Há poucas semanas, policiais civis se disseram surpreendidos com o corte de 20% na cota de combustível das viaturas. A chefia usou o termo racionamento para justificar e garante ter detectado excessos. Só que este não é o único indício de que realmente as finanças estão apertadas na segurança pública catarinense.

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Esta realidade se dá justamente agora, quando o Estado se vê diante de um brutal avanço de assassinatos nas duas maiores cidades, Joinville e Florianópolis, e um interminável confronto de facções criminosas.

Ofícios da Secretaria de Segurança Pública (SSP) dos dias 22 de janeiro deste ano e 30 de outubro de 2017, que estão nas mãos do juiz Edison Alvanir Anjos de Oliveira Júnior, de Bom Retiro, na Serra, reconhecem situação de escassez de recursos e até impacto no orçamento da área.

O magistrado afirma que o município fez solicitação ao Estado para a implantação do programa Bem Te Vi para instalar câmeras de videomonitoramento nas ruas. A SSP declinou a possibilidade, mesmo com mais de R$ 100 mil que o poder público local havia separado para a compra de dez câmeras com custo zero à secretaria – ao Estado caberia apenas o pagamento do servidor para cuidar do monitoramento.

“A utilização de câmeras iria suprir sobremaneira a falta de efetivo policial, pois a cidade tem apenas dois PMs por dia e Bom Retiro enfrenta pela terceira vez a instalação de uma organização criminosa ligada ao PGC”, lamenta o juiz.

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Araranguá, no Sul, também teria tido a negativa do mesmo pedido em 2017. A resposta foi a mesma: o Estado não vai ampliar as cidades atendidas nem expandir o sistema nas já contempladas. Além do relato da dificuldade financeira, chama a atenção a informação de ação de facção criminosa em Bom Retiro, cidade de 10 mil habitantes. Ou seja, o crime organizado também está buscando expandir a atuação no interior do Estado, historicamente marcado pelo clima pacato e de ordem.

Encabeçada pelo professor Alceu Pinto de Oliveira Júnior, a nova gestão da Segurança terá de encarar o crescimento da violência, os pedidos de socorro dos municípios e bater nos cofres do Estado atrás de mais recursos. Antes, é preciso trazer a público o real diagnóstico da área, a situação por exemplo dos vários complexos policiais milionários construídos e os que ainda estão em obras. Caso contrário, poderá ser tarde demais e ninguém deseja a sombra de um Rio de Janeiro, cujo cenário tanto apavora os brasileiros nem ver elefantes brancos pelo Estado.