada gestão compartilhada na pasta carece de robustez e liderança.

Até agora, ninguém fora da equipe de transição imagina como funcionará na prática a secretaria sem um secretário. A blindagem das autoridades em não explicar o que vem pela frente talvez seja uma defesa natural diante das dificuldades.

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Haverá enxugamento dos funcionários na secretaria? E o amplo complexo da segurança no continente, com três torres, promessa de integração, continuará com cara de elefante branco?

Primeira reunião

Nos próximos dias, é esperada uma reunião entre os futuros comandantes das polícias Civil, Militar, Bombeiros e Instituto Geral de Perícias (IGP).

Nomes poderão ser anunciados e os comandos deverão receber as primeiras orientações. De cara, uma tarefa nada fácil: definir quem será o “linha de frente” do grupo de gestão no primeiro ano do rodízio entre as instituições. Sem sobressaltos nem crises.

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