Era começo da década de 2000. Aflorava na opinião pública de Joinville a insatisfação com as quadrilhas de arrombadores de caixas eletrônicos. Os conhecidos “caixeiros”, surgidos na cidade nos anos 1990, estavam cada vez mais em operação fora do Estado. Retornavam de viagens esbanjando dinheiro.

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Festas agitadas, carrões importados, compras de caminhões e mansões e muita onda com mulheres bonitas. Havia um falso glamour entre jovens, principalmente de bairros da zona Sul.

Associação criminosa, lavagem de dinheiro, sonegação, furtos interestaduais. Uma série de crimes interligados. As primeiras reportagens aprofundadas a respeito foram em 2002. “Um crime em nome de fama, carrões e mulheres”, foi a manchete do jornal A Notícia de 11 de agosto daquele ano, assinada pelo jornalista Marco Aurélio Braga. “Arrombadores de SC agem em todo o País”, alertava A Notícia em 12 de agosto de 2002, em apuração deste colunista.

A polícia agiu. Ainda em 2002, Joinville foi palco da maior operação policial contra os arrombadores: 44 jovens foram incriminados pela Polícia Civil, os carrões apreendidos e expostos no pátio da delegacia. A prisão da quadrilha virou notícia nacional. Enfim, estavam presos os ladrões de bancos que cruzavam Estados com técnicas locais desenvolvidas em fábricas, só que utilizadas para o crime.

Depois, caixeiros denunciaram policiais civis por extorsão e os donos da pioneira investigação acabaram exonerados da polícia. Nos anos seguintes, os principais arrombadores cumpriram penas, mas não por muito tempo e voltaram a agir. Houve prisões, alguns morreram em confrontos com a polícia – vale o registro que a violência nunca foi marca registrada dos bandos.

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Para inquietar este enredo de crimes, a partir de 2011, uma onda de terríveis ataques a bancos se espalhou no pacato interior catarinense. Na visão de moradores: obra de caixeiros. Na verdade, eram perigosos assaltantes do Rio Grande do Sul e Paraná.

Agora, em 2018, a imprensa nacional carimbou uma nova cruzada dos caixeiros pelo Brasil. O ponto de partida foi um dossiê da Polícia Civil do Distrito Federal, que mapeou dezenas deles e prendeu boa parte no Rio de Janeiro.

Antigos caixeiros apareceram novamente, entre eles alguns veteranos que denunciaram na época policiais de Joinvile. Em meio ao ressurgimento, há perguntas importantes:

Por que nunca se conseguiu frear essas quadrilhas? Por que Joinville segue levando uma fama ingrata por exportar esses criminosos?

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Legislação tímida para furtos, falta de continuidade das investigações ao longo dos anos pela própria polícia catarinense, entre outros fatores. O fato é que a fábrica de caixeiros se manteve.

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