É possível alguém matar barbaramente uma pessoa porque ela mexeu com o cachorro da outra? Segundo a Polícia Civil, todos os indícios e depoimentos apontam que foi essa a razão pela qual o professor indígena Marcondes Nambla, 36 anos, foi morto de forma covarde e a pauladas em Penha.
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O homem identificado por policiais como o autor do crime é Gilmar Cesar de Lima, 22 anos, natural de Blumenau. Ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça e até esta sexta-feira era considerado foragido – escapou inclusive de um cerco policial em uma casa na noite de quinta-feira, em Gaspar, conforme informou o delegado-geral adjunto da Polícia Civil, Marcos Ghizoni.
O assassinato teve repercussão nacional durante a semana, sendo veiculado em reportagens nos principais telejornais do país. Marcondes era uma das lideranças da aldeia Xokleng em José Boiteux e tinha um histórico de dedicação à educação.
A polícia afirma que o autor do crime já tinha mandado de prisão em aberto por uma tentativa de homicídio, além de acusação de agressão doméstica. Nestas circunstâncias, como estava em liberdade?
Em Penha, uma testemunha contou à polícia ter indagado o homem após vê-lo desferir as pauladas contra o índio. Ouviu como resposta que ele havia mexido com o seu cachorro, um rotweiller que também aparece na filmagem. Não bastasse a banalidade do espancamento, o autor filmado ainda retornou a golpear o índio ao perceber que a vitima ainda não agonizava completamente.
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Tempos cruéis. Afinal, por que tanta raiva e ódio a ponto de tirar a vida de alguém desta forma? Por mais que o indígena tenha feito algo – supostamente alguma provocação ou estivesse em seu estado de saúde não normal –, nada justifica tamanha covardia. Por enquanto, não há informação sobre intolerância racial neste trágico enredo.
Com 22 anos de atuação em júris populares e atuante na área criminal em Santa Catarina, o promotor de Justiça Andrey Cunha Amorim mostra preocupação com o aumento da violência e a forma como ela tem se manifestado.
– Há uma progressiva escalada da criminalidade. Antigamente, as mortes eram por briga de bar, uma traição descoberta. Hoje em dia são mais banais. A vida perdeu a importância que tinha. Havia júri uma vez ao mês, agora é toda semana – ilustra.
O promotor ressalta ser importante esclarecer se houve algum tipo de problema ou discussão anterior entre a vítima e o agressor e algo que envolvesse o cachorro. Aparentemente, a filmagem captada em via pública não mostra discussão e sim as constantes pauladas contra o indígena, que em nenhum momento oferece qualquer tipo de reação.
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O contexto de foragidos e fugitivos no Estado por crimes é ainda mais grave em um panorama estadual. A Polícia Civil de Santa Catarina não conta com delegacia de capturas, ao contrário de outros Estados. Assim, prender pessoas com mandados de prisão se torna missão específica de cada delegacia, que então precisa elencar prioridades e tempo entre tantos outros trabalhos do dia a dia.