É desolador no meio de uma operação policial, no corre corre das viaturas, do entra e sai de agentes, ver uma criança de menos de dez anos perguntar no corredor da delegacia: “Cadê o meu pai?”.
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O pai era um dos 22 presos da Operação Headhunter ou “Caçador de Cabeças”, desencadeada pela Polícia Civil na área Continental de Florianópolis, na quinta-feira, contra o tráfico de drogas e a associação criminosa.
Do lado de fora da 3ª Delegacia de Polícia, dezenas de mulheres, algumas mães com filhos. Dentro, a polícia apresentava dinheiro do tráfico, mais de R$ 20 mil em notas de cem reais, arma, carregadores e anotações da venda de drogas.
Os alvos haviam substituído as lideranças e tomado a frente no comércio ilícito dos morros da Caixa e Maloca. Historicamente, as duas comunidades são dominadas por traficantes, a maioria com a lei da violência. Desde o ano passado, elas são vizinhas da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina, inaugurada com as suas três imponentes torres.
De volta ao menino que entrou na delegacia, cujo ato foi testemunhado por jornalistas. A cena vale algumas reflexões. O garoto seguirá tendo o pai como referência mesmo ele estando preso? Que vida seguirá a partir deste exemplo? O amor familiar será mantido ou cairá ele em uma revolta contra a polícia? A mãe dirá que fora preso por fazer a coisa errada?
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Quem acompanha um pouco de perto o ambiente de segurança pública e a esfera criminal percebe que algo profundo deve ser feito. Passou da hora de mudar este enxuga gelo do tráfico.
A polícia prende, alguém toma o lugar na boca. A polícia vai lá e prende de novo. Não demora e surge um novo patrão do ponto. Isso quando as ações não acabam em mortes.
Pelas estradas, nas últimas semanas, mais de seis toneladas de maconha foram apreendidas em Santa Catarina. Estavam em um caminhão na BR-470, em Rio do Sul, e em casas em Barra Velha e Itajaí.
Palmas à polícia pelo trabalho. Mas e os donos das cargas? E os barões que financiaram essa comercialização e usufruem do astronômico lucro ao custo de viciados? Talvez sejam pegos no desenrolar da investigação, mas até lá já enviaram outros carregamentos a novos destinos consumidores.
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Na engrenagem da criminalidade, é quase impossível imaginar qualquer resultado macro favorável sem educação, valores familiares, assistência, saúde e talvez o mais importante em tempos de apertos financeiros: emprego.
Basta ver a tremenda lógica de superlotação prisional de Santa Catarina – no restante do Brasil talvez seja ainda pior. Medidas alternativas são defendidas e serão implementadas como o mutirão carcerário. Um alívio do quadro ao menos por um tempo.
Há um custo alto em manter esse ciclo. Sem falar das derrotas rotineiras, das vidas de crianças e jovens perdidas. Infelizmente.