Florianópolis vive o inferno da violência urbana nos últimos dias. Ou melhor, a Capital está sentindo finalmente o pavor do conflito das facções criminosas que acontece na realidade desde o começo do ano. Basta lembrar que já são mais de 160 assassinatos de janeiro a dezembro, um número recorde na história da cidade, sendo que mais de 80% das vítimas tinham relação com o tráfico de drogas, conforme estimam policiais civis.
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A sensação da criminalidade batendo à porta da ilha da magia tem uma explicação notável: as mortes saíram das zonas de risco, da periferia, das áreas conflagradas e atingiram agora o asfalto.
O asfalto no meio policial é uma gíria utilizada para zona de classe média/alta em uma expressão muito conhecida no Rio de Janeiro quando a violência desce os morros. Pois aqui os acontecimentos se repetem com grau assustador desde a semana passada. Primeiro foi um tiroteio na região da Secretaria de Segurança Pública, no Continente, causando medo até mesmo dentro da secretaria com as rajadas de fuzil em plena tarde.
Depois, criminosos passaram atirando contra alvos que estavam em um ponto de ônibus na frente de um shopping center na SC-401, à noite. No último domingo à tarde, houve uma tentativa de execução na Avenida Beira-Mar Norte, talvez o fato com mais repercussão por ser na via movimentada e valorizada da Ilha.
Na manhã desta terça-feira, a população da Capital acordou com imagens de um novo tiroteio, desta vez na Avenida da Saudade, que leva ao norte da Ilha. Com exceção do crime de domingo, em todos eles houve mortes.
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Enquanto o Estado e a Secretaria de Segurança Pública continuam sem deflagrar uma forte ofensiva, o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (PMDB), fez um apelo pela vinda de 400 novos policiais – na quarta-feira a PM fará a formatura de mais de 900 PMs, mas deverão ser destinados apenas 109 policiais para a Capital.
A reivindicação de Gean é pertinente, ainda mais agora na proximidade da temporada, embora especialistas apontem que somente incremento no policiamento não resolverá o problema da segurança pública. É unânime nacionalmente a constatação de que apenas discutir aumento de efetivo nas polícias não será suficiente.
Um plano macro para a área se faz necessário com o fortalecimento das investigações do crime organizado e dos homicídios e a integração das inteligências em uma força-tarefa, tendo em vista a situação de crise instalada. Também são cruciais as ações no sistema prisional onde estão os chefões do crime – muitas vezes são quem autorizam a matança nas ruas -, o envolvimento do Judiciário e Ministério Público e políticas públicas nas comunidades conflagradas, talvez esta a mais importante.
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