Diretor da Defesa Civil de Santa Catarina durante a enchente de 2008 e fora da área atualmente, o coronel da reserva da Polícia Militar Márcio Luiz Alves tem uma visão crítica do papel seguinte ao maior desastre natural do Estado:
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– O tema Defesa Civil se mecanizou achando que a máquina substitui o conhecimento. As pessoas reagem de forma equivocada. Reagiram ao desastre com tecnologia, equipamentos. (O mais importante é) humanizar as pessoas. Elas precisam conviver com isso, saber que não estão livres, saber que quem mora em Blumenau mora dentro de um Vale muito perigoso.
Major na época, Alves, 53 anos, se refere principalmente aos investimentos do Estado na construção do Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd) da Defesa Civil, em Florianópolis, e nos radares meteorológicos. Inaugurado em maio como referência no Brasil, o Cigerd custou R$ 44 milhões.
A orientação necessária
Dez anos depois, ele avalia também que pouco se faz ainda em prevenção no sentido de orientar a comunidade a não construir em encostas e beira de rio.
– As pessoas aprenderam vivendo na pele. E as novas gerações? Temos crianças que nasceram naquele evento, mas só ouviram falar. Será que foi dito a elas a importância de construir em área segura, o que fazer e para onde ir quando detectar o problema?
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Suplente de vereador, Alves (MDB) assumiu recentemente na Câmara de Vereadores da Capital. No governo do prefeito Gean Loureiro (MDB), foi secretário de Cultura e Esporte desde 2017.
Ao relembrar da tragédia com mais de 130 mortes, conta que foi o fato de mais marcas em sua vida. Recorda, como se fosse hoje, dos meses de chuva ininterrupta à enxurrada em novembro, do primeiro alerta feito por Ilhota, das ligações em pânico de prefeitos – um deles dizia ter corpos em um caminhão frigorífico e nenhum local para enterrá-los.
"Sorvete derretendo"
Ressalta também a comparação do então governador Luiz Henrique da Silveira (MDB), falecido em 2015, sobre o solo e os deslizamentos que “pareciam sorvete derretendo ao sol".
– Foi uma sequência de coisas. Em setembro, a gente tinha uma previsão climatológica de período chuvoso. Mas aquela consequência que foi ninguém imaginava – reconhece.
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O pedido de ajuda
Para ele, o pedido catarinense de ajuda externa foi a decisão mais responsável. Todos os Estados apoiaram diante da comoção nacional, além de outros países. Alves afirma também que se não fossem os helicópteros no resgate e a atuação dos órgãos de segurança o número de vidas perdidas seria bem maior.
Realmente, Santa Catarina acordou para a necessidade do transporte aéreo e hoje todas as forças de segurança contam com o serviço em operação.
Memórias para sempre
A tragédia, infelizmente, guardará memórias para sempre. As mais terríveis, sem dúvida, são as dos familiares e amigos dos que partiram.
O espírito coletivo de alerta e prevenção a todo instante se faz necessário, com capacidade tecnológica, sim, e também com o conhecimento geral em prol do bem maior: a manutenção de vidas.
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