Com alta quilometragem, pneus gastos e elevação da necessidade de manutenção, as viaturas da Polícia Militar compradas nos últimos grandes lotes, em 2014 e 2013, começam a gerar reclamações de policiais e queixas da Associação de Praças (Aprasc) em Santa Catarina. Há situações pontuais em Joinville e Florianópolis, onde alguns veículos estariam parados em batalhões, sem rodar, à espera de conserto e outros, seguidamente indo parar em oficinas. O Estado não tem um levantamento sobre a quantidade de veículos da corporação nesta situação.
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Na Capital, servidores relataram à reportagem que há carros da PM beirando 300 mil quilômetros rodados no norte da Ilha, área do 21º Batalhão. A preocupação é ficar sem veículo para atender chamadas de ocorrências na região, considerada extensa.
– Volta e meia dá problema, tem policial ficando no quartel sem trabalhar porque não tem viatura – diz um PM da Capital.
Em Joinville, o estado dos veículos seria crítico, em especial, no 8º Batalhão. O estacionamento do quartel, diariamente cheio de viaturas paradas, revela demora para manutenção, observa a Aprasc. Na Rua Tenente Antônio João, no bairro Bom Retiro, a reportagem encontrou ao menos cinco viaturas no lado de fora de uma oficina.
Nas duas cidades, a defasagem seria maior nos carros do policiamento ostensivo, os que atendem ocorrências do dia a dia. Indagado durante a semana, o comando-geral da PM informou que não iria se manifestar sobre o assunto.
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– Temos uma situação pontual em algumas cidades em que a última frota foi adquirida pelo Estado em 2014 e 2013. Há um desgaste natural, as viaturas rodam 24 horas. É importante manter em boas condições para o atendimento ser ágil e permanente, além de garantir a condição de trabalho do policial – alerta Elisandro Lotin, presidente da Associação Nacional dos Praças (Anaspra) e diretor da Aprasc.
O presidente da Associação de Oficiais Militares da PM (Acors), Sérgio Luís Sell, sugere que a frota precisa ser permanentemente renovada, mas não vê nada de excepcional no momento.
Entre outubro e novembro do ano passado, o governo do Estado entregou 40 novas viaturas à PM em investimentos de R$ 4,7 milhões. Os veículos foram distribuídos apenas às unidades especializadas como Bope, Choque e Tático (PPT). Também foram compradas motocicletas para as equipes de rondas ostensivas (Rocam), iniciativa que tem trazido agilidade nos atendimentos.
Convênios municipais garantem veículos
Há cidades em que a PM circula com viaturas novas graças a convênios municipais com recursos vindos de multas e taxas de trânsito. Em Palhoça, na Grande Florianópolis, desde 2016 foram entregues 24 veículos às polícias Civil e Militar e a agentes de trânsito. Jaraguá do Sul e Blumenau, no Vale do Itajaí, são outros exemplos. Já em relação às verbas estaduais haveria dificuldade até para a troca de óleo, lamentaram alguns policiais ouvidos pela reportagem.
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A Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse, por meio da assessoria, que não há previsão de aquisição de viaturas com o Fundo da Segurança Pública, mas que houve compras recentes de motocicletas para a Polícia Militar. Sobre a manutenção da frota, a SSP destacou ser questão de gestão e que a PM, além de convênio, se vale de serviços em várias regiões com oficinas.
“É necessário fazer a conta custo x benefício”, diz Eugênio Moretzsohn, coronel da reserva
Qual a sua percepção da frota da PM em comparação a outros Estados?
No quesito apresentação geral das viaturas, durante o policiamento nas ruas, percebo que estão sempre limpas e com as luzes funcionando, o que indica preocupação com a manutenção de primeiro escalão, fundamental para a operacionalidade da frota.
Qual o tempo de uso ideal ou indicado para uma viatura policial?
Há instituições que tentam renovar suas frotas de forma que a viatura não ultrapasse a marca de cinco anos, pois, após isso o valor dela nos leilões públicos é depreciado (exceção para viaturas raras e muito antigas, bastante disputadas por colecionadores). O fator determinante não é a idade dela, nem sua quilometragem, mas, sim, seu estado de manutenção e a disponibilidade de peças de substituição no mercado.
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Vale a pena o Estado mantê-las rodando e arcando com as manutenções?
Os motores atuais das viaturas nacionais, se adequadamente manutenidos, podem durar 500 mil quilômetros ou mais, o que também ocorre com a frota de táxis. Os problemas maiores são o conjunto da suspensão destruída por buracos, quebra-molas e obstáculos diversos. É necessário fazer uma conta: se a diagonal custo x benefício indicar que a manutenção da viatura está acima da média, ela deve ser retirada do patrimônio.
Qual viatura é a mais operacional para o policiamento?
A motocicleta pela agilidade insuperável, flexibilidade de emprego, relativo baixo custo de aquisição, pouca exigência de manutenção, baixa assinatura visual (silhueta pouco visível, o que favorece a aproximação e a abordagem). Na Colômbia, durante os embates com as FARC, a polícia local utilizava motocicletas com o segundo homem na garupa, armado de fuzil ou escopeta. A motocicleta é tão eficiente no combate ao crime que é o veículo mais utilizado pelos próprios criminosos.
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