Prisões mais qualificadas, necessidade de ação mais enérgica em situações de risco ao policial e à comunidade, além do próprio mercado criminoso do tráfico de drogas.
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Na avaliação do secretário de Segurança Pública, o advogado e doutor em direito penal, Alceu de Oliveira Pinto Júnior, esses fatores explicam o aumento dos confrontos com mortes envolvendo as polícias Militar e Civil em Santa Catarina.
São 90 casos de janeiro a novembro em 2018 contra 66 no mesmo período de 2017.
Alceu afirma que há trabalho psicológico aos policiais e que o número poderia ser ainda maior não fosse a ação das inteligências.
Confira a entrevista por telefone dada na manhã de hoje (4):
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A que se deve o aumento das mortes em confrontos?
Foi mudança de estratégia que a gente fez no início do ano. As polícias, tanto a Civil quanto a PM, com funções e atuações diferentes, buscam um outro tipo de criminoso. As prisões estão sendo mais qualificadas. Claro que não se abandonou aquele pequeno traficante que fica na boca de fumo. Mas o trabalho de inteligência e a orientação é para buscar o fornecedor do fornecedor, um terceiro nível àquele traficante que está vendendo na rua. Só que o problema desse tipo de criminoso é que ele está melhor armado, escondido, protegido. Não é aquele que a polícia chega, dá o atraque na rua e coloca no camburão. São gente com penas muito grandes, turma que não tem muita coisa a perder e até pelo comando que exerce são mais violentos e acaba gerando esses confrontos.
Os casos ocorrem em lugares recorrentes, a Papaquara, por exemplo. Não há uma ansiedade da polícia na resposta ao crime e os confrontos acabam acontecendo?
Não. Porque se fosse seria só no início essa ansiedade. Hoje essa resposta está bem dada: a diminuição dos índices, com resultado positivo suficiente. É que realmente há uma mudança de estratégia, o que a gente tem chamado de prisão qualificada.
De qualquer forma esses confrontos, o senhor mesmo já relatou, não são o ideal. Como o senhor vem trabalhando o assunto?
Temos trabalhado bastante. Inclusive com apoio psicológico para os policiais que participam com ações mais complexas que envolvem confronto para fazer apoio e que a violência pela qual ele participou não gere mais violência e trauma ao policial.
A secretaria faz alguma análise dos casos?
Não. Tem uma corregedoria específica, os inquéritos para cada caso, cada ocorrência específica. Tanto na Polícia Civil quanto na Polícia Militar.
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Houve queda de 20% nos homicídios este ano no Estado. De alguma forma esse número está ligado aos confrontos?
Está ligado. Porque essa prisão qualificada são chefias, são lideranças. Quando a gente retira da rua, tem uma série de prisões. Tinha uma média de quatro, cinco prisões ano passado. Hoje trabalhamos com dez prisões por dia. A maioria está presa. Alguns casos onde há reação, onde coloca a vida do policial e da comunidade em risco, é necessário uma ação mais enérgica, que infelizmente acaba gerando o confronto. O trabalho de inteligência vem sendo tão bem feito que tem se evitado confronto, apreendido arma em momentos específicos, com infiltrações. Tenho certeza que isso tem diminuído a necessidade de confronto.
A PM desenvolve a Operação Mãos Dadas (em comunidades críticas de Florianópolis). Há resultados?
Sim, o reflexo é impressionante. Tenho recebido relatos, acompanhado no local, em algumas áreas. A palavra da comunidade quanto a aproximação é impressionante. Foram escolhidos oficiais muito específicos para atuar junto, não com a função de repressão, mas polícia de prevenção. O coronel Araújo Gomes (comandante-geral da PM) foi muito feliz nessa escolha.
O senhor acredita que a realidade dos confrontos tende a cessar?
Enquanto houver crime, consumo de droga, esse mercado que existe, vamos ter sempre a atividade criminosa e infelizmente alguns confrontos também.